sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Traditional american food
Uns dizem que não existe. O que é mentira porque há aqui coisas que não há em mais lado nenhum. Como os begels, que são rodinhas de pão, tipo donut, mas menos doces e, às vezes, com passas.
Outros dizem que são hamburgueres e pizza. Mas isso já não é comida americana. É ração-multinacional de engorda para a massa laboral que não tem tempo para comer mais nada.
Há ainda os connaisseurs que argumentam que o prato X de galinha e a entrada Y de peixe são americanos. O que é de desconfiar dado que essas iguarias são todas descendentes dos pratos das avós emigrantes dos americanos de hoje.
Onde então, reside a solução?... Ou serão os americanos o primeiro povo sem a alma de uma cozinha tradicional?
Para mim, a comida americana tradicional é o congelado. De altissíma qualidade, digo-vos já. Nos super-mercados daqui encontra-se de tudo e mais alguma coisa, frio e barato. Dos vegetais ao curry, da sopinha à galinha, da sobremesa à lasanha, bastam três minutos e têm uma refeição completa. E que compete em alto nível com o que uma pessoa, cansada e faminta, consegue fazer no segundinho de tempo que sobrou do trabalho.
É o progresso.
Procastination
É claro que existem umas quantas excepções, chamadas sorte, que acontecem a tugas desprevenidos em universidades hiper-eficientes. Como eu. Que quase passei um Natal por skype (escusam de dizer aos meus pais).
A razão é branca, A4 e chama-se I20. É um papelucho que certifica que eu sou estudante. Quando se entra no país, no aeroporto de Nova Yorque passa-se por umas casinhas da emigração onde somos interrogados por polícias sobre os nossos intentos nas américas. Quem não tem razão para ficar tem que apanhar o avião na volta (como nós somos do eixo do bem, podemos vir sem visa para turismo por três meses, mas precisamos de bilhete de volta).
Ao que parece, o I-20 tem que ser assinado cada 6 meses. Eu não sabia. Deixei passar os e-mails do office of international education, com um sorrisinho de desdém europeu e snobe, para, uns dias antes da ida, me aperceber que me faltava uma assinatura para poder voltar.
Felizmente os profissionais do OIE sabem que existem pessoas como eu e mandaram um e-mail a dizer que a última-ultimíssima hipótese para assinar o passe era, precisamente, hoje à tarde.
Fui salva.
É verdade, chego terça a casa.
Até breve.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Blue garlic and stuff
Segundo uns tipos chineses ou asiaticos o que acontece e que, quando o alho e velho, a fritura muda a sua cor.
Isto deve querer dizer que ando a comer alho centenario... Nao me espanta. A minha universidade e feita por ricos para ricos e por isso aqui comer aqui e bom e relativamente barato. O resto de pittsburgh, supermercados incluidos, e simplesmente americano.
E facil perceber porque e que 1/3 dos americanos sao obesos (ie, precisam de dois lugares do autocarro) e 1/3 e overweight. Para uma portuguesa onde a fruta ainda cai do ceu e o peixe do mar, o problema e obvio: comida com pouco valor nutricional mas extremamente saciante e (as vezes, muito) mais barata que comida com muito valor nutricional mas que nao mata a fome. Os pobres sao gordos e os ricos sao elegantes.
Acresce a isto uma cultura que incentiva a quantidade por si, o muito por dolar de comida paga. E um pouco esquizofrenico. No pais dos gordos, os anuncios continuam a apregoar a muita quantidade de calorias que se pode ter se se for a restaurante de junk-food tipo xis.
E tambem me parece que, no pais do entretenimento, simplesmente quer-se tudo de uma vez so: comer batata frita e emagrecer. Na minha escola, nas maquinas de snacks, as batatas fritas feitas no forno tem um selo verde a dizer escolha facil e saudavel. No parque de entretenimento, a escolha apregoada como saudavel eram 10 morangos com 10 centimetros de chantilli em cima. Nao estou a gozar. Os americanos nao podiam deixar de ser gordos.
