"Do you know your sins are forgiven?"
"Do you realize that God loves you?"
"Do you know the Lord offers you eternal life?"
Esta mensagem foi colada por alguém num autocarro que me levou da universidade a casa. Anúncios de Deus aparecem às vezes na cidade (e talvez ele também, quem sabe). No outro dia um judeu ortodoxo deixou-me um papelucho na mão. Qualquer coisa sobre não matar, não roubar e não ter sexo. Também vêm a casa perguntar se queremos receber a palavra de Deus a cores ("Mas sabe que esta revista é inspirada na Bíblia? Tem mesmo a certeza que...?").
Mas religião organizada é outra coisa. No outro dia apanhei num canal de televisão um americano do Sul a pregar para um estádio coberto. Talvez deus tenha feito outro milagre de multiplicação dos peixes, era um sermão com ouvintes a perder de vista. Jesus devia estar contente. Epá, e o tipo era bom. Mais uma perturbaçãozita na auto-estima e este blog passava a "Cristo-mail-us".
Fiquei a ouvi-lo sem me cansar e percebi que aqui há uma grande preocupação com a saúde dos negócios (pelo contrário, em portugal, como não há tantos negócios, é só com a saúde). O profeta falava para uma população de empreendedores, certamente eleitos, mas com problemas muito comuns. Nada de falar mal da promoção do mal-jeitoso que nos passou à frente. Acredite, Deus vai recompensá-lo.
E também cheguei à conclusão que não é só Deus que é omnipresente, a Crise também o é. Este discurso sobre ter fé era complementado com advertências económicas. Supostamente, este é o momento de acreditar em Deus, porque se passarmos a ter fé Deus escolhe-nos para provar que é bom e todo poderoso.
É claro que nós fazemos parte do grupo de controlo, cuja função é ter inveja dos que ficam ricos e vão à missa. Mas como Deus nos ama, e temos a vida eterna garantida de qualquer modo, para quê preocuparmo-nos?
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Glimpses of America (II)
A crise persegue os americanos. Neste anúncio de uma pizzaria da minha zona lê-se "Save gas, we deliver".
Mas este anúncio foi tirado em Julho. Entretanto, a procura de gasolina diminui(u) nos EUA e o preço do barril desceu (vi no NYT). O que, convenhamos, não é assim tão mau. Diria mesmo, é bem bom.
O "american waste" é, de facto, muito grande. Começa logo com a comida. Na minha universidade, é tudo descartável, todos os dias. Na maior parte das localizações o almoço é servido em caixas de plástico (pronto a levar) e come-se com talheres de plástico, de deitar fora (alguns são tão bons que estou a fazer colecção para a casa nova). Agora façam as contas.
Mas este anúncio foi tirado em Julho. Entretanto, a procura de gasolina diminui(u) nos EUA e o preço do barril desceu (vi no NYT). O que, convenhamos, não é assim tão mau. Diria mesmo, é bem bom.
O "american waste" é, de facto, muito grande. Começa logo com a comida. Na minha universidade, é tudo descartável, todos os dias. Na maior parte das localizações o almoço é servido em caixas de plástico (pronto a levar) e come-se com talheres de plástico, de deitar fora (alguns são tão bons que estou a fazer colecção para a casa nova). Agora façam as contas.
Glimpses of America (I)
Aqui é tudo muito lavadinho. O anúncio abaixo está nas casas-de-banho da minha universidade. É comum encontrar em casas de banho dos restaurantes anúncios que dizem "employees are required to wash hands before work". (Não sei se me deva assustar por em Portugal nunca ter visto anúncios destes, ou se o que é preocupante é terem de haver anúncios destes nos EUA...)
Entretanto, de facto, este anúncio faz um certo sentido pittsburghiano (americano?). As regras da boa-educação saúdam-nos (e perseguem-nos) em todo o lado. Não é só as pessoas serem mais afáveis. É uma simpatia diferente da portuguesa. A amabilidade tuga é assim meio trôpega e espontânea, palita-se o dente enquanto se explicam direcções. Mas vem do fundo do coração luso, pá. Por outro lado, a polidez americana é mais delicada, própria de quem bebe chá com o mindinho direitinho. Pedem desculpa se estacionam o carro no passeio, e têm cuidado para os cães não irem ao encontro de transeuntes incautos. No autocarro, o condutor olha-nos nos olhos quando nos vamos embora e nós dizemos "bye", ao que ele responde "bye" ou (aprendam que eu não duro sempre, esta frase dá para tudo) "have a good one".
Este tipo de polidez era extremamente comentada pelos tugas emigrantes que eu conhecia. É controversa: alguns veêm-na como um sinal da superficialidade americana, outros não. Eu gosto e dou-me muito bem com ela. É bom ser bem-educado.
Entretanto, de facto, este anúncio faz um certo sentido pittsburghiano (americano?). As regras da boa-educação saúdam-nos (e perseguem-nos) em todo o lado. Não é só as pessoas serem mais afáveis. É uma simpatia diferente da portuguesa. A amabilidade tuga é assim meio trôpega e espontânea, palita-se o dente enquanto se explicam direcções. Mas vem do fundo do coração luso, pá. Por outro lado, a polidez americana é mais delicada, própria de quem bebe chá com o mindinho direitinho. Pedem desculpa se estacionam o carro no passeio, e têm cuidado para os cães não irem ao encontro de transeuntes incautos. No autocarro, o condutor olha-nos nos olhos quando nos vamos embora e nós dizemos "bye", ao que ele responde "bye" ou (aprendam que eu não duro sempre, esta frase dá para tudo) "have a good one".
