Uma coisa que aprendemos desde que somos pequeninos e a gerir a guita, massa, ou carcanhol. Imitamos, interiorizamos (por muito que nos custe admitir) os modelos mais proximos, eufemismo para papas. Mas aquilo que sempre me pareceu muito racional dado que envolve numeros e, as vezes, folhas de excel, parece-me agora reflexo de uma maneira de pensar o dinheiro.
Porque o dinheiro, na america, pensa-se de maneira diferente que o dinheiro europeu.
A diferenca e o credito.
Aqui o credito conta como dinheiro.
Ha um sketch do saturday night live em que um pseudo-professor ensina um casal de americanos a gerir dinheiro. O mote e: "If you don't have money, don't buy it!". Primeiro pensei que o sketch fosse exagerado, pouco criativo, sensaborao e sem piada.
Mas depois vi uma entrevista na CNN a uma mulher que, em 3 anos, pagou 46.000 dolares de divida as companhias de credito. Ela sempre tinha sido ensidada que, desde que conseguisse pagar as televisoes e carros a prestacoes, estava ok. Bastou uma doenca para as prestacoes se atrasarem e a divida acumular. (E, presume-se, ela perceber que nao era assim tao ok ter a vida a prestacoes).
Este caso saiu na CNN porque e um caso de sucesso. Raro. Porque todos os outros, aqueles que foram ensinados como esta senhora, mas que nao conseguem ter tres trabalhos sem fins de semana (aquilo pelo qual ela passou durante 3 anos) vao parar a associacoes como esta: Devedores anonimos.
O credito aqui e uma segunda natureza. Um americano de classe media era assediado com toneladas de credit card applications, daquelas que dizem 0 juros em parragonas, mas que, em letras pequenas, mostram taxas variaveis a volta de 25-30%. Eu vi (com os meus olhos que a terra ha-de comer) estes golpes publicitarios. E eu, uma engenheira a tirar um doutoramento, nao consegui determinar qual a taxa de juro exacta que se aplicava a mim. Mesmo lendo com esforco as letras pequeninas.
E, depois de avaliar a enormidade de credit applications com que um americano era assediado, percebi finalmente que, epa, a crise economica nao e assim tao surpreendente. Apesar de nao conseguir compreender todos os detalhes da questao, aquilo que percebo e: rebentou-se a bolha de produtos financeiros feitos a partir de produtos financeiros feitos a partir de produtos financeiros de alto risco (ie, baseados em pessoas que nao conseguiam pagar) e foi um ver se te havias, uma derrocada financeira tipo domino.
Uma questao lateral e este conceito da vida a prestacoes. Pagar 100$ agora adiantado e ter que pagar entre 1/4 e 1/3 a uma companhia que financia um estilo de vida insustentavel. Uma familia de classe media estar amarrada a uma aparencia futil enquanto a riqueza real 'e pouca ou nenhuma e esvai-se como areia por entre televisoes e carros novos (porque a america esta cheia de carros novos, grandes e luzidios). E o mesmo conceito por detras de todos os sistemas de classes. O esforco de uma classe sustentou os de sangue azul, os mais nobres, e, agora, os mais espertos.
A mobilidade social nao e assim tao movel, afinal. A educacao de massas tem funcionado como equalizador social, a pouco e pouco, claro, como sao todos os processos geracionais, mas a ilusao de uma sociedade meritocratica e mantida sobretudo por umas quantas estatisticas improvaveis chamadas Bill Gates.
E aquilo que ainda e mais estranho, e como e tao natural tudo isto. Meter a vida a prestacoes para ter a casa cheia de coisas.
PS: ha pouco tempo o Obama mandou fazer um novo regulamento para companhias de credito. Segundo me disseram, o regulamento regula a fonte, o tamanho da fonte e a legibilidade de panfletos que divulgam credito. So para perceberem o quao tragi-comica era a situacao. Artigo do Wall Street Journal.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
The fat of the land II
Uma coisa que se ve muito aqui na America sao pessoas gordas. Obesos gordissimos que - desculpem a franqueza - surpreendem o europeu incauto. Este e um pais em que - estatisticas oficiais (acreditem em mim) - 1/3 da populacao e overweight e 1/3 e obeso. Isto e, so uma em cada 3 pessoas tem o peso dito saudavel (e desses tem que se descontar os anorecticos).
