O alho aqui, quando se frita, fica azul. Primeiro pensei que fosse o fundo da panela a colar no alho. Depois, procurei no scholar. E a cozinha do seculo 21.
Segundo uns tipos chineses ou asiaticos o que acontece e que, quando o alho e velho, a fritura muda a sua cor.
Isto deve querer dizer que ando a comer alho centenario... Nao me espanta. A minha universidade e feita por ricos para ricos e por isso aqui comer aqui e bom e relativamente barato. O resto de pittsburgh, supermercados incluidos, e simplesmente americano.
E facil perceber porque e que 1/3 dos americanos sao obesos (ie, precisam de dois lugares do autocarro) e 1/3 e overweight. Para uma portuguesa onde a fruta ainda cai do ceu e o peixe do mar, o problema e obvio: comida com pouco valor nutricional mas extremamente saciante e (as vezes, muito) mais barata que comida com muito valor nutricional mas que nao mata a fome. Os pobres sao gordos e os ricos sao elegantes.
Acresce a isto uma cultura que incentiva a quantidade por si, o muito por dolar de comida paga. E um pouco esquizofrenico. No pais dos gordos, os anuncios continuam a apregoar a muita quantidade de calorias que se pode ter se se for a restaurante de junk-food tipo xis.
E tambem me parece que, no pais do entretenimento, simplesmente quer-se tudo de uma vez so: comer batata frita e emagrecer. Na minha escola, nas maquinas de snacks, as batatas fritas feitas no forno tem um selo verde a dizer escolha facil e saudavel. No parque de entretenimento, a escolha apregoada como saudavel eram 10 morangos com 10 centimetros de chantilli em cima. Nao estou a gozar. Os americanos nao podiam deixar de ser gordos.
No meu departamento de estudos sociais, ha umas pessoas que estudam incentivos para as pessoas emagrecerem. Muita ciencia, muita ciencia, para se tapar o sol com a peneira.
Adiante.
Agora aqui faz frio, que e como quem diz, quem nao tem casaco morre. Tambem nao vejo caes nem gatos vadios, e nao e por causa dos restaurantes chineses, que aqui nao os ha como em Portugal. Devem ficar brancos com a beleza magica da neve. Felizmente os americanos invadiram o Iraque, continuam a assegurar um fluxo continuo de petroleo e, para os humanos, as casas sao sobreaquecidas. Quer isto dizer que quando neva la fora, se pode andar de manga curta ca dentro. E as vezes tem-se que abrir a janela porque mesmo assim faz calor demais... Hum, nunca o desperdicio americano me soube tao bem.
(Estar aqui faz-me olhar com compaixao para os anuncios a incentivar a reciclagem no nosso pais... Tao ingenuos que somos: mesmo que quisessemos tinhamos que nos esforcar para chegar aos calcanhares energeticos dos nossos heated brothers).
Passou o halloween, daqui a dois dias e o thanksgiving, esta a chegar o Natal.
O halloween e como o nosso carnaval, mas com mais gente esquisita e pintada na rua. As pessoas dao mesmo chocolatinhos. Dois dos meus professores trouxeram o resto dos doces para a aula. Bom.
E thanksgiving para uns, terror para outros. Todo o peru tem a sua hora, especialmente daqui a dois dias. Vou passar o meu thanksgiving em casa de emigrantes, mas um dos meus professores convidou a malta tuga para um almoco a americana. E tempo de familia.
Familia... O Natal esta ai. Custa-me a acreditar que ha seis meses que nao abraco a minha mae, nao vejo o meu irmao nem digo ola ao meu pai cara a cara. Que Lisboa esta tao longe e os amigos do outro lado do mar a viver outras coisas. As vezes a normalidade americana e-me estranha. Dou por mim a andar pelas ruas de uma cidade que nao me conhece, como quem anda por um mundo alternativo, que e o meu mas nao e bem o meu.
Saudade.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Souvenir
Epá, estou emocionada.
Já que me esqueci que as televisões esqueceram o Nader (quem?) e os outros totós da extrema-direita americana.
Já me esqueci do bailout. Porque me hei-de lembrar neste momento que o JPMorgan anda a brincar às mergers e acquisitions com o dinheiro do bailout? A lógica capitalista luta sempre pela eficiência económica, provavelmente estão certos.
