Amigos, por aqui faz frio. Muito frio.
Estão cerca de -15º Celsius, e com os factores de ajustamento devido ao vento, os peritos metereológicos dizem que isso equivale a -25ºC. Duas dezenas atrás do Zero. Epá. É muito. É demais.
Este frio infiltra-se no corpo e no espírito. A cara arde quando se anda na rua. O nariz doi. Mesmo com luvas, os dedos parece que se vão partir. As pontas ficam queimadas e doem no dia seguinte.
A percepção do tempo agudiza-se. Pequenos momentos parecem tormentos intermináveis e noutros pequenos instantes é o paraíso que desceu à terra.
Encontrar a chave de casa e abrir a porta do prédio é um pequeno e diário tormento de Tântalo. À beira do paraíso, o frio parece mais frio.
Entrar em casa e sentir o calor a entrar no corpo é um precioso milagre da civilização moderna.
Qualquer minuto na rua é um minuto a mais.
Como compreendo agora a tradicional reserva sueca, norueguesa e finlandesa. Quando está muito frio, só muito poucas e muito boas razões nos fazem sair de casa. Não é qualquer meio-conhecido que nos arrasta para o Bairro. Com tanto frio, só a certeza do reencontro com bons e velhos amigos nos faz suportar a geada. E abraços e outros gestos de afeição tornam-se mais difícieis por cima de várias camadas de roupa. Além de difíceis, são desconfortáveis, porque esticar o corpo com abraços e deixar a pele a descoberto é um convite ao arrepio.
A casa tem outro significado. Solidão aconchegada é o que sabe melhor quando faz frio.
Nunca pensei pensar assim. No Verão, às vezes tinha conversas com os meus amigos pittsburghianos sobre o Inverno. O que se fazia, o quê, como e onde. Espantados, diziam-me "Está frio! A única coisa que apetece é ficar em casa.". Pensei que toda a gente fosse assim menos eu.
Enganei-me.
A única coisa bonita é a neve. Ainda não me cansei. Por aqui neva muito, e de várias maneiras. Às vezes neva chuva congelada e percebe-se que os flocos são pesados. Outras vezes neva suavemente, e cristais brancos invadem as ruas e tornam o ambiente mais natalíceo e mágico. Depois de pairarem no ar, param no pelo das luvas e consegue-se perceber a sua preciosa estrutura de pequenas estrelas. Outras vezes nevam flocos grandes e leves, torrencialmente. Tapam tudo de branco. Vêm-me à memória as Páscoas que passava com os meus pais na Serra da Estrela e sinto-me bem e em casa.
É assim que está a ser o meu primeiro Inverno americano. Branco, e difícil.
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