Este tipo de polidez era extremamente comentada pelos tugas emigrantes que eu conhecia. É controversa: alguns veêm-na como um sinal da superficialidade americana, outros não. Eu gosto e dou-me muito bem com ela. É bom ser bem-educado.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Speaking american
Vim para a américa, pensava que tinha que falar inglês. Mas aqui o inglês só se fala dentro dos escritórios dos professores e é quando o assunto é investigação. Logo aí se vê que o seu interesse é limitado e que palavras inglesas chegam a muito poucos sítios.
Na América da vida real fala-se americano, em diferentes versões.
Europeus a falar inglês constituem o nível mais fácil: falam todos em sotaques assumidamente diferentes e há a mesma tolerância aos erros e trocas de sujeito e predicado. Engraçado como a música de cada língua transpira mesmo quando falamos numa língua que não é a nossa: espanhois, italianos, ingleses, franceses e alemães ficam sem máscara assim que abrem a boca. Sinto-me muito à vontade nesta língua: é como se eu e o outro habitássemos a mesma casa.
Por outro lado, falar com um americano é falar com uma pessoa que já conhece os cantos todos da casa. Só o facto em si deixa-me nervosa, e mais consciente do advérbio de modo atrás da vírgula.
De nível mais avançado são as estaladas verbais que condutores de autocarro e atendedores de caixa nos pregam quando menos esperamos. Curtas, rápidas e referentes a outras regras culturais, estas pequenas frases faziam-me repetir "what?" como um papagaio. Felizmente, é só preciso perceber uma vez que às vezes se mostra o passe quando se sai do autocarro (e não quando se entra) e que se tiver um "advantage card" do supermercado pago menos.
Americano no seu nível mais avançado encontra-se sobretudo em festas. Aqui existe de tudo, desde chineses sorridentes e mudos a americanos inteligentes que falam rápido. Ainda se está no meio da digestão de uma ideia, já está o americano a começar com outra. Chato. Mais difícil só se o americano inteligente estiver bebedo e misturar piadas ou ideias falsas no diálogo.
É claro que é preciso persistência, dedicação e talvez uns copos para chegar a este nível de compreensão. Em todo o caso, não pretendo ficar por aqui... para falar americano a sério é preciso vencer todos estes testes e mais um: falar com sopinhas de massa americanos. Isso sim, é difícil.
Na América da vida real fala-se americano, em diferentes versões.
Europeus a falar inglês constituem o nível mais fácil: falam todos em sotaques assumidamente diferentes e há a mesma tolerância aos erros e trocas de sujeito e predicado. Engraçado como a música de cada língua transpira mesmo quando falamos numa língua que não é a nossa: espanhois, italianos, ingleses, franceses e alemães ficam sem máscara assim que abrem a boca. Sinto-me muito à vontade nesta língua: é como se eu e o outro habitássemos a mesma casa.
Por outro lado, falar com um americano é falar com uma pessoa que já conhece os cantos todos da casa. Só o facto em si deixa-me nervosa, e mais consciente do advérbio de modo atrás da vírgula.
De nível mais avançado são as estaladas verbais que condutores de autocarro e atendedores de caixa nos pregam quando menos esperamos. Curtas, rápidas e referentes a outras regras culturais, estas pequenas frases faziam-me repetir "what?" como um papagaio. Felizmente, é só preciso perceber uma vez que às vezes se mostra o passe quando se sai do autocarro (e não quando se entra) e que se tiver um "advantage card" do supermercado pago menos.
Americano no seu nível mais avançado encontra-se sobretudo em festas. Aqui existe de tudo, desde chineses sorridentes e mudos a americanos inteligentes que falam rápido. Ainda se está no meio da digestão de uma ideia, já está o americano a começar com outra. Chato. Mais difícil só se o americano inteligente estiver bebedo e misturar piadas ou ideias falsas no diálogo.
É claro que é preciso persistência, dedicação e talvez uns copos para chegar a este nível de compreensão. Em todo o caso, não pretendo ficar por aqui... para falar americano a sério é preciso vencer todos estes testes e mais um: falar com sopinhas de massa americanos. Isso sim, é difícil.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Se o jantar da Ana fosse em Pittsburgh
Não diríamos obrigada ao empregado, mas sim "Thank you".
Não poderíamos ir a um restaurante testósteronico. Aqui, os restaurantes são tão fashion e assépticos que fazem as migalhas sentir-se fora do esquema de decoração.
Também não teríamos direito a pão alentejano e queijos rançosos antes do bacalhau com natas e do caldo verde. Em vez disso, trar-nos-iam bebidas frescas e, na falta de azeitonas, poderíamos chupar as pedras de gelo que, por omissão, vêm sempre dentro do copo.
Não haveria coisas simples e boas, como azeite ou salada a saber a alface. Seria muito difícil encontrar peixe a cheirar a rio e mar. Mas teríamos imensos molhos à discrição e também poderíamos arriscar uns bolos de caranguejo.