Já me esqueci do dinheiro que o Obama angariou. Até porque ele começou mais pobrezinho que Job. Foi o dom dele que fez esta vitória.
Fui tomada pela loucura democrática americana.
O meu professor de história perguntou à "portuguese team" se tínhamos assistido à vitória da democracia na américa, a um virar de história histórico.
Sim, assisti. Ontem, num bar, a vitória arrasadora nem me deu desculpas para me deitar tarde. Ao inicío da noite, já se sabia que o Obama tinha ganho. No bar ouvia-se música ("A barraca abana" como dizia uma colega minha do doutoramento) e toda a gente torcia pelo afro-americano, com grandes gritos quando a cnn declarava um estado democrático.
A música foi apenas interrompida pelo discurso do Obama, the President Elect. Epá, fiquei com a lágrima ao canto do olho (como a Sarah Palin, ao pé do McCain). Isto sim, é falar. Percebe-se ali um certo sabor a púlpito (quiçá transpirado pelos anos a ouvir o Wright?). Biblíco.
O McCain, uns minutos antes, não tinha ficado atrás. Ficou sim, muito à frente do avôzinho caquético que acusou o Obama de se associar ao terrorista Ayers no último debate presidencial. Voou acima da divisão presidencial, evitou os boos da populaça e pediu a todos união e ajuda em prol do novo líder. Arcou com as culpas da derrota republica. Bonito.
E hoje de manhã o mundo era diferente. Os shows políticos que vi lembraram-se que os afro-americanos às vezes também opinavam e mandaram vir jornalistas de cor.
Na cnn e no new york times só se veêm afro-americanos felizes.
Eu também quero por o país primeiro, mudar o mundo e ganhar umas eleições (ou o Nobel).
Yes, we can.
E digam-me lá se eu não sou muito mais gira que o McCain (sim, a foto foi mesmo tirada depois de ele ter feito um discurso naquele púlpito).
Já que me esqueci que as televisões esqueceram o Nader (quem?) e os outros totós da extrema-direita americana.
Já me esqueci do bailout. Porque me hei-de lembrar neste momento que o JPMorgan anda a brincar às mergers e acquisitions com o dinheiro do bailout? A lógica capitalista luta sempre pela eficiência económica, provavelmente estão certos.
Já me esqueci do dinheiro que o Obama angariou. Até porque ele começou mais pobrezinho que Job. Foi o dom dele que fez esta vitória.
Fui tomada pela loucura democrática americana.
O meu professor de história perguntou à "portuguese team" se tínhamos assistido à vitória da democracia na américa, a um virar de história histórico.
Sim, assisti. Ontem, num bar, a vitória arrasadora nem me deu desculpas para me deitar tarde. Ao inicío da noite, já se sabia que o Obama tinha ganho. No bar ouvia-se música ("A barraca abana" como dizia uma colega minha do doutoramento) e toda a gente torcia pelo afro-americano, com grandes gritos quando a cnn declarava um estado democrático.
A música foi apenas interrompida pelo discurso do Obama, the President Elect. Epá, fiquei com a lágrima ao canto do olho (como a Sarah Palin, ao pé do McCain). Isto sim, é falar. Percebe-se ali um certo sabor a púlpito (quiçá transpirado pelos anos a ouvir o Wright?). Biblíco.
O McCain, uns minutos antes, não tinha ficado atrás. Ficou sim, muito à frente do avôzinho caquético que acusou o Obama de se associar ao terrorista Ayers no último debate presidencial. Voou acima da divisão presidencial, evitou os boos da populaça e pediu a todos união e ajuda em prol do novo líder. Arcou com as culpas da derrota republica. Bonito.
E hoje de manhã o mundo era diferente. Os shows políticos que vi lembraram-se que os afro-americanos às vezes também opinavam e mandaram vir jornalistas de cor.
Na cnn e no new york times só se veêm afro-americanos felizes.
Eu também quero por o país primeiro, mudar o mundo e ganhar umas eleições (ou o Nobel).
Yes, we can.
E digam-me lá se eu não sou muito mais gira que o McCain (sim, a foto foi mesmo tirada depois de ele ter feito um discurso naquele púlpito).
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Lessons from the elections
Eu sei que isto é clichet, mas vou começar o post assim: faltam cerca de duas a três horas para sabermos os resultados das eleições mais mediáticas do momento. É claro que, como o resto do mundo, estou à espera.