No meu departamento de estudos sociais, ha umas pessoas que estudam incentivos para as pessoas emagrecerem. Muita ciencia, muita ciencia, para se tapar o sol com a peneira.
Adiante.
Agora aqui faz frio, que e como quem diz, quem nao tem casaco morre. Tambem nao vejo caes nem gatos vadios, e nao e por causa dos restaurantes chineses, que aqui nao os ha como em Portugal. Devem ficar brancos com a beleza magica da neve. Felizmente os americanos invadiram o Iraque, continuam a assegurar um fluxo continuo de petroleo e, para os humanos, as casas sao sobreaquecidas. Quer isto dizer que quando neva la fora, se pode andar de manga curta ca dentro. E as vezes tem-se que abrir a janela porque mesmo assim faz calor demais... Hum, nunca o desperdicio americano me soube tao bem.
(Estar aqui faz-me olhar com compaixao para os anuncios a incentivar a reciclagem no nosso pais... Tao ingenuos que somos: mesmo que quisessemos tinhamos que nos esforcar para chegar aos calcanhares energeticos dos nossos heated brothers).
Passou o halloween, daqui a dois dias e o thanksgiving, esta a chegar o Natal.
O halloween e como o nosso carnaval, mas com mais gente esquisita e pintada na rua. As pessoas dao mesmo chocolatinhos. Dois dos meus professores trouxeram o resto dos doces para a aula. Bom.
E thanksgiving para uns, terror para outros. Todo o peru tem a sua hora, especialmente daqui a dois dias. Vou passar o meu thanksgiving em casa de emigrantes, mas um dos meus professores convidou a malta tuga para um almoco a americana. E tempo de familia.
Familia... O Natal esta ai. Custa-me a acreditar que ha seis meses que nao abraco a minha mae, nao vejo o meu irmao nem digo ola ao meu pai cara a cara. Que Lisboa esta tao longe e os amigos do outro lado do mar a viver outras coisas. As vezes a normalidade americana e-me estranha. Dou por mim a andar pelas ruas de uma cidade que nao me conhece, como quem anda por um mundo alternativo, que e o meu mas nao e bem o meu.
Saudade.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Souvenir
Já que me esqueci que as televisões esqueceram o Nader (quem?) e os outros totós da extrema-direita americana.
Já me esqueci do bailout. Porque me hei-de lembrar neste momento que o JPMorgan anda a brincar às mergers e acquisitions com o dinheiro do bailout? A lógica capitalista luta sempre pela eficiência económica, provavelmente estão certos.
Já me esqueci do dinheiro que o Obama angariou. Até porque ele começou mais pobrezinho que Job. Foi o dom dele que fez esta vitória.
Fui tomada pela loucura democrática americana.
O meu professor de história perguntou à "portuguese team" se tínhamos assistido à vitória da democracia na américa, a um virar de história histórico.
Sim, assisti. Ontem, num bar, a vitória arrasadora nem me deu desculpas para me deitar tarde. Ao inicío da noite, já se sabia que o Obama tinha ganho. No bar ouvia-se música ("A barraca abana" como dizia uma colega minha do doutoramento) e toda a gente torcia pelo afro-americano, com grandes gritos quando a cnn declarava um estado democrático.
A música foi apenas interrompida pelo discurso do Obama, the President Elect. Epá, fiquei com a lágrima ao canto do olho (como a Sarah Palin, ao pé do McCain). Isto sim, é falar. Percebe-se ali um certo sabor a púlpito (quiçá transpirado pelos anos a ouvir o Wright?). Biblíco.
O McCain, uns minutos antes, não tinha ficado atrás. Ficou sim, muito à frente do avôzinho caquético que acusou o Obama de se associar ao terrorista Ayers no último debate presidencial. Voou acima da divisão presidencial, evitou os boos da populaça e pediu a todos união e ajuda em prol do novo líder. Arcou com as culpas da derrota republica. Bonito.
