domingo, 11 de janeiro de 2009

Qualifiers and ski

Na semana passada tive que fazer, como qualquer aluno num doutoramento americano, os qualifiers. Os qualifiers qualificam o aspirante a doutor a permanecer no doutoramento. Para mim, consistiram em 1 exame por dia numa semana (tirando um dia de intervalo), testando os meus conhecimentos das matérias (todas) que aprendi durante um ano e meio. No seu melhor, foram feitos de perguntas inteligentes e justas que até é interessante responder. No seu pior, tinham rasteiras mazinhas e mesquinhas que me tiraram a concentração, de tal forma me senti injustiçada pela pergunta.

Em todo o caso, os qualifiers rodeiam-se sempre de angústia e nervosismo. É difícil não pensar nas consequências destes exames. Ao contrário de outros testes, nos qualifiers não se tem nota. Ou passas ou chumbas, e se chumbares tudo o que fizeste no doutoramento é irrelevante. Vais para casa e arranjas um trabalho. Morreste na praia. Adeus e não há próxima.
É claro que exagero. Isto é só o que se pensa no início dos exames. A sequência de exames é tal que, mais ou menos a meio da semana, é difícil manter a lucidez. O estado de espírito passa de um nervosismo produtivo a um "Fuck it" doentio. A cada dia que passa é mais difícil estudar.

Enfim, depois desta semana tive a boa ideia de ir esquiar para celebrar. Boa ideia porque percebi que há uma coisa ainda pior que os qualifiers: andar de ski. Mil vezes outra semana de exames do que descer uma colina de skis. Mil vezes.
Só andar com as botas de ski é um pesadelo. São como armaduras de gesso que não deixam a perna mover bem. Botas de ski e skis, pior um bocadinho. Mas o pior, pior é mesmo botas de ski em skis em cima da neve. Não percebo.
O meu jeito típico para desportos veio mais uma vez ao de cima. A minha coordenação motora, exímia em cima de terra firme, mais exímia ficou em cima de gelo escorregadio. Em três incursões na neve, consegui chocar: i) contra o meu namorado; ii) contra uma fila de pessoas; iii) contra o meu namorado outra vez.
Fiquei exasperada. Comecei a antagonizar a neve. Nervosa, ansiava por terra firme. Ainda pensei, à Obi Wan, "Tu e a neve são um, insere-te no movimento". Qual quê. A neve era uma, eu outra, e via-se quem era mais inteligente. A neve ria-se às gargalhadas enquanto eu andava atormentada com visões de skis a enfiarem-se por tudo quanto é orgão sensível, com joelhos e pernas torcidas.

A boa notícia é que comprei umas luvas hiper-super-cromas. E que se tiver que fazer qualifiers outra vez, pensarei: "pelo menos não é ski".

5 comentários:

João Vasco disse...

Portanto, já se passou muita coisa que não foi aqui relatada..

Longe de me imiscuir nos critérios editoriais, estou curioso por saber as novidades.

Chocaste contra quem?

Anónimo disse...

O problema e q choquei contra muitas pessoas...

O Segredo Editorial nao me permite revelar mais nada.

Guillaume Riflet disse...

Wow, tens um namorado? Nice ;) Felicidades aos dois!

Tens um excelente estilo de escrita. I hope you keep up like that! Esses qualifiers parecem terríveis. Boa sorte!

Ana Mourao disse...

:D
Deixa estar, a minha primeira e única experiência com o ski consegue competir com a tua: ao calçar o 1º ski, a terra deixou de constituir terreno firme e conhecido; ao calçar o 2º, consegui chocar contra um poste publicitário (curiosamente, de uma escola de ski), depois de deslizar sem controlo alguns metros ao longo de um troço de neve perfeitamente horizontal (daí a pergunta transcendente que deixo aos físicos do grupo: como é que skis conseguem deslizar sozinhos em terreno absolutamente plano?!)
Mas mesmo assim, acho que preferiria repetir a experiência a fazer exames de aprovação de PhD :p
Boa sorte! (não que precises ;) )

Anónimo disse...

Bem, isto acabou por ser uma espécie de announcement involuntário...

Só outro comentário:
Eu ja tinha feitos desportos em que ha algum perigo (como o rafting). No entanto, a coisa pior do ski é q quando estás em apuros (a descer descontroladamente rápido ou a não conseguir parar) estás sozinho. És tu e a neve e ninguém te pode ajudar. Angustiante, meus amigos, angustiante.