Já consumi o lixo da cnn e do new york times, que fazem notícias sobre as notícias que não aparecem. Sem surpresas, ainda não se sabe quem é o vencedor. No entanto, aqui, na pátria da liberdade e da democracia (nos EUA, a pátria da igualdade democrática é a América, esqueçam a França, devaneio de europeus), americanos com a lágrima ao canto do olho falam da nação, de patriotismo e mudança. Até a Palin acha que é tempo de mudar. Cá para mim, é emoção a mais.
É óbvio que estou a torcer pelo Obama. Confesso que até gosto do tipo. Mas ele é tão magrinho, novinho, (bem-pago?), coitadinho. O que pode ele fazer?
Espero que pelo menos seja o fim da américa radical cristã. Que deus seja deixado em paz e que o sexo deixe de ser considerado pecado nacional para os não-casados.
Que haja mais parlapié, conversa, efectivas negociações com as Nações Unidas (esse pormenor).
E vamos a ver o que acontece no Iraque. E no Irão.
Mas esta campanha não foi só histórica para os afro-americanos: foi o meu ritual iniciático na política made in USA. Não estava à espera, mas fiquei desiludida.
Voei para a américa inspirada pelo título do livro "the audacity to hope" do Barack. Isto cheirava-me a pessoas racionais e altruístas, a um nível de discussão elevado, à política de ideais públicos.
Ah! É óbvio que me esqueci que os candidatos são feitos por quem os paga (as empresas que receberam os 700 bilhões de dólares). E, depois de ver a Palin, a Obama e o McCain em discurso directo; depois de ver como as eleições são engendradas por tipos como o Rove, a minha esperança inicial resume-se a esperar que ganhe o menos mau. Que é como quem diz, o menos branco.
A américa tem muitas coisas boas, mas tem fraquezas que a tornam mais susceptível de eleger tipos como o Bush:
: Só tem dois partidos. É óbvio que há mais candidatozinhos (incluindo o Nader) a concorrer. No entanto, estes são tão marginais que só por engano é que se tropeça neles. Infelizmente, já soube que em Portugal também se está a cozinhar um esquema que limita o número de candidatos e ideias. É pena.
Existe um modelo económico - o modelo de Hotelling - que prevê que, numa praia que se estende de 0 a 1, dois vendedores de gelados que queiram maximizar os lucros se situem exactamente no meio*. Isto serve de metáfora para tudo e mais alguma coisa, desde localização de lojas numa rua, convergência de canais de televisão, até uniformização de candidatos.
: Aqui existem os issue-voters. Isto são pessoas que acreditam tanto em algumas coisas que o seu voto é determinado pela posição do candidato em relação ao aborto ou à discriminação gay. É óbvio que estes votantes são altamente manipuláveis por "Smear campaigns" sem escrúpulos. A vitória do Bush em 2004 (e em 2000, quando se afirmou contra o McCain como candidato republicano) é em parte devida à exploração desta fragilidade (por tipos como o Karl Rove).
: A abstenção é imensa. Votação recorde quer dizer que, se calhar, votam 64% hoje. Nas últimas eleições, votaram cerca de 54%. Isto quer dizer que fanáticos excitados como os issue-voters podem deitar tudo a perder. (Em Portugal, em 2005, para a AR, abstiveram-se 35% das pessoas - não sei se estes números incluem pessoas que não se registaram).
http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001684&selTab=tab2
: Numa nação agarrada à TV, a quantidade de dinheiro que se consegue angariar para fazer anúncios é decisiva. Quem mais aparece, mais ganha. Se for em prime-time, melhor.
: Num derradeiro afastamento da racionalidade, a personalidade, família e integridade do candidato, aqui, são da mais extrema importância. As mulheres dos candidatos são figuras públicas. Os filhos também aparecem nos comícios. Não me parece que candidatos divorciados tenham muito saída, coitados.
: É um país enorme, com pouco tempo para ver notícias. Daqui sai que a complexidade de um programa eleitoral só a custo pode ser digerida pelo americano comum.
É também um país dividido. A maior parte das notícias (tirando a Fox) é escrita por democratas. Cheira-me que é por isso que a Palin é vista como uma escolha tão negativa. Na verdade, depois do Obama, ela é a pessoa que atrai mais pessoas para comícios.
