Não sei se aí na Europa chega a onda de admiração pelos Obamas.
Aqui na América são a nova paixão do povo. Apaixonados, belos, charmosos, pais de família e líderes do "free-world" têm o mundo a seus pés.
Nas revistas do supermercado, os Obamas suplantaram tudo e todos. Coitada da Paris e da Britney. Ninguém fala já de canções e escandaleiras. Agora, o que toda a gente quer saber é o que os Obama comem e quantos beijinhos dão antes de deitar. Muito mais importante do que isso, quando é que vem o novo puppy para a Casa Branca. Simultaneamente, a Michelle está a tornar-se um novo fashion icon e apareceu na Vogue com um vestido rosa.
Por outro lado, a emulação dos líderes traz novos paradigmas para o espaço público. Antes do Obama, via zero negros a fazerem publicidade. Agora eles estão em tudo o que é champô. Yes, black is the new white.
Parte não é responsabilidade deles. Neste momento, está toda a gente excitada com política aqui pela américa. Ele é o budget, ele é a vontade do obama de fazer amigos com os republicanos, ele é fechar Guantánamo (e deportar os pobres coitados para a europa), ele é os problemas com impostos dos secretários (ministros), eu sei lá, tudo é notícia. O que o povo quer é a crise atrás das costas, e saber o que fazem os líderes nestes tempos de aflição. Mais do que isso, os Obama vendem porque, apaixonados, belos e novos, são a imagem de uma mensagem de esperança e nova vitalidade. No espaço da incerteza e da falência de bancos, toda a gente quer acreditar que tudo é possível.
Mas também nem tudo é rosas. Já vi muitos editoriais liberais surpreendidos com a liderança Obama. Um era do NYT sobre a manutenção do segredo de estado nalguns presos de Guantanamo. Muitos estão no WSJ, onde o Karl Rove escreve.
A ver no que isto dá.
Yes, we can.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Procastination II
Adoro a CNN. A sério. Adoro a CNN.
É tipo a TVI cá do sítio, mas com muito mais horror e sangue, dado que estamos nos Estados Unidos e as armas vendem como pãezinhos quentes. Além disso, no país da eficiência, cada notícia escabrosa vem acompanhada de pequenos bullets que resumem a tragédia a um rodapé da vida diária "* Pai discutiu com mãe; *Mãe matou dois filhos; * Pai levou a família para o hospital".
A CNN tem sempre um link que nos distrai, uma pessoa a quem aconteceu uma coisa mais horrível que a nós. Que conforto.
No outro dia, vi que no meu estado um pai de família foi alvejado num cinema por fazer barulho (Acho bem, o cinema é para se estar calado). E um puto de 11 anos matou a futura madrasta que, por acaso, estava grávida. É assim, dia sim, dia não, há uns quantos maluquitos, alguns precoces que pegam na arma e matam alguém. É claro que isso faz sempre notícia.
Mas a CNN tem classe. A CNN não é só sangue. A CNN também fala de política. É claro que é preciso escolher as notícias. Ontem, por exemplo, havia uma muito boa sobre a Michelle Obama. A nova Primeira Dama é a mais cool de sempre, um fashion icon, uma role model, a Mãe primordial, eu sei lá. E agora a nova moda é andar de braços destapados no Inverno como a Primeira Dama, porque ela escolhe uns vestidinhos sem mangas todos giros para o Congresso.
As notícias também apanham os desgraçadinhos de sempre. Agora, por causa da crise, há sempre um link para um coitado que perdeu tudo "De Beverly Hills para a quinta a apanhar esterco"; "De 100 mil por ano a engraxar sapatos". Giro. Hoje havia uma notícia sobre um pai desesperado, antigo cidadão modelo, que tentou assaltar um banco. Surpresa, surpresa, foi apanhado.
Mas é claro que se não tivesse que trabalhar não lia a CNN.
É tipo a TVI cá do sítio, mas com muito mais horror e sangue, dado que estamos nos Estados Unidos e as armas vendem como pãezinhos quentes. Além disso, no país da eficiência, cada notícia escabrosa vem acompanhada de pequenos bullets que resumem a tragédia a um rodapé da vida diária "* Pai discutiu com mãe; *Mãe matou dois filhos; * Pai levou a família para o hospital".