Não precisaríamos de esbracejar caso quiséssemos um palito ou a conta. O nosso desejo seria antecipado pelo empregado. Mas ele não nos ofereceria leite creme ou cheese cake, na esperança que nos fôssemos embora mais cedo. Assim, poderá atender mais doadores de gorjetas.
Em vez de ir ao Bairro, poderíamos ficar a divagar sobre a justiça da gorjeta. Poderíamos também discutir sobre a taxa em particular que gostaríamos de aplicar à nossa refeição (entre 15 a 20%) e qual o impacto disso na vida do ToZé que cirandou à nossa volta.
Ninguém poderia beber bica. Aqui só há bicas em locais escondidos da cidade.
O Guimas poderia discutir em voz alta vários cenários envolvendo os nossos vizinhos em cuecas, que todos eles sorririam para nós.
A Ana seria a pessoa mais originalmente bonita do restaurante, da área e, provavelmente, da cidade.
Não poderíamos ir a um restaurante testósteronico. Aqui, os restaurantes são tão fashion e assépticos que fazem as migalhas sentir-se fora do esquema de decoração.
Também não teríamos direito a pão alentejano e queijos rançosos antes do bacalhau com natas e do caldo verde. Em vez disso, trar-nos-iam bebidas frescas e, na falta de azeitonas, poderíamos chupar as pedras de gelo que, por omissão, vêm sempre dentro do copo.
Não haveria coisas simples e boas, como azeite ou salada a saber a alface. Seria muito difícil encontrar peixe a cheirar a rio e mar. Mas teríamos imensos molhos à discrição e também poderíamos arriscar uns bolos de caranguejo.
Não precisaríamos de esbracejar caso quiséssemos um palito ou a conta. O nosso desejo seria antecipado pelo empregado. Mas ele não nos ofereceria leite creme ou cheese cake, na esperança que nos fôssemos embora mais cedo. Assim, poderá atender mais doadores de gorjetas.
Em vez de ir ao Bairro, poderíamos ficar a divagar sobre a justiça da gorjeta. Poderíamos também discutir sobre a taxa em particular que gostaríamos de aplicar à nossa refeição (entre 15 a 20%) e qual o impacto disso na vida do ToZé que cirandou à nossa volta.
Ninguém poderia beber bica. Aqui só há bicas em locais escondidos da cidade.
O Guimas poderia discutir em voz alta vários cenários envolvendo os nossos vizinhos em cuecas, que todos eles sorririam para nós.
A Ana seria a pessoa mais originalmente bonita do restaurante, da área e, provavelmente, da cidade.
terça-feira, 15 de julho de 2008
Experiences with american waters
Água da torneira
A água aqui não sabe a rocha. Sabe a torneiras lavadinhas e a canos esterilizados. Não tem alma, mas deve ser mais higiénica.
Também não há água de nascente nos super-mercados. A mão invisível capitalista parece pouco incomodada com esta ausência. Até agora, só encontrei água a sério num café quase-alternativo. De resto, existe, sim, água engarrafada à venda, mas nasce em fábricas, não em rios a sério. Sabe ao mesmo que a caseira, mas está dentro de plástico.
Passado o choque inicial (feito sobretudo de desdém para com costumes de nações inferiores) resta saber qual é o valor real da água de nascente. Afinal, na falta de Caramulo, morre-se de sede?
O gosto por um sabor adquire-se (nota: perguntar a americanos se gostam mais de águas lusas). Não parece portanto chegar para argumento. Talvez a resposta esteja para além do prático... Será que a água para nós é mais do que um remédio para a sede? Se calhar ainda é um líquido encantado que cura fraquezas desde os romanos, e o nosso gosto pelos sais minerais ainda vem da esperança subreptícia que nos curem o reumático... Ou talvez seja só inércia, e sobre de um passado recente sem águas canalizadas (só nos anos 70 se procedeu a canalizações massivas). Em todo o caso, isso não explica porque é que no resto da Europa civilizada a água de nascente abunda.
Águas rápidas
Ora bem, fui fazer rafting (ie, FUI FAZER RAFTING, PESSOAL!!!!).
Tinha piquenicado perto de um rio e pensado "epá, até que era bom andar num rio destes". A associação de PhD's cá do sítio deve ter pensado o mesmo e pouco tempo depois recebi um e-mail sobre rafting organizado. Inscrevi-me logo.
No domingo acordei, vesti o biquini, pus espuma no cabelo, cheguei ao parque natural e disseram-me que tinha de remar. Isso e que tinha que pôr um capacete e um colete, que podia ser salva-vidas mas cheirava mal. No mesmo barco estavam cerca de 90 PhD's. Destes, 4 russos, uma russa, um tuga e uma francesa foram para o mesmo raft que eu.
E lá nos metemos ao rio, sem experiência mas cheios de vontade (de não morrer).
...
Suspiro. A Pocahontas era de certeza feliz. Mas feliz a sério, sem segundas intenções nem sorrisos amarelos.
Foram cerca de três horas vividas na ponta dos minutos, a agarrar-me ao bote para não cair se as águas assustavam, e a apreciar a beleza das encostas que desaguavam no rio quando a corrente acalmava. Três horas em que a vontade de viver foi pura e simples.