Enfim, god bless us all.
Já consumi o lixo da cnn e do new york times, que fazem notícias sobre as notícias que não aparecem. Sem surpresas, ainda não se sabe quem é o vencedor. No entanto, aqui, na pátria da liberdade e da democracia (nos EUA, a pátria da igualdade democrática é a América, esqueçam a França, devaneio de europeus), americanos com a lágrima ao canto do olho falam da nação, de patriotismo e mudança. Até a Palin acha que é tempo de mudar. Cá para mim, é emoção a mais.
É óbvio que estou a torcer pelo Obama. Confesso que até gosto do tipo. Mas ele é tão magrinho, novinho, (bem-pago?), coitadinho. O que pode ele fazer?
Espero que pelo menos seja o fim da américa radical cristã. Que deus seja deixado em paz e que o sexo deixe de ser considerado pecado nacional para os não-casados.
Que haja mais parlapié, conversa, efectivas negociações com as Nações Unidas (esse pormenor).
E vamos a ver o que acontece no Iraque. E no Irão.
Mas esta campanha não foi só histórica para os afro-americanos: foi o meu ritual iniciático na política made in USA. Não estava à espera, mas fiquei desiludida.
Voei para a américa inspirada pelo título do livro "the audacity to hope" do Barack. Isto cheirava-me a pessoas racionais e altruístas, a um nível de discussão elevado, à política de ideais públicos.
Ah! É óbvio que me esqueci que os candidatos são feitos por quem os paga (as empresas que receberam os 700 bilhões de dólares). E, depois de ver a Palin, a Obama e o McCain em discurso directo; depois de ver como as eleições são engendradas por tipos como o Rove, a minha esperança inicial resume-se a esperar que ganhe o menos mau. Que é como quem diz, o menos branco.
A américa tem muitas coisas boas, mas tem fraquezas que a tornam mais susceptível de eleger tipos como o Bush:
: Só tem dois partidos. É óbvio que há mais candidatozinhos (incluindo o Nader) a concorrer. No entanto, estes são tão marginais que só por engano é que se tropeça neles. Infelizmente, já soube que em Portugal também se está a cozinhar um esquema que limita o número de candidatos e ideias. É pena.
Existe um modelo económico - o modelo de Hotelling - que prevê que, numa praia que se estende de 0 a 1, dois vendedores de gelados que queiram maximizar os lucros se situem exactamente no meio*. Isto serve de metáfora para tudo e mais alguma coisa, desde localização de lojas numa rua, convergência de canais de televisão, até uniformização de candidatos.
: Aqui existem os issue-voters. Isto são pessoas que acreditam tanto em algumas coisas que o seu voto é determinado pela posição do candidato em relação ao aborto ou à discriminação gay. É óbvio que estes votantes são altamente manipuláveis por "Smear campaigns" sem escrúpulos. A vitória do Bush em 2004 (e em 2000, quando se afirmou contra o McCain como candidato republicano) é em parte devida à exploração desta fragilidade (por tipos como o Karl Rove).
: A abstenção é imensa. Votação recorde quer dizer que, se calhar, votam 64% hoje. Nas últimas eleições, votaram cerca de 54%. Isto quer dizer que fanáticos excitados como os issue-voters podem deitar tudo a perder. (Em Portugal, em 2005, para a AR, abstiveram-se 35% das pessoas - não sei se estes números incluem pessoas que não se registaram).
http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001684&selTab=tab2
: Numa nação agarrada à TV, a quantidade de dinheiro que se consegue angariar para fazer anúncios é decisiva. Quem mais aparece, mais ganha. Se for em prime-time, melhor.
: Num derradeiro afastamento da racionalidade, a personalidade, família e integridade do candidato, aqui, são da mais extrema importância. As mulheres dos candidatos são figuras públicas. Os filhos também aparecem nos comícios. Não me parece que candidatos divorciados tenham muito saída, coitados.
: É um país enorme, com pouco tempo para ver notícias. Daqui sai que a complexidade de um programa eleitoral só a custo pode ser digerida pelo americano comum.
É também um país dividido. A maior parte das notícias (tirando a Fox) é escrita por democratas. Cheira-me que é por isso que a Palin é vista como uma escolha tão negativa. Na verdade, depois do Obama, ela é a pessoa que atrai mais pessoas para comícios.
Enfim, god bless us all.
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