A CNN tem sempre um link que nos distrai, uma pessoa a quem aconteceu uma coisa mais horrível que a nós. Que conforto.
No outro dia, vi que no meu estado um pai de família foi alvejado num cinema por fazer barulho (Acho bem, o cinema é para se estar calado). E um puto de 11 anos matou a futura madrasta que, por acaso, estava grávida. É assim, dia sim, dia não, há uns quantos maluquitos, alguns precoces que pegam na arma e matam alguém. É claro que isso faz sempre notícia.
Mas a CNN tem classe. A CNN não é só sangue. A CNN também fala de política. É claro que é preciso escolher as notícias. Ontem, por exemplo, havia uma muito boa sobre a Michelle Obama. A nova Primeira Dama é a mais cool de sempre, um fashion icon, uma role model, a Mãe primordial, eu sei lá. E agora a nova moda é andar de braços destapados no Inverno como a Primeira Dama, porque ela escolhe uns vestidinhos sem mangas todos giros para o Congresso.
As notícias também apanham os desgraçadinhos de sempre. Agora, por causa da crise, há sempre um link para um coitado que perdeu tudo "De Beverly Hills para a quinta a apanhar esterco"; "De 100 mil por ano a engraxar sapatos". Giro. Hoje havia uma notícia sobre um pai desesperado, antigo cidadão modelo, que tentou assaltar um banco. Surpresa, surpresa, foi apanhado.
Mas é claro que se não tivesse que trabalhar não lia a CNN.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Go, Steelers, go!
Lembram-se da polémica sobre o mamilo da Janet Jackson a aparecer na televisão, há uns anos atrás? Pois bem, esse mamilo apareceu no intervalo de um dos clímaxes anuais da televisão americana: a Super Bowl.
A SuperBowl é nada mais, nada menos, que uma SuperTaça - o jogo que decide quem é a melhor, melhoríssima e mais bestial equipa de futebol americano dos EUA, mundo e arredores.
A minha cidade, Pittsburgh, é mãe dos Steelers, uma das melhores equipas de football dos States. Calculo que o nome tenha a ver com Steel (esta é a cidade de Andrew Carnegie, after all). Em todo o caso, os tipos são bons.
Foram tão bons que chegaram à final, disputada no Domingo passado. Pelo meio, deixaram a cidade de alvoroço e obrigaram-me a aprender as regras de futebol americano. (É difícil, meus amigos, é difícil.)
Há duas semanas que a cidade sabia que podia ganhar a SuperTaça. Na minha universidade (ainda) há logos dos Steelers um pouco por toda a parte e os autocarros, além do destino habitual, diziam, até ao Domingo passado, "Go, Steelers, Go!". Sendo o jogo num Domingo, na 2ª as escolas públicas abriram 2h mais tarde, para dar tempo para festejar.
É claro que fui ver o jogo para um bar, equipada com a minha Terrible Towel. A Terrible Towel é um pedaço oficial de pano amarelo que diz Terrible Towel (sim, isso mesmo). É um objecto tradicional de apoio e de claque. Quando acontece alguma coisa boa, a Steeler Nation agita a Terrible Towel (a minha era special edition, ainda por cima).
Pois bem, comecei assim meio desapaixonada a ver um jogo muito competitivo. Acabei aos urros a puxar pelos Pittsburghianos. Sim, soltei a Steeler que há em mim.
Resultou. Os Steelers ganharam.
Mas a SuperBowl é muito mais do que um jogo. A SuperBowl é a quintessência do espetáculo americano, dos anúncios ao show do intervalo, passando pelo jogo. Com milhões a assistirem, cada pedaço de 30'' de anúncios custou milhões de dólares. Os anúncios em si constitutem o clímax da arte de publicitar e são quase tão badalados como o jogo em si. (Verdade. Um dia depois do jogo a CNN tinha tantos links para o jogo como links para os melhores e piores anúncios). Fazer xixi, só depois do jogo, portanto.
Outro pormenor é o show do intervalo. Desta vez foi o Boss a agitar as massas. Pior que os anúncios.