Quando digo gordo dispam-se dos limites mentais que encontraram nas ruas de Lisboa. Nao estamos aqui a falar da normal variancia da bochecha do rabo humano. Trata-se antes do fenomeno volta-e-meia-nao-me-posso-sentar-no-autocarro-por-causa-d@-gord@-que-ocupa-dois-lugares. As vezes dou por mim a pensar quantas pessoas normais existiriam no espaco ocupado por um gordo.
E que, desculpem o grafismo, nao e so a gordura. E, as vezes, muitas vezes, vezes demais, se adivinharam as pregas flacidas de gordura por entre os vincos da T-shirt. Familias em que toda a gente e grande demais, flacida demais, larga demais. Interrogo-me como e viver assim, disforme, pesado e ondulante.
(Veio-me agora a cabeca o Homer Simpson. Lembram-se da largura da cintura dele ser muito maior que o resto do corpo? E essa a caracteristica fundamental dos overweight americanos - muita massa acumulada na barriga.)
Isto irrita-me. E irrita-me de varias maneiras.
Primeiro, porque era tao simples acabar com o assunto. Tao simples e claro e obvio. Numa estacao de gasolina perdida no meio duma estrada americana, a coca-cola e mais barata que agua. Nos supermercados mais acessiveis do meio da cidade, fruta e vegetais frescos sao carissimos. Duas alfaces (cada uma a 2$) dao para comprar uma refeicao no MacDonalds. Bastavam medidas relativamente simples como proibir refrigerantes e taxar fast-food para alterar o preco relativo destes bens, para eles se tornarem menos atractivos.
Aqui gordura e sinal de pobreza. Na cidade onde vivo isto e tao real que se pode estimar o estrato social de um determinado suburbio pelo numero de (muito) gordos que se ve nas ruas. Na minha universidade, claro, nao se ve ninguem obeso (ok, talvez um ou dois). E triste. Os pobres sao aqueles que comem o lixo barato.
Mas isto tambem demonstra o quao media e average e a raca humana. Desculpem a amargura. A verdade e que existem, sim, opcoes aos precos altos. Apesar do supermercado mais acessivel ser carissimo, a cidade tem um mercado caracteristico em que vegetais e frutas sao vendidos a precos muito mais baixos. Existem outras grandes superficies com precos mais competitivos. Existe o mercado ocasional bio-local. Feijao, grao, tomate enlatados sao baratos em todo o lado. Isto e, tirando o peixe (que, de facto, e dificil de encontrar - estamos a 8horas do mar alto) nao me parece que se possa argumentar que, em absoluto, aqui nao se encontra nada de jeito. Mesmo que seja um pouco mais caro, isso em nada altera o argumento. Lembrem-se que nao estamos a falar de pessoas que se comerem menos passam a fome africana.
A obesidade e evitavel.
O que acontece aqui e que, a par deste problema economico, as cadeias de fast-food estao por todo lado, nas ruas e dentro de casas, onde entram pela televisao adentro. No pais dos XXXL os anuncios louvam a quantidade de comida que pode comer por pouco dinheiro. E a fast-food e, em si, parte do american way of life. Comer, aqui, e algo que se faz rapidamente, como como quem nao quer a coisa, enquanto persigo o american dream. Comer e um pormenor. (Um colega meu americano inclusive disse-me que entre escolher perder tempo a fazer comida ou trabalhar, muitas pessoas nem sequer perdiam tempo para pensar).
E, claro, comer e facil.
E que, as vezes, este problema todo irrita-me porque me parece tambem um sinal de um tipo de cultura tecnologica que, no seu pior, transforma e deixa transformar o ser humano num objecto manipulador de maquinas, sem alma nem vontade. Um ambiente de "deixe a maquina fazer por si" que, no seu pior, se traduz nma inercia colectiva e individual em processar o ambiente em vez de comer apaticamente lixo televisado.
E claro que muito mais havia a dizer. Este e um problema cuja raiz esta afinal na organizao da nossa sociedade. Desde a revolucao industrial que a massa laboral se tem deslocado progressivamente para os servicos, enquanto sectores vitais como a agricultura foram esquecidos. A progressiva busca de lucro atraves de produtos novos, racoes que alimentam uma populacao stressada sem tempo para cuidar de si, resulta em pacotes caloricos artificiais, rapidos de preparar e ingerir, mas de diminuto valor nutricional.
Enfim...