E hoje de manhã o mundo era diferente. Os shows políticos que vi lembraram-se que os afro-americanos às vezes também opinavam e mandaram vir jornalistas de cor.
Na cnn e no new york times só se veêm afro-americanos felizes.
Eu também quero por o país primeiro, mudar o mundo e ganhar umas eleições (ou o Nobel).
Yes, we can.
E digam-me lá se eu não sou muito mais gira que o McCain (sim, a foto foi mesmo tirada depois de ele ter feito um discurso naquele púlpito).
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Lessons from the elections
Já consumi o lixo da cnn e do new york times, que fazem notícias sobre as notícias que não aparecem. Sem surpresas, ainda não se sabe quem é o vencedor. No entanto, aqui, na pátria da liberdade e da democracia (nos EUA, a pátria da igualdade democrática é a América, esqueçam a França, devaneio de europeus), americanos com a lágrima ao canto do olho falam da nação, de patriotismo e mudança. Até a Palin acha que é tempo de mudar. Cá para mim, é emoção a mais.
É óbvio que estou a torcer pelo Obama. Confesso que até gosto do tipo. Mas ele é tão magrinho, novinho, (bem-pago?), coitadinho. O que pode ele fazer?
Espero que pelo menos seja o fim da américa radical cristã. Que deus seja deixado em paz e que o sexo deixe de ser considerado pecado nacional para os não-casados.
Que haja mais parlapié, conversa, efectivas negociações com as Nações Unidas (esse pormenor).
E vamos a ver o que acontece no Iraque. E no Irão.
Mas esta campanha não foi só histórica para os afro-americanos: foi o meu ritual iniciático na política made in USA. Não estava à espera, mas fiquei desiludida.
Voei para a américa inspirada pelo título do livro "the audacity to hope" do Barack. Isto cheirava-me a pessoas racionais e altruístas, a um nível de discussão elevado, à política de ideais públicos.
Ah! É óbvio que me esqueci que os candidatos são feitos por quem os paga (as empresas que receberam os 700 bilhões de dólares). E, depois de ver a Palin, a Obama e o McCain em discurso directo; depois de ver como as eleições são engendradas por tipos como o Rove, a minha esperança inicial resume-se a esperar que ganhe o menos mau. Que é como quem diz, o menos branco.
A américa tem muitas coisas boas, mas tem fraquezas que a tornam mais susceptível de eleger tipos como o Bush:
: Só tem dois partidos. É óbvio que há mais candidatozinhos (incluindo o Nader) a concorrer. No entanto, estes são tão marginais que só por engano é que se tropeça neles. Infelizmente, já soube que em Portugal também se está a cozinhar um esquema que limita o número de candidatos e ideias. É pena.
Existe um modelo económico - o modelo de Hotelling - que prevê que, numa praia que se estende de 0 a 1, dois vendedores de gelados que queiram maximizar os lucros se situem exactamente no meio*. Isto serve de metáfora para tudo e mais alguma coisa, desde localização de lojas numa rua, convergência de canais de televisão, até uniformização de candidatos.
: Aqui existem os issue-voters. Isto são pessoas que acreditam tanto em algumas coisas que o seu voto é determinado pela posição do candidato em relação ao aborto ou à discriminação gay. É óbvio que estes votantes são altamente manipuláveis por "Smear campaigns" sem escrúpulos. A vitória do Bush em 2004 (e em 2000, quando se afirmou contra o McCain como candidato republicano) é em parte devida à exploração desta fragilidade (por tipos como o Karl Rove).
: A abstenção é imensa. Votação recorde quer dizer que, se calhar, votam 64% hoje. Nas últimas eleições, votaram cerca de 54%. Isto quer dizer que fanáticos excitados como os issue-voters podem deitar tudo a perder. (Em Portugal, em 2005, para a AR, abstiveram-se 35% das pessoas - não sei se estes números incluem pessoas que não se registaram).
http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001684&selTab=tab2
: Numa nação agarrada à TV, a quantidade de dinheiro que se consegue angariar para fazer anúncios é decisiva. Quem mais aparece, mais ganha. Se for em prime-time, melhor.
