Água da torneira
A água aqui não sabe a rocha. Sabe a torneiras lavadinhas e a canos esterilizados. Não tem alma, mas deve ser mais higiénica.
Também não há água de nascente nos super-mercados. A mão invisível capitalista parece pouco incomodada com esta ausência. Até agora, só encontrei água a sério num café quase-alternativo. De resto, existe, sim, água engarrafada à venda, mas nasce em fábricas, não em rios a sério. Sabe ao mesmo que a caseira, mas está dentro de plástico.
Passado o choque inicial (feito sobretudo de desdém para com costumes de nações inferiores) resta saber qual é o valor real da água de nascente. Afinal, na falta de Caramulo, morre-se de sede?
O gosto por um sabor adquire-se (nota: perguntar a americanos se gostam mais de águas lusas). Não parece portanto chegar para argumento. Talvez a resposta esteja para além do prático... Será que a água para nós é mais do que um remédio para a sede? Se calhar ainda é um líquido encantado que cura fraquezas desde os romanos, e o nosso gosto pelos sais minerais ainda vem da esperança subreptícia que nos curem o reumático... Ou talvez seja só inércia, e sobre de um passado recente sem águas canalizadas (só nos anos 70 se procedeu a canalizações massivas). Em todo o caso, isso não explica porque é que no resto da Europa civilizada a água de nascente abunda.
Águas rápidas
Ora bem, fui fazer rafting (ie, FUI FAZER RAFTING, PESSOAL!!!!).
Tinha piquenicado perto de um rio e pensado "epá, até que era bom andar num rio destes". A associação de PhD's cá do sítio deve ter pensado o mesmo e pouco tempo depois recebi um e-mail sobre rafting organizado. Inscrevi-me logo.
No domingo acordei, vesti o biquini, pus espuma no cabelo, cheguei ao parque natural e disseram-me que tinha de remar. Isso e que tinha que pôr um capacete e um colete, que podia ser salva-vidas mas cheirava mal. No mesmo barco estavam cerca de 90 PhD's. Destes, 4 russos, uma russa, um tuga e uma francesa foram para o mesmo raft que eu.
E lá nos metemos ao rio, sem experiência mas cheios de vontade (de não morrer).
...
Suspiro. A Pocahontas era de certeza feliz. Mas feliz a sério, sem segundas intenções nem sorrisos amarelos.
Foram cerca de três horas vividas na ponta dos minutos, a agarrar-me ao bote para não cair se as águas assustavam, e a apreciar a beleza das encostas que desaguavam no rio quando a corrente acalmava. Três horas em que a vontade de viver foi pura e simples.
Também houve tempo para pescar chineses do rio e para assistir ao drama masculino que se desenrolava no raft. Confirmo que o Darwin está correcto e que a Pocahontas vem do chimpazé (e que os chineses são bons a matemática mas nabos a remar).
Cada raft tinha que ter um capitão, para que se pudesse trabalhar em equipa (e não morrer). Escolheu-se para macho alfa o tipo com experiência.... Coitado. Quase que foi violado por machos beta. E coitadas e coitados de todos nós, a arraia miúda. Infelizmente, os acessos maiores de macheza (omega) e consequente discussão coincidiam com os acessos de emoção: ou seja, quando estávamos prestes a embater em rochas ou em águas particularmente rápidas... Acalmado o rio, as fêmeas sossegavam então os ânimos masculinos (tal como no caso dos chimpazés).
Fiquei tão galvanizada por esta experiência que estou a pensar seriamente em comprar uma tenda (há uma promessa de acampamento em breve - espera-se que com entrada vedada a machos alfa). E talvez vá fazer hiking no Domingo.
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4 comentários:
Boa Cris!!! Que fixe!!! Mega aventura! :D
quanto à água da torneira vs engarrafada vs de nascente, já tinha um pouco essa noção em relação aos bebedores da américa do norte, por causa da água da nestlé e da coca-cola não serem de nascente! Foi uma das coisas que mais confusão me fez! É só mesmo vender a marca e nada mais!
Mas será mais higiénica essa tal água insípida da torneira? não sei... além de que o ditado "o que não mata, engorda", sempre me foi um bom guia para pensar que convém não abusar da suposta higiéne, para depois não se ter um sistema imunitário fracote!
Bjs :)
A parte de ser mais higiénica era a gozar. Do que eu gosto é Caramulo!
Mas ainda não vi água da Coca-cola ou nestlé.
beijinhos
qse q me enganava... a foto-montagem da Cris ali nos rápidos... ;)
Oi oi,
RAFTING!! Que fixe!
Quanto às águas minerais. Eu realmente tenho vindo a achar que Portugal é um país privilegiado em termos de águas naturais. Em França e na Bélgica só encontras duas ou três marcas (Evian, Vittle, Vichy, mais umas) e nenhuma sabe tão bem quanto luso ou caramulo. Em Portugal, rapidamente excedemos as dezenas de marcas. Isto é incomum.
Beijinhos, american girl,
Guillaume
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