Vamos a ver como a europa resiste as tentacoes do progresso. Entretanto, deixo-vos com duas perolas:
> um concurso chamado "the biggest loser" que e um reality show/ concurso para ver quem perde mais peso - concurso
> um artigo do new york times sobre a fraca seguranca alimentar dos US - artigo
Quando digo gordo dispam-se dos limites mentais que encontraram nas ruas de Lisboa. Nao estamos aqui a falar da normal variancia da bochecha do rabo humano. Trata-se antes do fenomeno volta-e-meia-nao-me-posso-sentar-no-autocarro-por-causa-d@-gord@-que-ocupa-dois-lugares. As vezes dou por mim a pensar quantas pessoas normais existiriam no espaco ocupado por um gordo.
E que, desculpem o grafismo, nao e so a gordura. E, as vezes, muitas vezes, vezes demais, se adivinharam as pregas flacidas de gordura por entre os vincos da T-shirt. Familias em que toda a gente e grande demais, flacida demais, larga demais. Interrogo-me como e viver assim, disforme, pesado e ondulante.
(Veio-me agora a cabeca o Homer Simpson. Lembram-se da largura da cintura dele ser muito maior que o resto do corpo? E essa a caracteristica fundamental dos overweight americanos - muita massa acumulada na barriga.)
Isto irrita-me. E irrita-me de varias maneiras.
Primeiro, porque era tao simples acabar com o assunto. Tao simples e claro e obvio. Numa estacao de gasolina perdida no meio duma estrada americana, a coca-cola e mais barata que agua. Nos supermercados mais acessiveis do meio da cidade, fruta e vegetais frescos sao carissimos. Duas alfaces (cada uma a 2$) dao para comprar uma refeicao no MacDonalds. Bastavam medidas relativamente simples como proibir refrigerantes e taxar fast-food para alterar o preco relativo destes bens, para eles se tornarem menos atractivos.
Aqui gordura e sinal de pobreza. Na cidade onde vivo isto e tao real que se pode estimar o estrato social de um determinado suburbio pelo numero de (muito) gordos que se ve nas ruas. Na minha universidade, claro, nao se ve ninguem obeso (ok, talvez um ou dois). E triste. Os pobres sao aqueles que comem o lixo barato.
Mas isto tambem demonstra o quao media e average e a raca humana. Desculpem a amargura. A verdade e que existem, sim, opcoes aos precos altos. Apesar do supermercado mais acessivel ser carissimo, a cidade tem um mercado caracteristico em que vegetais e frutas sao vendidos a precos muito mais baixos. Existem outras grandes superficies com precos mais competitivos. Existe o mercado ocasional bio-local. Feijao, grao, tomate enlatados sao baratos em todo o lado. Isto e, tirando o peixe (que, de facto, e dificil de encontrar - estamos a 8horas do mar alto) nao me parece que se possa argumentar que, em absoluto, aqui nao se encontra nada de jeito. Mesmo que seja um pouco mais caro, isso em nada altera o argumento. Lembrem-se que nao estamos a falar de pessoas que se comerem menos passam a fome africana.
A obesidade e evitavel.
O que acontece aqui e que, a par deste problema economico, as cadeias de fast-food estao por todo lado, nas ruas e dentro de casas, onde entram pela televisao adentro. No pais dos XXXL os anuncios louvam a quantidade de comida que pode comer por pouco dinheiro. E a fast-food e, em si, parte do american way of life. Comer, aqui, e algo que se faz rapidamente, como como quem nao quer a coisa, enquanto persigo o american dream. Comer e um pormenor. (Um colega meu americano inclusive disse-me que entre escolher perder tempo a fazer comida ou trabalhar, muitas pessoas nem sequer perdiam tempo para pensar).
E, claro, comer e facil.
E que, as vezes, este problema todo irrita-me porque me parece tambem um sinal de um tipo de cultura tecnologica que, no seu pior, transforma e deixa transformar o ser humano num objecto manipulador de maquinas, sem alma nem vontade. Um ambiente de "deixe a maquina fazer por si" que, no seu pior, se traduz nma inercia colectiva e individual em processar o ambiente em vez de comer apaticamente lixo televisado.
E claro que muito mais havia a dizer. Este e um problema cuja raiz esta afinal na organizao da nossa sociedade. Desde a revolucao industrial que a massa laboral se tem deslocado progressivamente para os servicos, enquanto sectores vitais como a agricultura foram esquecidos. A progressiva busca de lucro atraves de produtos novos, racoes que alimentam uma populacao stressada sem tempo para cuidar de si, resulta em pacotes caloricos artificiais, rapidos de preparar e ingerir, mas de diminuto valor nutricional.