Também houve tempo para pescar chineses do rio e para assistir ao drama masculino que se desenrolava no raft. Confirmo que o Darwin está correcto e que a Pocahontas vem do chimpazé (e que os chineses são bons a matemática mas nabos a remar).
Cada raft tinha que ter um capitão, para que se pudesse trabalhar em equipa (e não morrer). Escolheu-se para macho alfa o tipo com experiência.... Coitado. Quase que foi violado por machos beta. E coitadas e coitados de todos nós, a arraia miúda. Infelizmente, os acessos maiores de macheza (omega) e consequente discussão coincidiam com os acessos de emoção: ou seja, quando estávamos prestes a embater em rochas ou em águas particularmente rápidas... Acalmado o rio, as fêmeas sossegavam então os ânimos masculinos (tal como no caso dos chimpazés).
Fiquei tão galvanizada por esta experiência que estou a pensar seriamente em comprar uma tenda (há uma promessa de acampamento em breve - espera-se que com entrada vedada a machos alfa). E talvez vá fazer hiking no Domingo.
A água aqui não sabe a rocha. Sabe a torneiras lavadinhas e a canos esterilizados. Não tem alma, mas deve ser mais higiénica.
Também não há água de nascente nos super-mercados. A mão invisível capitalista parece pouco incomodada com esta ausência. Até agora, só encontrei água a sério num café quase-alternativo. De resto, existe, sim, água engarrafada à venda, mas nasce em fábricas, não em rios a sério. Sabe ao mesmo que a caseira, mas está dentro de plástico.
Passado o choque inicial (feito sobretudo de desdém para com costumes de nações inferiores) resta saber qual é o valor real da água de nascente. Afinal, na falta de Caramulo, morre-se de sede?
O gosto por um sabor adquire-se (nota: perguntar a americanos se gostam mais de águas lusas). Não parece portanto chegar para argumento. Talvez a resposta esteja para além do prático... Será que a água para nós é mais do que um remédio para a sede? Se calhar ainda é um líquido encantado que cura fraquezas desde os romanos, e o nosso gosto pelos sais minerais ainda vem da esperança subreptícia que nos curem o reumático... Ou talvez seja só inércia, e sobre de um passado recente sem águas canalizadas (só nos anos 70 se procedeu a canalizações massivas). Em todo o caso, isso não explica porque é que no resto da Europa civilizada a água de nascente abunda.
Águas rápidas
Ora bem, fui fazer rafting (ie, FUI FAZER RAFTING, PESSOAL!!!!).
Tinha piquenicado perto de um rio e pensado "epá, até que era bom andar num rio destes". A associação de PhD's cá do sítio deve ter pensado o mesmo e pouco tempo depois recebi um e-mail sobre rafting organizado. Inscrevi-me logo.
No domingo acordei, vesti o biquini, pus espuma no cabelo, cheguei ao parque natural e disseram-me que tinha de remar. Isso e que tinha que pôr um capacete e um colete, que podia ser salva-vidas mas cheirava mal. No mesmo barco estavam cerca de 90 PhD's. Destes, 4 russos, uma russa, um tuga e uma francesa foram para o mesmo raft que eu.
E lá nos metemos ao rio, sem experiência mas cheios de vontade (de não morrer).
...
Suspiro. A Pocahontas era de certeza feliz. Mas feliz a sério, sem segundas intenções nem sorrisos amarelos.
Foram cerca de três horas vividas na ponta dos minutos, a agarrar-me ao bote para não cair se as águas assustavam, e a apreciar a beleza das encostas que desaguavam no rio quando a corrente acalmava. Três horas em que a vontade de viver foi pura e simples.
Também houve tempo para pescar chineses do rio e para assistir ao drama masculino que se desenrolava no raft. Confirmo que o Darwin está correcto e que a Pocahontas vem do chimpazé (e que os chineses são bons a matemática mas nabos a remar).
Cada raft tinha que ter um capitão, para que se pudesse trabalhar em equipa (e não morrer). Escolheu-se para macho alfa o tipo com experiência.... Coitado. Quase que foi violado por machos beta. E coitadas e coitados de todos nós, a arraia miúda. Infelizmente, os acessos maiores de macheza (omega) e consequente discussão coincidiam com os acessos de emoção: ou seja, quando estávamos prestes a embater em rochas ou em águas particularmente rápidas... Acalmado o rio, as fêmeas sossegavam então os ânimos masculinos (tal como no caso dos chimpazés).
Fiquei tão galvanizada por esta experiência que estou a pensar seriamente em comprar uma tenda (há uma promessa de acampamento em breve - espera-se que com entrada vedada a machos alfa). E talvez vá fazer hiking no Domingo.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
These were a few of my favorite things
***********************************************************************************
Smiles on faces and hope in the air
Jews that fart and green organic spinach
Buses that look like the StarStrek spaceship
These were a few of my favorite things.
Luxurious forests and the vastitude of the plain
Miss Marple talking about anal sex late in the night
Learning things when I least expected it
These were a few of my favorite things.
