Na última semana fiz duas directas devido a imaturidade estudantil, que é como quem diz: lembrei-me dos prazos só mesmo porque não os podia esquecer. Andei na boa vai ela, pois bem.
As férias acabaram. A adaptação à América continua.
Os esquilos já não são fofinhos, são a praga de estimação.
A casa já não é nova, é fria e às vezes parece vazia.
Já estou farta de dizer "I'm not american" a estudantes pro-obama à caça do voto.
Já comi sopa congelada e gostei.
Já vivi a quinti-essencia da festa americana, quando polícias entraram numa casa privada e dispersaram o pessoal. Sem mandato, claro. Com lanterninhas e autoridade, obviamente. Sim, havia barulho e os vizinhos, coitados, queriam dormir à meia noite. But that's not the point.
Começo a perceber os intrincados processos de absorção de emigrantes, as atitudes de defesa com que as pessoas se armam num contexto alienigina.
Estar na América é fundamentalmente diferente de estar na União Europeia. Talvez este sentimento seja agudizado por nunca ter estado a viver num país estrangeiro. Mas mantenho que há diferenças de fundo. Só aqui me apercebi o quanto me sinto portuguesa e europeia (mesmo quando racionalmente sei que a expansão é um debate que põe meta-dúvidas sobre o tamanho das instituições).
Aqui há umas leizinhas especiais e complicadas para pessoas como eu, que não votam, só podem trabalhar depois de complexas burocracias, e que podem ser expulsas.
Pessoas como eu não têm história, tudo aqui é novo, e não há refúgio. Não há família, amigos de longa data. Tudo isso se cria, claro, mas é como se sem raízes ficassemos mais leves e anódinos.
Uma reacção a esta sensação de separação invísivel é comentar a estupidez dos americanos, a má comida, etecetera etecetera.
Lamento, mas não vejo americanos mais estúpidos que o português normal. A minha cabeleileira estava a escrever um livro, e as pessoas com quem falo, em geral têm hobbies e são informadas como qualquer estudante universitário. É claro que não contacto muito com o americano médio, mas também nunca contactei assim tanto com o português médio que, por falar nisso, é provavelmente analfabeto.
E a comida não é de todo pouco saudável em si. Existe sim, uma propensão para comer demais: molhos a mais, quantidade a mais, artificialidade a mais. Mas também existem os restaurantes biológicos, as hipóteses vegetarianas, sopas, saladas, variedade.
A outra reacção é agir como se estivessemos em Portugal, mas na América.
É claro que ando à procura da minha versão da terceira...
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4 comentários:
É um bocado desviado o meu comentário... mas mal te referiste às "leizinhas", veio-me logo à cabeça a ideia de cidadão descartável, que no post que abaixo edito (cheio de cortes, mas com link pró original), é bem explícita. É sobre a suíça e as suas leis de estrangeiros.
Beijos grandes,
a.
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"«Há milhoes de imigrantes no país mais xenófobo da europa????? que contra-senso!!!!!»
Não é contra-senso, é uma balança de extremos. Imigras fazem guito pa suiça pq sao baratos. vao pa la pq ganham mt mais guito do q d onde vêm. Imigras nao dao problemas pq sao descartaveis. não ha proletariado nacional, nao ha o perigo de revoluçoes de esquerda nem coisa nenhuma. nao ha desemprego nacional. so ha de classe media para cima, nacional. Com um pacote de leis aprovado em 1931 e que continua hoje ainda em vigor com algumas pequenas alterações, a malta suiça conseguiu fazer com que a grande maioria dos imigras sejam mesmo só estrangeiros, mantendo-os o mais possivel à margem da vida cultural e social suiça, e fomentando e incentivando o contacto das comunidades imigras com o pais de origem e vice-versa, atraves da liberalizaçao do associativismo migrante praí no final dos 50's (bem antes que em frança, por exemplo), e através de acordos de criação de postos diplomaticos dos países remetentes na suiça. Ao mesmo tempo, tanta vantagem nos imigras faz com que haja muitos por la, e ao haver muitos a individualidade e autenticidade suíça é posta em causa e surge o perigo da SOBRE-ESTRANGEIRIZAÇÃO!!! Überfremdung, no original. Sim, a palavra existe.
Enfim. Se há xenofobia na Suíça e se isso leva a que grandes partidos tenham gajos loucos ao ponto de dizer baboseiras dessas, e se tudo isso é assustador, sem duvida, não deixa de ser verdade que é neste minusculo conjunto de pedaços minusculos de terra que trabalham 200.000 portugas, 300.000 italianos, 210.000 amigos de leste, 100.000 espanhois, 150.000 alemães, etc. A Suíça não é xenófoba. A suíça nao existe, se quisermos. Mas nao vamos por aí. A Suíça tem mt gente xenófoba lá dentro, verdade. Que sao os que fazem frente aos muitos pró-imigração, que neste caso, mais que a 'malta fixe', são a malta das empresas e o patronato em geral. Estes sabem muito bem que dá um jeitaço do caralho ter imigras a trabalhar por metade do que um suiço faria! MELHOR: esses sabem bem que é muito bom poder exportar o desemprego em caso de crise económica. Já o fizeram, sim. Imaginem, um país perder 400.000 postos de trabalho, e o desemprego aumentar em apenas 20.000 individuos. Hein? Parece um sonho capitalista. Mas na CH é possível! Aconteceu, na crise do petróleo de meados da decada de 1970. Onde o proletariado é foreign-born, é só vantagens! Não julguem que não ha vantagens para os emigras tb, pq tb há. Onde é que um trolha ganha o equivalente a 2500€ por mes? Ah pois... contratos colectivos da construçao civil na suiça rendem bem. nao rendem pra sempre, mas rendem bem. Ate na hotelaria, onde roubam intensamente os imigras, compensa e mt trabalhar lá. Quem gosta de ter dinheiro para consumir e ter bons carros, vai pra suiça. e gosta."
spectrum.weblog.com.pt/arquivo/2008/10/discos_pedidos.html#more
Sim, quase que adormeço nos seminarios interminaveis a q tive de assistir por causa do meu estatuto especial...
Uma coisa q nao referi q se calhar tb e importance e a distancia, o oceano, o mar e os 700e entre nos e portugal...
beijinhos
cc
Dá-lhe Cris! Estás a viver na América quando esta está a viver um periodo histórico! Vais estar lá durante as eleições, e estás a sentir o caos da crise (será?) quando mais terror ela inflinge.
Já leste Phillip Roth (se calhar não tens muito tempo agora)? Li dele a Pastoral Americana (traduzido para tuga). É muito interessante!
Epa, acho q amanha vou ver um rali da Palin. Depois conto. Nao, nunca li o Roth, mas o nome anda-me a zumbir nos ouvidos.
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