Enfim...
Vamos a ver como a europa resiste as tentacoes do progresso. Entretanto, deixo-vos com duas perolas:
> um concurso chamado "the biggest loser" que e um reality show/ concurso para ver quem perde mais peso - concurso
> um artigo do new york times sobre a fraca seguranca alimentar dos US - artigo
quarta-feira, 6 de maio de 2009
América, américa
Uma das coisas que gosto aqui da américa, é que não há só um pouco de tudo, cada pouco berra à sua maneira no espaço público, onde tudo é possível. É assim um individualismo cacofónico e colorido, tolerante e racista, com as suas armadilhas para loosers e prémios para winners, onde o mercado é rei e a pessoa "the ultimate entrepreneur".
Existem muitos heróis. Existem muitos psicopatas.
Ricos, muito ricos, pobres, e intocáveis.
E budistas reconvertidos enamorados com a New Age, accept you as you are, convivem com brutos matadores de bebés.
Não sei se isto será um resultado da lei dos grandes números. Afinal a América é mais um continente que um país.
E, entre tantos aviões, um tem que aterrar na água, fazendo do seu capitão um herói. Da mesma forma, cada geração tem o seu provável número de psicopatas. Num mercado de milhões, uns têm que enriquecer de uma maneira estatísticamente improvável, ao mesmo tempo que outros empobrevem.
Muitas destas improbabilidades estão na origem de grandes empreendimentos americanos. No século XIX Edison e Bell fundaram empresas que se tornariam na General Electric, onde Langmuir trabalhou e receberia o Nobel nos anos 20, e a AT&T, onde o transístor seria inventado nos anos 50 (o mesmo transístor que deu origem à indústria dos semi-condutores, Sillicon Valley, e ao PC, por onde a internet circula). A indústria automóvel americana, agora em declínio, começou com um punhado de empresas, de onde todos os outros fundadores de companhias de sucesso descenderiam.
(Uma breve nota: uma das melhores coisas em trabalhar em organização industrial em geral, e com o meu advisor em particular, é traçar as histórias de indústrias e eteceteras a alguns génios improváveis).
Por outro lado, esta cacofonia individualista pode ser explicada através dos mitos fundadores da américa. Com a boston tea party e tipos a fugir aos impostos, tentando fundar algo não supervisionado por um governo central, mas regulado pela vontade e esforço de cada um (sobretudo os mais ricos?).
Não sei, mas é interessante. Cada dia há escândalos sui-generis, com adeptos fervorosos dos dois lados. O último envolve uma miss e um juiz gay. O juiz perguntou à miss se concordava com o casamento de homossexuais, e ela disse que, desculpem, mas não senhora. Enquanto o juiz começou a colocar no blog que a miss era uma praia (em americano), liberais e conservadores muito ponderam sobre a miss, que agora está a pensar seguir uma carreira em política (no kidding). É claro que isto tem como pano de fundo a ongoing discussion sobre o casamento gay, passagem e despassagem de proposições e votações, e etcs que tais, mas é sobretudo o resultado de media histéricos com vontade de coisas grandes.
E a televisão americana é ainda melhor. Volta e meia descubro pérolas televisivas. No outro dia, entre canais, descobri um padre que protestava contra a feminização da igreja, em formato talk-show e com pessoas a aplaudir. Dizia ele que os casamentos não funcionavam porque as mulheres esperavam que os homens dessem porque sim ("o que é uma coisa feminina, porque as mulheres são dadoras natas") mas isto resultava, claro está, mal, porque os homens não dão porque sim, dão porque querem alguma coisa em troca. Inclusive Deus, nunca pediu aos homens para darem sem esperar nada em troca. Infelizmente, é claro que esta argumentação caótica não sobrevive ao debate (havia um "debate" e eu esperei para ver) e o padre limitou-se a repetir a argumentação vezes sem conta.
(O padre era casado - com uma mulher que compreendia as leis da doação/retribuição masculina - por isso calculo que não fosse católico).
E agora esta última. Não sei porquê, mas no país das armas, as pessoas preocupam-se muito com casamentos. Muitos dos meus colegas de doutoramento são casados. E parece-me que o síndrome da mulher solteira é americano. Isto é, existe aqui uma classe de mulheres (mulheres, não homens, é a percepção) que quer casar, que não encontra o João Ratão, e para quem isto é muito problemático. Que algures entre o dating e o long-term relationship nunca encontrou "um homem que quisesse casar com ela" (sim, eu já ouvi esta expressão. Sad, but true.)
