1. Álcool
É estranho mas aqui é Mesmo proibido beber álcool na rua, ou num parque ou num pique-nique, assim só porque apetece. No espaço público não há álcool (God dixit?). A Jenny disse-me que na prática isto resulta em termos inocentes a serem usados como garrafas de vinho. Vem-me neste momento à memória um concerto de rua que tinha um sinal a dizer "no drinking beyond this space" (pareceu-me tão estranho que só agora me faz sentido).
Não há vinho nem cerveja em super-mercados. Temos que nos deslocar a umas lojas especiais e mostrar ID (no meu caso, passaporte) pelo menos teoricamente. Dado que quando vou a festas tenho levado (além de bebidas boas, como sumos) garrafas de vinho para a malta já entrei nestas lojas duas vezes. Têm todas tantas garrafas que a escolha se torna num processo agonizante. Especialmente para quem o vinho é todo igual e sabe a remédio. Em todo o caso, numa não quiseram saber se tinha menos de 18 anos (quiçá o vendedor estaria bêbedo?).
Também em bares se tem que mostrar identificação para beber. Esquisito. Estamos descontraídos a conversar, o tempo passa, o humor fácil surge, a descontracção aumenta, pede-se qualquer coisa e é como se a polícia chegasse à mesa. Mesmo eu, que não bebo, tenho que andar de passaporte no bolso.
2. Relações
Conhecer novas pessoas é fácil, estabelecer connections é simples, e a cortesia é a medida comum pela qual se pautam. Mas a intimidade continua difícil. Segundo alguns portugueses, é mesmo mais díficil do que noutros ambientes. Se não tivesse falado com a Jenny atribuiria este paradoxo ao clima estudantil, ao mesmo tempo individualista e descontraído, e à rotatividade de pessoas no Burgo. Mas não, ela sublinha: "This is America."
A distinção entre amigo e conhecido é mais subtil. Consequentemente, nós [europeus], habituados a relações com símbolos de intimidade bastante diferenciados para pessoas em diferentes locais da hierarquia emocional, podemos ficar confusos.
Devem haver mais gradações também nas relações amorosas. Tive hoje um debate (foi mais uma digressão) sobre se o conceito de "dating" equivale a estar numa relação ou não. Aparentemente, não há resposta simples. Pode ser e pode não ser.
3. Tolerância
Tenho que dizer (sem muita vontade, confesso), que encontro muito mais boa-vontade nas ruas desta cidade do que em Lisboa. Pelo menos, aparentemente.
Vêem-se mais pessoas com "necessidades especiais" nas ruas. Deficientes, pessoas em cadeirinhas de roda tecnológicas, whatever. Mais, é normal ver pessoas a tagarelarem com deficientes em autocarros, repito: a não ignorarem estas pessoas. É a américa novamente: o chit-chat com o vizinho do autocarro é normal.
Isto reflecte-se nos serviços, que aqui são mais para todos. A minha universidade tem acessos visíveis para estas pessoas. Na biblioteca principal, a porta maior e central é para pessoas em cadeiras de rodas. No Pingo Doce aqui da zona, um deficiente mental embalou-me as compras (o Alex diz que neste supermercado são todos deficientes, mas isso já são outras conversas). No aeroporto, existem cadeiras e auxiliares para pessoas que não se consigam deslocar facilmente. E não são só brancos gordos que andam de cadeirinha. Vi um puto preto sozinho a beneficiar deste serviço.
E vêem-se muitos casais mistos nas ruas. Mais do que em Lisboa até, parece-me. E a universidade está cheia de pessoas de todos os credos.
4. A eficiência
Tenho que dizer que estou um bocado desiludida. Apercebi-me que agarrada à ideia dos States serem (toda a gente diz) mais desenvolvidos que Portugal vinha a presumpção que aqui tudo era como eu conhecia, mas melhor.
Mentira, aqui tudo é diferente.
Isto é, a menina do banco é, sem dúvida, muito mais simpática e prestável que as meninas portuguesas. Trata-me com muito mais atenção (como se eu tivesse mesmo dinheiro). As coisas aqui são, indubitavelmente, mais rápidas, menos burocráticas, mais... eficientes. Mas, e depois? Para levantar dinheiro em qualquer ATM que não pertença ao meu banco pago uma taxa. Só posso fazer 6 transferência pela internet por mês (state law). E se alguém apanhar o meu cartão de débito americano pode usá-lo como cartão de crédito.
E nem falemos de saúde e dos seguros. Mais vale rezar para que nada aconteça.
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2 comentários:
Ui, estou cada vez mais a delirar com os teus posts tão vívidos Cris! Até aposto que daqui a uns meses até começas a escrever em inglês :D
Mais boa-vontade, mais iniciativa, mais pro-activismo, got-it.
Chit-chat com pessoas pobres sem as ignorar: got-it.
MAS, tudo tem um preço, e até encorajam os ladrões a gastar tudo aquilo que roubaram ( aliás, verificaram que os ladrões são extremamente eficazes para dar aquele "boostezinho" ao fim do mês na balança comercial das lojas ;) )
A questão do alcool: Eu acredito sinceramente que tenham feito um estudo cientifico onde chegaram à conclusão que pessoas com alcool são pessoas menos eficientes a produzirem, e a consumirem ( até mitigavam o "boostezinho" ao fim do mês que os ladrões forneciam à balança comercial)
Por outro, têm que perceber que, no Lucky Luke, os índios nativos norte-americanos forma completamente trucidados e humilhados de 2 formas: com armas de fogo e ... com alcool (água-de-fogo).
É pá, continua assim!
Acho sinceramente que quando esta tua experiência americana chegar ao fim, devias escrever um livro: um guia quotidiano da América (ou Pittsburgh) para o imigrante qualificado.
Se não o fizeres, garanto que compilo os teus melhores posts! ;)
Beijinhos*
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