: Num derradeiro afastamento da racionalidade, a personalidade, família e integridade do candidato, aqui, são da mais extrema importância. As mulheres dos candidatos são figuras públicas. Os filhos também aparecem nos comícios. Não me parece que candidatos divorciados tenham muito saída, coitados.
: É um país enorme, com pouco tempo para ver notícias. Daqui sai que a complexidade de um programa eleitoral só a custo pode ser digerida pelo americano comum.
É também um país dividido. A maior parte das notícias (tirando a Fox) é escrita por democratas. Cheira-me que é por isso que a Palin é vista como uma escolha tão negativa. Na verdade, depois do Obama, ela é a pessoa que atrai mais pessoas para comícios.
Enfim, god bless us all.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Religulous
O filme anuncia-se como uma satira a religiao organizada (sim, Joao Vasco, vais adorar). Mas acaba por ser muito mais do que isso.
O comeco e assim estilo Michael Moore - piada engracada de que so os convertidos se riem. No entanto, foi bom ver que o realizador nao era politicamente correcto, criticando cristaos, muculmanos, cientologistas e judeus - e nao so os cristaos proximos. Tambem gostei que nao tivesse caido no extremo de dizer que todos os religiosos sao fanaticos, e tivesse filmado um frade holandes a dizer "que a biblia, no fundo, no fundo, gostava dos homossexuais".
Apesar de, sim, ter filmado alguns extremistas que superam o extremo concebivel pelo cidadao comum. Como o velho com olhar mau que gere o museu criacionista nos EUA, onde criancas brincam com dinossauros. Ou uma americana adolescente com ar angelical a dizer "I don't hate homossexuals. God does". Ou o senador republicano que acredita na biblia e conclui a dizer "you don't need an IQ test to run for senator".
Mas tudo isto seria mais ou menos inconsequente, nao fosse o final do filme. Inconsequente porque quem vai ver isto ja sabe de cor estas piadas, estas criticas. Quanto muito, fica com uma visao alargada do extremo a que se pode ir.
Mas o final do filme demonstra que o realizador sabe perfeitamente quem e a audiencia dele. E ele sabe que quem vai, ou ja conhece as falacias da religiao organizada ou para la caminha. O objectivo nunca foi fazer um documentario BBC sobre a psique humana com cientistas e doutorados.
O objectivo e demonstrar que a religiao nao e inocua. Deus polui o espaco politico de hoje em dia e isso, em si, constitui uma ameaca. Aquilo que, para mim, foi absolutamente novo neste filme foi ter sido feito um apelo a consciencia dos ateus, agnosticos e religiosos com senso.
Ter religiao e uma escolha individual. Assim, nao ter religiao e tambem uma escolha individual. No entanto, os ateus, ao contrario dos cristaos ou muculmanos nao fazem teatrinhos de natal juntos, nao vao a missa nem se encontram na mesquita. Os nao religiosos encontram-se dispersos, e parece nao haver uma consciencia de grupo do seu poder.
Este filme foi o primeiro apelo mainstream a que assisto a tentar motivar estas pessoas a reclamar o espaco publico. E por isso que isto e muito mais do uma comedia sarcastica: e um apelo preocupado a accao urgente.
Second show, now with Michelle
Eu sei isso tudo e, no entanto, como foi bom ver a Michelle Obama a discursar aqui a Pittsburgh. Sim, era uma audiencia universitaria. E, nao, ela nao teve a discutir health care ou os detalhes dos impostos. No entanto, epa, teve classe.
Depois do rally histerico da Palin, feito para a base republicana branca, atirando para a populaca o sangue dos bebes mortos, foi bom ver um comicio cheio de afro-americanos, em que o discurso se centra no candidato e nao no opositor. E claro os democratas estao mais descansados que os republicanos, nesta fase do campeonato. Estao a frente: talvez nao precisem de atacar tanto. Mesmo assim.
