Na semana passada tive que fazer, como qualquer aluno num doutoramento americano, os qualifiers. Os qualifiers qualificam o aspirante a doutor a permanecer no doutoramento. Para mim, consistiram em 1 exame por dia numa semana (tirando um dia de intervalo), testando os meus conhecimentos das matérias (todas) que aprendi durante um ano e meio. No seu melhor, foram feitos de perguntas inteligentes e justas que até é interessante responder. No seu pior, tinham rasteiras mazinhas e mesquinhas que me tiraram a concentração, de tal forma me senti injustiçada pela pergunta.
Em todo o caso, os qualifiers rodeiam-se sempre de angústia e nervosismo. É difícil não pensar nas consequências destes exames. Ao contrário de outros testes, nos qualifiers não se tem nota. Ou passas ou chumbas, e se chumbares tudo o que fizeste no doutoramento é irrelevante. Vais para casa e arranjas um trabalho. Morreste na praia. Adeus e não há próxima.
É claro que exagero. Isto é só o que se pensa no início dos exames. A sequência de exames é tal que, mais ou menos a meio da semana, é difícil manter a lucidez. O estado de espírito passa de um nervosismo produtivo a um "Fuck it" doentio. A cada dia que passa é mais difícil estudar.
Enfim, depois desta semana tive a boa ideia de ir esquiar para celebrar. Boa ideia porque percebi que há uma coisa ainda pior que os qualifiers: andar de ski. Mil vezes outra semana de exames do que descer uma colina de skis. Mil vezes.
Só andar com as botas de ski é um pesadelo. São como armaduras de gesso que não deixam a perna mover bem. Botas de ski e skis, pior um bocadinho. Mas o pior, pior é mesmo botas de ski em skis em cima da neve. Não percebo.
O meu jeito típico para desportos veio mais uma vez ao de cima. A minha coordenação motora, exímia em cima de terra firme, mais exímia ficou em cima de gelo escorregadio. Em três incursões na neve, consegui chocar: i) contra o meu namorado; ii) contra uma fila de pessoas; iii) contra o meu namorado outra vez.
Fiquei exasperada. Comecei a antagonizar a neve. Nervosa, ansiava por terra firme. Ainda pensei, à Obi Wan, "Tu e a neve são um, insere-te no movimento". Qual quê. A neve era uma, eu outra, e via-se quem era mais inteligente. A neve ria-se às gargalhadas enquanto eu andava atormentada com visões de skis a enfiarem-se por tudo quanto é orgão sensível, com joelhos e pernas torcidas.
A boa notícia é que comprei umas luvas hiper-super-cromas. E que se tiver que fazer qualifiers outra vez, pensarei: "pelo menos não é ski".
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5 comentários:
Portanto, já se passou muita coisa que não foi aqui relatada..
Longe de me imiscuir nos critérios editoriais, estou curioso por saber as novidades.
Chocaste contra quem?
O problema e q choquei contra muitas pessoas...
O Segredo Editorial nao me permite revelar mais nada.
Wow, tens um namorado? Nice ;) Felicidades aos dois!
Tens um excelente estilo de escrita. I hope you keep up like that! Esses qualifiers parecem terríveis. Boa sorte!
:D
Deixa estar, a minha primeira e única experiência com o ski consegue competir com a tua: ao calçar o 1º ski, a terra deixou de constituir terreno firme e conhecido; ao calçar o 2º, consegui chocar contra um poste publicitário (curiosamente, de uma escola de ski), depois de deslizar sem controlo alguns metros ao longo de um troço de neve perfeitamente horizontal (daí a pergunta transcendente que deixo aos físicos do grupo: como é que skis conseguem deslizar sozinhos em terreno absolutamente plano?!)
Mas mesmo assim, acho que preferiria repetir a experiência a fazer exames de aprovação de PhD :p
Boa sorte! (não que precises ;) )
Bem, isto acabou por ser uma espécie de announcement involuntário...
Só outro comentário:
Eu ja tinha feitos desportos em que ha algum perigo (como o rafting). No entanto, a coisa pior do ski é q quando estás em apuros (a descer descontroladamente rápido ou a não conseguir parar) estás sozinho. És tu e a neve e ninguém te pode ajudar. Angustiante, meus amigos, angustiante.
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