When I can't find juices made of fruit
When I don't know whether to form a queue or not
When I'm feeling sad,
I simply remember my favourite things,
And then I don't feel, so bad.
http://www.youtube.com/watch?v=LUno0WNot5U
***********************************************************************************
Às vezes estranhos sorriem-me só porque os nossos olhos por acaso se cruzaram na rua. Este insólito acontecimento já foi relatado por outros portugueses. E parece-me que existe aqui uma maior propensão à delicadeza formal, com mais "excuse me" e "sorry" por diálogo. Acrescentei o "hope in the air" porque a américa é a rainha do optimismo e das (pequenas e grandes) respostas construtivas. Acredita-se em soluções rápidas. Em todo o caso, isto contribui para uma certa atmosfera acolhedora e promissora.
Acolhedora também é a minha vizinhança. Estou agora a viver no bairro judeu da cidade. Veêm-se muitos rapazes com barbas messiânicas e chapeuzinhos pretos no cucuruto da cabeça. Tudo muito ortodoxo, portanto. Mas todos os humanos têm intestino, mesmo aqueles que não têm estômago para hóstias... Uma manhãzinha, ao sair de casa, sou surpreendida por um judeu a lançar foguetes à Dia da Independência, daqueles que silenciam a passarada. Somos todos irmãos depois de uma boa feijoada.
Também eu tive um momento Star Trek no outro dia. O captain Kirk cá do sítio foi um motorista anónimo da Carris Pittsburghiana. Para deixar entrar um deficiente em cadeira de rodas, carregou num botãozinho e logo uma plataforma elevatória emergiu do autocarro, transformando o transporte "público" num transporte mesmo público.
Mas a comida é cara e os mais pobres são os mais gordos (facto). Apesar disso, há mais opções para os mais ricos (entre os quais estão actualmente todos os EUROpeus). O meu Pingo Doce tem uma marca branca Bio que inclui desde vegetais (incluindo espinafres crus tenrinhos) a massas, passando por leite e ovos. Agora compro tudo Bio, sobretudo porque tenho a impressão que, no país dos transgénicos e das patentes, o que não é Bio é letal a médio prazo.
Por outro lado, o clima tropical propicia uma vastidão luxuriante e verde que faz Sintra parecer-se com as traseiras de um quintal. Não há incêndios, mas sim bambis à discrição.
Os media também oferecem surpresas. No outro dia, às 3 da manhã, à espera que o computador se despachasse com os cálculos, pus-me a ver televisão. Por entre cerca de 50 canais, alguns com messias cristãos a tentarem-me convencer que um milagre me poderia acontecer (logo a mim), encontrei uma Miss Marple a dar conselhos sobre sexo anal às espectadoras interessadas. A Miss estava muito à vontade, e acompanhava as advertências com gestos auto-explicativos sobre o que devia entrar onde e de que maneira.
Mas, passado um mês, ainda não consegui perceber onde e quando e se deverei mesmo fazer fila para os autocarros. De facto, só há pouco tempo é que percebi que a ordem que eu via no amontoado de gente era invísivel para os meus companheiros de paragem. Agora estou presa entre culturas.
E, para meu desgosto, existem mil sumos à base de concentrado e apenas sumos de laranja amargos feitos com fruta a sério.
Mas isso não é suficiente para me deixar sad.
Smiles on faces and hope in the air
Jews that fart and green organic spinach
Buses that look like the StarStrek spaceship
These were a few of my favorite things.
Luxurious forests and the vastitude of the plain
Miss Marple talking about anal sex late in the night
Learning things when I least expected it
These were a few of my favorite things.
When I can't find juices made of fruit
When I don't know whether to form a queue or not
When I'm feeling sad,
I simply remember my favourite things,
And then I don't feel, so bad.
http://www.youtube.com/watch?v=LUno0WNot5U
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Às vezes estranhos sorriem-me só porque os nossos olhos por acaso se cruzaram na rua. Este insólito acontecimento já foi relatado por outros portugueses. E parece-me que existe aqui uma maior propensão à delicadeza formal, com mais "excuse me" e "sorry" por diálogo. Acrescentei o "hope in the air" porque a américa é a rainha do optimismo e das (pequenas e grandes) respostas construtivas. Acredita-se em soluções rápidas. Em todo o caso, isto contribui para uma certa atmosfera acolhedora e promissora.
Acolhedora também é a minha vizinhança. Estou agora a viver no bairro judeu da cidade. Veêm-se muitos rapazes com barbas messiânicas e chapeuzinhos pretos no cucuruto da cabeça. Tudo muito ortodoxo, portanto. Mas todos os humanos têm intestino, mesmo aqueles que não têm estômago para hóstias... Uma manhãzinha, ao sair de casa, sou surpreendida por um judeu a lançar foguetes à Dia da Independência, daqueles que silenciam a passarada. Somos todos irmãos depois de uma boa feijoada.
Também eu tive um momento Star Trek no outro dia. O captain Kirk cá do sítio foi um motorista anónimo da Carris Pittsburghiana. Para deixar entrar um deficiente em cadeira de rodas, carregou num botãozinho e logo uma plataforma elevatória emergiu do autocarro, transformando o transporte "público" num transporte mesmo público.
Mas a comida é cara e os mais pobres são os mais gordos (facto). Apesar disso, há mais opções para os mais ricos (entre os quais estão actualmente todos os EUROpeus). O meu Pingo Doce tem uma marca branca Bio que inclui desde vegetais (incluindo espinafres crus tenrinhos) a massas, passando por leite e ovos. Agora compro tudo Bio, sobretudo porque tenho a impressão que, no país dos transgénicos e das patentes, o que não é Bio é letal a médio prazo.
