sexta-feira, 15 de maio de 2009

The fat of the land II

Uma coisa que se ve muito aqui na America sao pessoas gordas. Obesos gordissimos que - desculpem a franqueza - surpreendem o europeu incauto. Este e um pais em que - estatisticas oficiais (acreditem em mim) - 1/3 da populacao e overweight e 1/3 e obeso. Isto e, so uma em cada 3 pessoas tem o peso dito saudavel (e desses tem que se descontar os anorecticos).

Quando digo gordo dispam-se dos limites mentais que encontraram nas ruas de Lisboa. Nao estamos aqui a falar da normal variancia da bochecha do rabo humano. Trata-se antes do fenomeno volta-e-meia-nao-me-posso-sentar-no-autocarro-por-causa-d@-gord@-que-ocupa-dois-lugares. As vezes dou por mim a pensar quantas pessoas normais existiriam no espaco ocupado por um gordo.

E que, desculpem o grafismo, nao e so a gordura. E, as vezes, muitas vezes, vezes demais, se adivinharam as pregas flacidas de gordura por entre os vincos da T-shirt. Familias em que toda a gente e grande demais, flacida demais, larga demais. Interrogo-me como e viver assim, disforme, pesado e ondulante.
(Veio-me agora a cabeca o Homer Simpson. Lembram-se da largura da cintura dele ser muito maior que o resto do corpo? E essa a caracteristica fundamental dos overweight americanos - muita massa acumulada na barriga.)

Isto irrita-me. E irrita-me de varias maneiras.

Primeiro, porque era tao simples acabar com o assunto. Tao simples e claro e obvio. Numa estacao de gasolina perdida no meio duma estrada americana, a coca-cola e mais barata que agua. Nos supermercados mais acessiveis do meio da cidade, fruta e vegetais frescos sao carissimos. Duas alfaces (cada uma a 2$) dao para comprar uma refeicao no MacDonalds. Bastavam medidas relativamente simples como proibir refrigerantes e taxar fast-food para alterar o preco relativo destes bens, para eles se tornarem menos atractivos.

Aqui gordura e sinal de pobreza. Na cidade onde vivo isto e tao real que se pode estimar o estrato social de um determinado suburbio pelo numero de (muito) gordos que se ve nas ruas. Na minha universidade, claro, nao se ve ninguem obeso (ok, talvez um ou dois). E triste. Os pobres sao aqueles que comem o lixo barato.

Mas isto tambem demonstra o quao media e average e a raca humana. Desculpem a amargura. A verdade e que existem, sim, opcoes aos precos altos. Apesar do supermercado mais acessivel ser carissimo, a cidade tem um mercado caracteristico em que vegetais e frutas sao vendidos a precos muito mais baixos. Existem outras grandes superficies com precos mais competitivos. Existe o mercado ocasional bio-local. Feijao, grao, tomate enlatados sao baratos em todo o lado. Isto e, tirando o peixe (que, de facto, e dificil de encontrar - estamos a 8horas do mar alto) nao me parece que se possa argumentar que, em absoluto, aqui nao se encontra nada de jeito. Mesmo que seja um pouco mais caro, isso em nada altera o argumento. Lembrem-se que nao estamos a falar de pessoas que se comerem menos passam a fome africana.
A obesidade e evitavel.

O que acontece aqui e que, a par deste problema economico, as cadeias de fast-food estao por todo lado, nas ruas e dentro de casas, onde entram pela televisao adentro. No pais dos XXXL os anuncios louvam a quantidade de comida que pode comer por pouco dinheiro. E a fast-food e, em si, parte do american way of life. Comer, aqui, e algo que se faz rapidamente, como como quem nao quer a coisa, enquanto persigo o american dream. Comer e um pormenor. (Um colega meu americano inclusive disse-me que entre escolher perder tempo a fazer comida ou trabalhar, muitas pessoas nem sequer perdiam tempo para pensar).

E, claro, comer e facil.

E que, as vezes, este problema todo irrita-me porque me parece tambem um sinal de um tipo de cultura tecnologica que, no seu pior, transforma e deixa transformar o ser humano num objecto manipulador de maquinas, sem alma nem vontade. Um ambiente de "deixe a maquina fazer por si" que, no seu pior, se traduz nma inercia colectiva e individual em processar o ambiente em vez de comer apaticamente lixo televisado.

E claro que muito mais havia a dizer. Este e um problema cuja raiz esta afinal na organizao da nossa sociedade. Desde a revolucao industrial que a massa laboral se tem deslocado progressivamente para os servicos, enquanto sectores vitais como a agricultura foram esquecidos. A progressiva busca de lucro atraves de produtos novos, racoes que alimentam uma populacao stressada sem tempo para cuidar de si, resulta em pacotes caloricos artificiais, rapidos de preparar e ingerir, mas de diminuto valor nutricional.

Enfim...
Vamos a ver como a europa resiste as tentacoes do progresso. Entretanto, deixo-vos com duas perolas:
> um concurso chamado "the biggest loser" que e um reality show/ concurso para ver quem perde mais peso - concurso
> um artigo do new york times sobre a fraca seguranca alimentar dos US - artigo

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