Entretanto, depois do jogo, foi tempo para brincar às buzinas e para soltar o hooligan que há em todos nós. Em Oakland, a parte da cidade dominada por estudantes universitários (undergrads), a alegria era muita e esfuziava de várias maneiras. Havia muita gente contente aos abraços, a assistir a uns quantos que partiam montras ou faziam fogueiras com material avulso como barreiras da polícia e arbustos públicos. Uma paragem de autocarro foi destruída e um carro virado. Quatro helicópteros (alguns de televisão) observavam a multidão do alto e havia polícias a cavalo e de carro.
Não gostei. Não me senti segura ou feliz. O chão escorregava e as pessoas eram brutas. Não havia música como vi em Lisboa durante o Euro mas sim foguetes lançados para o ar. Cheirava a álcool e a plástico queimado, a histeria sem razão. (E só me lembrei que nestas terras qualquer um traz uma pistola para um sítio destes e começa a disparar. Sad, but true.)
Depois, fui para casa dormir.
A SuperBowl é nada mais, nada menos, que uma SuperTaça - o jogo que decide quem é a melhor, melhoríssima e mais bestial equipa de futebol americano dos EUA, mundo e arredores.
A minha cidade, Pittsburgh, é mãe dos Steelers, uma das melhores equipas de football dos States. Calculo que o nome tenha a ver com Steel (esta é a cidade de Andrew Carnegie, after all). Em todo o caso, os tipos são bons.
Foram tão bons que chegaram à final, disputada no Domingo passado. Pelo meio, deixaram a cidade de alvoroço e obrigaram-me a aprender as regras de futebol americano. (É difícil, meus amigos, é difícil.)
Há duas semanas que a cidade sabia que podia ganhar a SuperTaça. Na minha universidade (ainda) há logos dos Steelers um pouco por toda a parte e os autocarros, além do destino habitual, diziam, até ao Domingo passado, "Go, Steelers, Go!". Sendo o jogo num Domingo, na 2ª as escolas públicas abriram 2h mais tarde, para dar tempo para festejar.
É claro que fui ver o jogo para um bar, equipada com a minha Terrible Towel. A Terrible Towel é um pedaço oficial de pano amarelo que diz Terrible Towel (sim, isso mesmo). É um objecto tradicional de apoio e de claque. Quando acontece alguma coisa boa, a Steeler Nation agita a Terrible Towel (a minha era special edition, ainda por cima).
Pois bem, comecei assim meio desapaixonada a ver um jogo muito competitivo. Acabei aos urros a puxar pelos Pittsburghianos. Sim, soltei a Steeler que há em mim.
Resultou. Os Steelers ganharam.
Mas a SuperBowl é muito mais do que um jogo. A SuperBowl é a quintessência do espetáculo americano, dos anúncios ao show do intervalo, passando pelo jogo. Com milhões a assistirem, cada pedaço de 30'' de anúncios custou milhões de dólares. Os anúncios em si constitutem o clímax da arte de publicitar e são quase tão badalados como o jogo em si. (Verdade. Um dia depois do jogo a CNN tinha tantos links para o jogo como links para os melhores e piores anúncios). Fazer xixi, só depois do jogo, portanto.
Outro pormenor é o show do intervalo. Desta vez foi o Boss a agitar as massas. Pior que os anúncios.
Entretanto, depois do jogo, foi tempo para brincar às buzinas e para soltar o hooligan que há em todos nós. Em Oakland, a parte da cidade dominada por estudantes universitários (undergrads), a alegria era muita e esfuziava de várias maneiras. Havia muita gente contente aos abraços, a assistir a uns quantos que partiam montras ou faziam fogueiras com material avulso como barreiras da polícia e arbustos públicos. Uma paragem de autocarro foi destruída e um carro virado. Quatro helicópteros (alguns de televisão) observavam a multidão do alto e havia polícias a cavalo e de carro.
Não gostei. Não me senti segura ou feliz. O chão escorregava e as pessoas eram brutas. Não havia música como vi em Lisboa durante o Euro mas sim foguetes lançados para o ar. Cheirava a álcool e a plástico queimado, a histeria sem razão. (E só me lembrei que nestas terras qualquer um traz uma pistola para um sítio destes e começa a disparar. Sad, but true.)
Depois, fui para casa dormir.
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