Por outro lado, o clima tropical propicia uma vastidão luxuriante e verde que faz Sintra parecer-se com as traseiras de um quintal. Não há incêndios, mas sim bambis à discrição.
Os media também oferecem surpresas. No outro dia, às 3 da manhã, à espera que o computador se despachasse com os cálculos, pus-me a ver televisão. Por entre cerca de 50 canais, alguns com messias cristãos a tentarem-me convencer que um milagre me poderia acontecer (logo a mim), encontrei uma Miss Marple a dar conselhos sobre sexo anal às espectadoras interessadas. A Miss estava muito à vontade, e acompanhava as advertências com gestos auto-explicativos sobre o que devia entrar onde e de que maneira.
Mas, passado um mês, ainda não consegui perceber onde e quando e se deverei mesmo fazer fila para os autocarros. De facto, só há pouco tempo é que percebi que a ordem que eu via no amontoado de gente era invísivel para os meus companheiros de paragem. Agora estou presa entre culturas.
E, para meu desgosto, existem mil sumos à base de concentrado e apenas sumos de laranja amargos feitos com fruta a sério.
Mas isso não é suficiente para me deixar sad.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Believe in the beauty of your dreams (Eleanor Roosevelt)
7 do 7, faço 27 anos. Sozinha ou acompanhada tinha que festejar.
Apeteceu-me fazê-lo acompanhada, o que, numa cidade estranha onde não conheço assim tantas pessoas, é menos linear do que em Lisboa (em que se manda um e-mail aos suspeitos do costume, vai-se ao Pingo Doce comprar uns comes e bebes e acaba-se a tarde a dar corda ao cérebro com as deambulações habituais sobre a possibilidade eventual dos números primos serem racionais).
Em primeiro lugar há que escolher o sítio: original, barato, aonde se possa chegar sem carro e sair sem ser de boleia. Not easy. Andei às voltas com o guia de Pittsburgh, surfei na net e encontrei - pensei eu - o lugar ideal.
Agora é a parte de tentar mandar um e-mail engraçado, nem demasiado seco nem demasiado tolo, inteligente q.b., alegre q.b. numa língua que não é a minha. Ok.
E depois é a escolha de pessoas. Como se escolhem as pessoas num sítio aonde a intimidade ainda não é uma realidade? Aonde não posso dizer que me sinto identificada com a maior parte das pessoas que encontrei?
É estranho sermos cuspidos assim num mundo alienígena, e de repente só conhecermos duas ou três pessoas numa cidade. De repente, essas duas ou três pessoas são a nossa ponte com o mundo dos humanos. E tornam-se mais vitais. Mas adaptarmo-nos não é a mesma coisa que sentir aquele clique misterioso que por vezes acontece entre pessoas e que nos faz sentir em casa. É mais engolir em seco, sorrirmos, e sentirmo-nos menos sozinhos por entre palavras que não nos dizem assim tanto. Esperar. A polidez às vezes quebra-se, assim meio de surpresa, e vislumbres da humanidade genuína do outro aparecem. Outras vezes não, e ficamo-nos pelos cartoons de estudantes PhDs inteligentes e sabidos... É assim: os outros não se prevêm, acontecem.
Mas foi num ambiente de espera optimista que reuni um grupo de portugueses e um americano para ir para o Dowe's. O guia tinha prometido live jazz, e comida e bebida a preços moderados. Descobrimos um edifício vazio onde o menu á porta fora substituido por uma nota de despejo. À turista, tinhamos sido enganados por um guia desactualizado! Sentindo o peso da antiguidade no burgo, o americano movido a net no telemóvel logo divisou outro plano. Atravessámos uma ponte, passeámos pela margem do rio e fomos para outro bar. Muito melhor.
E foram estes os meus anos. O título do post vem de um marcador com luas e estrelas que a A., uma matemática que faz ballet, me ofereceu.
A minha cidade, ao entardecer...
O passeio, o rio, e patos
E haviam 7 pessoas à mesa...
Apeteceu-me fazê-lo acompanhada, o que, numa cidade estranha onde não conheço assim tantas pessoas, é menos linear do que em Lisboa (em que se manda um e-mail aos suspeitos do costume, vai-se ao Pingo Doce comprar uns comes e bebes e acaba-se a tarde a dar corda ao cérebro com as deambulações habituais sobre a possibilidade eventual dos números primos serem racionais).
Em primeiro lugar há que escolher o sítio: original, barato, aonde se possa chegar sem carro e sair sem ser de boleia. Not easy. Andei às voltas com o guia de Pittsburgh, surfei na net e encontrei - pensei eu - o lugar ideal.
Agora é a parte de tentar mandar um e-mail engraçado, nem demasiado seco nem demasiado tolo, inteligente q.b., alegre q.b. numa língua que não é a minha. Ok.
E depois é a escolha de pessoas. Como se escolhem as pessoas num sítio aonde a intimidade ainda não é uma realidade? Aonde não posso dizer que me sinto identificada com a maior parte das pessoas que encontrei?