Não é só a questão de estar "sozinha", é, acima de tudo, um problema de identidade e validade enquanto ser humanos porque estas mulheres não se imaginam completas e dignas sem um casamento ou um homem a querer casar com elas.
Random thoughts...
E desculpem o meu português, que, não sei porquê, já me soa a esquisito.
Existem muitos heróis. Existem muitos psicopatas.
Ricos, muito ricos, pobres, e intocáveis.
E budistas reconvertidos enamorados com a New Age, accept you as you are, convivem com brutos matadores de bebés.
Não sei se isto será um resultado da lei dos grandes números. Afinal a América é mais um continente que um país.
E, entre tantos aviões, um tem que aterrar na água, fazendo do seu capitão um herói. Da mesma forma, cada geração tem o seu provável número de psicopatas. Num mercado de milhões, uns têm que enriquecer de uma maneira estatísticamente improvável, ao mesmo tempo que outros empobrevem.
Muitas destas improbabilidades estão na origem de grandes empreendimentos americanos. No século XIX Edison e Bell fundaram empresas que se tornariam na General Electric, onde Langmuir trabalhou e receberia o Nobel nos anos 20, e a AT&T, onde o transístor seria inventado nos anos 50 (o mesmo transístor que deu origem à indústria dos semi-condutores, Sillicon Valley, e ao PC, por onde a internet circula). A indústria automóvel americana, agora em declínio, começou com um punhado de empresas, de onde todos os outros fundadores de companhias de sucesso descenderiam.
(Uma breve nota: uma das melhores coisas em trabalhar em organização industrial em geral, e com o meu advisor em particular, é traçar as histórias de indústrias e eteceteras a alguns génios improváveis).
Por outro lado, esta cacofonia individualista pode ser explicada através dos mitos fundadores da américa. Com a boston tea party e tipos a fugir aos impostos, tentando fundar algo não supervisionado por um governo central, mas regulado pela vontade e esforço de cada um (sobretudo os mais ricos?).
Não sei, mas é interessante. Cada dia há escândalos sui-generis, com adeptos fervorosos dos dois lados. O último envolve uma miss e um juiz gay. O juiz perguntou à miss se concordava com o casamento de homossexuais, e ela disse que, desculpem, mas não senhora. Enquanto o juiz começou a colocar no blog que a miss era uma praia (em americano), liberais e conservadores muito ponderam sobre a miss, que agora está a pensar seguir uma carreira em política (no kidding). É claro que isto tem como pano de fundo a ongoing discussion sobre o casamento gay, passagem e despassagem de proposições e votações, e etcs que tais, mas é sobretudo o resultado de media histéricos com vontade de coisas grandes.
E a televisão americana é ainda melhor. Volta e meia descubro pérolas televisivas. No outro dia, entre canais, descobri um padre que protestava contra a feminização da igreja, em formato talk-show e com pessoas a aplaudir. Dizia ele que os casamentos não funcionavam porque as mulheres esperavam que os homens dessem porque sim ("o que é uma coisa feminina, porque as mulheres são dadoras natas") mas isto resultava, claro está, mal, porque os homens não dão porque sim, dão porque querem alguma coisa em troca. Inclusive Deus, nunca pediu aos homens para darem sem esperar nada em troca. Infelizmente, é claro que esta argumentação caótica não sobrevive ao debate (havia um "debate" e eu esperei para ver) e o padre limitou-se a repetir a argumentação vezes sem conta.
(O padre era casado - com uma mulher que compreendia as leis da doação/retribuição masculina - por isso calculo que não fosse católico).
E agora esta última. Não sei porquê, mas no país das armas, as pessoas preocupam-se muito com casamentos. Muitos dos meus colegas de doutoramento são casados. E parece-me que o síndrome da mulher solteira é americano. Isto é, existe aqui uma classe de mulheres (mulheres, não homens, é a percepção) que quer casar, que não encontra o João Ratão, e para quem isto é muito problemático. Que algures entre o dating e o long-term relationship nunca encontrou "um homem que quisesse casar com ela" (sim, eu já ouvi esta expressão. Sad, but true.)
Não é só a questão de estar "sozinha", é, acima de tudo, um problema de identidade e validade enquanto ser humanos porque estas mulheres não se imaginam completas e dignas sem um casamento ou um homem a querer casar com elas.
Random thoughts...
E desculpem o meu português, que, não sei porquê, já me soa a esquisito.
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