No outro dia fui a um comício da Palin. Saí de casa por volta das 4 da manhã, perdi-me no meio da imensidão da Pennsylvania, e achei-me numa cidade-vila americana, daquelas onde ou se trabalha na fábrica ou se é polícia (intuição minha).
Esperei duas horas numa fila de republicanos ferrenhos.
Isto foi muito instrutivo. À minha volta, republicanos brancos esperavam calados ou tecendo comentários sobre o mundo em geral e o Obama em particular. Haviam cartazes a dizer "we pray for you, Sarah" e uma raparinha loirinha que não deve saber ler tinha um que dizia "My name is Reagan and I'm voting for Sarah". Houve umas senhoras que tinham visto na internet que o Obama tinha forjado a certidão de nascimento. "Hum, hum", parece que o tipo nem americano é.
À medida que a fila crescia, cresciam os protestos contra a Palin. A consciência de grupo começou a despertar quando, do outro lado da rua, uns tipos pro-Obama assumiam a sua irreverência. É claro que isto foi o ponto alto da espera, para mim e para todos os envolvidos. Mas os republicanos querem tudo com ordem, muita ordem.
As entradas eram controladas por bilhetes que, apesar de gratuitos, não eram dados à revelia, só a pessoas que a qualquer momento não gritariam qualquer coisa sobre a guerra. E pessoas foram expulsas da fila por gritarem contra os tipos pro-Obama.
A espera em si foi um pouco angustiante. Sentia-me verdadeiramente uma espia, prestes a ser denunciada pelo seu sotaque europeu.
O comício em si compensou a angústia. Se alguma vez viram a Palin a falar sabem que a escolha dela para VP é controversa, mesmo dentro dos republicanos. Controvérsia neste caso quer dizer que a tipa parece assustadoramente ignorante. Este comício fez-me entender que o que para uns é falta de qualificações, para outros é as qualificações que se conseguem entender.
A Sarah foi apresentada como a pessoa que "talks the talks because she walks the walk" e começou o discurso a dizer que o marido era exactamente como as pessoas que assistiam ao comício - hand-workers.
É claro que isto foi o ponto alto. A partir daqui, seguiram-se umas baboseiras sobre independência energética, como se o "clean coal" e os "untapped resources of Alasca" fossem já para amanhã. E, sim, havia pessoas a cantar "Drill, baby, drill".
O discurso contra o Obama centrou-se em ele ser a favor do aborto. E em nunca ter dito que quer que a América ganhe a guerra do Iraque.
Daqui seguiu-se para o argumento puxa-lágrima, porque a Sarah vai cuidar muito das criancinhas deficientes. Os seres humanos precisam de cuidar dos mais frágeis - desde, claro, que eles não sejam crianças iraquianas.
Que a verdade seja dita, não achei a forma do discurso especialmente má, dado ter sido entregue a uma multidão de apoiantes. Isto é, foi tão má como todos os que vi até agora, unem a bota com a perdigota e depois dizem "o meu partido é bom".
No final, houve uma corrida ao autógrafo, e a Sarah assinou muito papelucho.
E, enfim, foi isto. Ao meio dia estava de volta a casa.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Eh!Eh!Eh!
Deve ter sido interessante.
Vi o debate dela com o Biden e as entrevistas, e provei um pedacinho daquilo que viveste esse dia.
Também vi um videozinho no youtube a respeito dessas filas de espera:
http://www.youtube.com/watch?v=itEucdhf4Us&eurl=http://www.huffingtonpost.com/2008/10/09/mccain-palin-rally-attend_n_133240.html
Se viste ao vivo sequer metade do que aqui está...
Que tristeza. Mas eles andam ai, sem duvida.
A minha fila era mil vezes mais simpatica. Ouvi um ou dois comentarios racistas, no maximo e, como disse, houve um tipo que foi expulso por reagir contra os protestantes pro-obama.
No geral, acho que houve mais comentarios e preocupacao sobre pessoas que estavam a cortar a fila.
Mas se ja na minha fila me senti desconfortavel (apesar de nao poder apontar nenhuma culpa a crowd) nesta entao nao sei como me sentiria. Ha um senhor que apelida os pro-obama como "european socialists" como se estivesse a dizer "filhos da puta".
No entanto, e o que e mais triste, esta baixeza e promovida pela Palin e pelo McCain assumidamente.
No comicio a que fui a Palin manipulou a posicao do Obama em relacao ao aborto ate ser obvio q ele era um baby killer (dp vi o Obama explicar mts das coisas q ela tinha dito num debate). Isto num tom de fundamentalismo cristao que ate a mim me impressionou.
Desvirtuou completamente a posicao dele em relacao ao Iraque, ate a oposicao dele a guerra ser anti-americana (sugestao minha).
E no debate McCain-Obama, o McCain, mais uma vez, dp de se mostrar triste por o Obama apoiar anuncios negativos, criticou-o de se dar com terroristas.
Enfim. Esperemos q isto seja apenas o desespero republicano na face de perder as eleicoes.
E, para terminarmos num tom de surrealidade maxima, este video, que vi mesmo agora:
"afinal a crise e provocada por terroristas" com Chuck Norris
http://blog.wired.com/business/2008/10/economic-downtu.html
Enviar um comentário