É estranho sermos cuspidos assim num mundo alienígena, e de repente só conhecermos duas ou três pessoas numa cidade. De repente, essas duas ou três pessoas são a nossa ponte com o mundo dos humanos. E tornam-se mais vitais. Mas adaptarmo-nos não é a mesma coisa que sentir aquele clique misterioso que por vezes acontece entre pessoas e que nos faz sentir em casa. É mais engolir em seco, sorrirmos, e sentirmo-nos menos sozinhos por entre palavras que não nos dizem assim tanto. Esperar. A polidez às vezes quebra-se, assim meio de surpresa, e vislumbres da humanidade genuína do outro aparecem. Outras vezes não, e ficamo-nos pelos cartoons de estudantes PhDs inteligentes e sabidos... É assim: os outros não se prevêm, acontecem.
Mas foi num ambiente de espera optimista que reuni um grupo de portugueses e um americano para ir para o Dowe's. O guia tinha prometido live jazz, e comida e bebida a preços moderados. Descobrimos um edifício vazio onde o menu á porta fora substituido por uma nota de despejo. À turista, tinhamos sido enganados por um guia desactualizado! Sentindo o peso da antiguidade no burgo, o americano movido a net no telemóvel logo divisou outro plano. Atravessámos uma ponte, passeámos pela margem do rio e fomos para outro bar. Muito melhor.
E foram estes os meus anos. O título do post vem de um marcador com luas e estrelas que a A., uma matemática que faz ballet, me ofereceu.
A minha cidade, ao entardecer...
O passeio, o rio, e patos
E haviam 7 pessoas à mesa...
Parabéns Dalí para aqui
Today
Parabéns Cris!
Parabéns Cristina! Feliz aniversário!
P.S: Tiradas pelo Henrique (tb tirei algumas) com a sua belíssima máquina, no convívio após a despedida do Jorge Martíns.
P.S: Tiradas pelo Henrique (tb tirei algumas) com a sua belíssima máquina, no convívio após a despedida do Jorge Martíns.
A nossa crisálida...
domingo, 6 de julho de 2008
Happy Birthday!
Happy Birthday, Cris!
sábado, 5 de julho de 2008
Random conversations about phone conversations
Uma das coisas que não estava à espera que fosse mais difícil nas Américas, foi a conversa telefónica. De facto, reconheço agora, do alto do meu mesito de experiência emigrante, que subestimei o telemóvel enquanto possível gerador de confusão existencial.
Aparentemente inocente, a conversa telefónica americana pode tornar-se espinhosa, ansiogénica e, em casos extremos, fazer uma emigrante inteligente parecer... digamos, parva mesmo [claro que isto não se aplica a mim*]:
As razões são várias:
1. Os expatriados têm sotaques que não se aprendem na escola.
Falar pelo telefone em inglês implica falar com emigrantes. Implica contactar com toda uma variedade de sub-sentidos, sub-sons e sub-piadas que, se consigo apreender [ou fingir que consigo] numa conversa presencial, não me deixam outra hipótese senão responder com um "Uh... Say that again?" meio tonto no meio de uma conversa telefónica.
2. As regras de conversação são diferentes.
Uma vez a Clélia riu-se dos portugueses dizerem "com licença" quando desligam o telefone. Nunca me ri porque, como boa tuga, sempre me pareceu normal dizer "com licença" antes de cortar as vazas à voz de alguém. Agora, mais do que normal, tenho a certeza que é útil. Já não é a primeira vez que fico a dialogar com ninguém, no meio (afinal era o fim) de qualquer coisa. Aqui não se avisa que se vai desligar. Adeus, bye, ok, e trás, cai a comunicação.
3. O telefone também fala, e é numa língua diferente.
O ruído de fundo da conversa não soa ao mesmo. Assim, é mais difícil perceber quando o outro desligou. Associado a 2, isto potencia os já referidos diálogos feitos de palavras que, afinal, nunca disse.
Por outro lado, o ruído de espera - "o Triiiiiiiiiiiim Triiiiiiiiiiiim" que nos diz que ainda não é agora que somos ouvidos - é diferente. O volume é mais baixo, e a frequência mais grave. Quando telefono para Portugal "o Triiiiiiiiiiiim Triiiiiiiiiiiim" volta ao mesmo, a indicar-me que já estou em território nacional.
4. As regras do mercado são diferentes.
Paga-se por receber e fazer chamadas. E não encontrei cartõezinhos recarregáveis, mas sim pacotes de minutos. É tudo gratuito ao fim de semana e às noites.
Ainda não estou há tempo suficiente para saber se isto tem um impacto significativo nas relações. Mas é claro que poderemos fazer várias conjecturas... Será que o facto de ser igualmente caro receber e fazer chamadas facilita a resposta a todas os telefonemas, dificultando a percepção do significado emocional da chamada perdida? Será que na Europa os constrangimentos da rede fazem com que o europeu normal tente só retornar as chamadas de pessoas com muito significado emocional? Será que o facto de o pacote de minutos ter de ser gasto no próprio mês aliado a uma mentalidade "eu quero tudo a que tenho direito" aumenta o número de chamadas a pessoas a quem, de outra forma, nunca ligaríamos? Se sim, será que isto nos confronta com a surpresa do outro e alarga o nosso círculo de relações satisfatórias, contribuindo para a felicidade em geral, ou será que enche o tele-ciber-espaço de lixo e boatos que nos fazem perder a fé na espécie humana?
* se por não ser inteligente, se por nunca poder ser confundida por parva fica a cargo de vocês decidir.
PS: entretanto, este post foi interrompido comigo a rir com o Rodrigo (meu companheiro de casa) até às lágrimas devido a este vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=HRhWXu93WFw
Aparentemente inocente, a conversa telefónica americana pode tornar-se espinhosa, ansiogénica e, em casos extremos, fazer uma emigrante inteligente parecer... digamos, parva mesmo [claro que isto não se aplica a mim*]:
As razões são várias:
1. Os expatriados têm sotaques que não se aprendem na escola.
Falar pelo telefone em inglês implica falar com emigrantes. Implica contactar com toda uma variedade de sub-sentidos, sub-sons e sub-piadas que, se consigo apreender [ou fingir que consigo] numa conversa presencial, não me deixam outra hipótese senão responder com um "Uh... Say that again?" meio tonto no meio de uma conversa telefónica.
2. As regras de conversação são diferentes.
Uma vez a Clélia riu-se dos portugueses dizerem "com licença" quando desligam o telefone. Nunca me ri porque, como boa tuga, sempre me pareceu normal dizer "com licença" antes de cortar as vazas à voz de alguém. Agora, mais do que normal, tenho a certeza que é útil. Já não é a primeira vez que fico a dialogar com ninguém, no meio (afinal era o fim) de qualquer coisa. Aqui não se avisa que se vai desligar. Adeus, bye, ok, e trás, cai a comunicação.
3. O telefone também fala, e é numa língua diferente.
O ruído de fundo da conversa não soa ao mesmo. Assim, é mais difícil perceber quando o outro desligou. Associado a 2, isto potencia os já referidos diálogos feitos de palavras que, afinal, nunca disse.
Por outro lado, o ruído de espera - "o Triiiiiiiiiiiim Triiiiiiiiiiiim" que nos diz que ainda não é agora que somos ouvidos - é diferente. O volume é mais baixo, e a frequência mais grave. Quando telefono para Portugal "o Triiiiiiiiiiiim Triiiiiiiiiiiim" volta ao mesmo, a indicar-me que já estou em território nacional.
4. As regras do mercado são diferentes.
Paga-se por receber e fazer chamadas. E não encontrei cartõezinhos recarregáveis, mas sim pacotes de minutos. É tudo gratuito ao fim de semana e às noites.
Ainda não estou há tempo suficiente para saber se isto tem um impacto significativo nas relações. Mas é claro que poderemos fazer várias conjecturas... Será que o facto de ser igualmente caro receber e fazer chamadas facilita a resposta a todas os telefonemas, dificultando a percepção do significado emocional da chamada perdida? Será que na Europa os constrangimentos da rede fazem com que o europeu normal tente só retornar as chamadas de pessoas com muito significado emocional? Será que o facto de o pacote de minutos ter de ser gasto no próprio mês aliado a uma mentalidade "eu quero tudo a que tenho direito" aumenta o número de chamadas a pessoas a quem, de outra forma, nunca ligaríamos? Se sim, será que isto nos confronta com a surpresa do outro e alarga o nosso círculo de relações satisfatórias, contribuindo para a felicidade em geral, ou será que enche o tele-ciber-espaço de lixo e boatos que nos fazem perder a fé na espécie humana?
* se por não ser inteligente, se por nunca poder ser confundida por parva fica a cargo de vocês decidir.
PS: entretanto, este post foi interrompido comigo a rir com o Rodrigo (meu companheiro de casa) até às lágrimas devido a este vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=HRhWXu93WFw
sexta-feira, 4 de julho de 2008
My 4th of July
... foi passado a beber litradas (na conversão americana, galonadas) de sumo de laranja (bio); a roer pedaços de pão e maçã, enquanto tentava (com uma pontinha de ansiedade, confesso) arranjar resultados dignos de figurarem num e-mail para o big boss. Só para descobrir, às 9 da noite que tinha uma base de dados com 40.000 entradas a mais, sem saber bem como.
Claro que desisti e fui à festa dos estudantes graduados, digo, grad students. Já lá estavam os outros tugas. Além disso, era perto da minha casa e portanto fui a pé, por avenidas suburbanas atipicamente bonitas. Estava um nevoeiro miudinho, e havia pirilampos a piscar no ar.
A festa em si foi breve. Conheci umas quantas pessoas, queimei umas faíscas e dei-me por satisfeita, vim para casa, já tinha espairecido o suficiente.
E foi isto o meu feriado. Não, não vou fazer grandes considerações sobre a maneira de viver o feriado à americana. De facto, não falei com ninguém sobre isso (e só agora me lembro que podia ter dado um bom tema de conversa).
Claro que desisti e fui à festa dos estudantes graduados, digo, grad students. Já lá estavam os outros tugas. Além disso, era perto da minha casa e portanto fui a pé, por avenidas suburbanas atipicamente bonitas. Estava um nevoeiro miudinho, e havia pirilampos a piscar no ar.
A festa em si foi breve. Conheci umas quantas pessoas, queimei umas faíscas e dei-me por satisfeita, vim para casa, já tinha espairecido o suficiente.
E foi isto o meu feriado. Não, não vou fazer grandes considerações sobre a maneira de viver o feriado à americana. De facto, não falei com ninguém sobre isso (e só agora me lembro que podia ter dado um bom tema de conversa).
terça-feira, 1 de julho de 2008
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