A Michelle vendeu esperanca e promessas, falou do Obama como quem acredita mesmo nele, e fez tudo isso no tom american-dream de quem tinha pulado o muro que separa os suburbios da parte rica da cidade.
E claro que e um mito. Mas soa melhor que sangue.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Drill, Sarah, Drill
Esperei duas horas numa fila de republicanos ferrenhos.
Isto foi muito instrutivo. À minha volta, republicanos brancos esperavam calados ou tecendo comentários sobre o mundo em geral e o Obama em particular. Haviam cartazes a dizer "we pray for you, Sarah" e uma raparinha loirinha que não deve saber ler tinha um que dizia "My name is Reagan and I'm voting for Sarah". Houve umas senhoras que tinham visto na internet que o Obama tinha forjado a certidão de nascimento. "Hum, hum", parece que o tipo nem americano é.
À medida que a fila crescia, cresciam os protestos contra a Palin. A consciência de grupo começou a despertar quando, do outro lado da rua, uns tipos pro-Obama assumiam a sua irreverência. É claro que isto foi o ponto alto da espera, para mim e para todos os envolvidos. Mas os republicanos querem tudo com ordem, muita ordem.
As entradas eram controladas por bilhetes que, apesar de gratuitos, não eram dados à revelia, só a pessoas que a qualquer momento não gritariam qualquer coisa sobre a guerra. E pessoas foram expulsas da fila por gritarem contra os tipos pro-Obama.
A espera em si foi um pouco angustiante. Sentia-me verdadeiramente uma espia, prestes a ser denunciada pelo seu sotaque europeu.
O comício em si compensou a angústia. Se alguma vez viram a Palin a falar sabem que a escolha dela para VP é controversa, mesmo dentro dos republicanos. Controvérsia neste caso quer dizer que a tipa parece assustadoramente ignorante. Este comício fez-me entender que o que para uns é falta de qualificações, para outros é as qualificações que se conseguem entender.
A Sarah foi apresentada como a pessoa que "talks the talks because she walks the walk" e começou o discurso a dizer que o marido era exactamente como as pessoas que assistiam ao comício - hand-workers.
É claro que isto foi o ponto alto. A partir daqui, seguiram-se umas baboseiras sobre independência energética, como se o "clean coal" e os "untapped resources of Alasca" fossem já para amanhã. E, sim, havia pessoas a cantar "Drill, baby, drill".
O discurso contra o Obama centrou-se em ele ser a favor do aborto. E em nunca ter dito que quer que a América ganhe a guerra do Iraque.
Daqui seguiu-se para o argumento puxa-lágrima, porque a Sarah vai cuidar muito das criancinhas deficientes. Os seres humanos precisam de cuidar dos mais frágeis - desde, claro, que eles não sejam crianças iraquianas.
Que a verdade seja dita, não achei a forma do discurso especialmente má, dado ter sido entregue a uma multidão de apoiantes. Isto é, foi tão má como todos os que vi até agora, unem a bota com a perdigota e depois dizem "o meu partido é bom".
No final, houve uma corrida ao autógrafo, e a Sarah assinou muito papelucho.
E, enfim, foi isto. Ao meio dia estava de volta a casa.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
O Sonho Americano (The American Dream)
Não, não sou xenófobo. Este meu anti-americanismo não é nada contra a América enquanto espaço físico ou os americanos em geral, mas sim contra o que a América ainda representa para nós, para mim ainda que insconscientemente, enquanto símbolo onírico de tudo o que idealizamos como bom. É o conceito aglutinador das múltiplas oportunidades, fáceis e rápidas, da prosperidade, da variedade, da liberdade, da democracia, do empreendedorismo, do crescimento. O que é interessante é que, como utópico, encerra em si todos os desejos do sujeito que fantasia.
Se fecharmos os olhos, existe a América onde o americano normal vive numa bela casa (com páineis fotovoltaicos), muitos livros (intelectualmente estimulantes), muita música (boa), tudo em formato digital, vai de carro para o emprego (não poluente e reciclado), come comida saborosa e saudável, os nossos amigos são dos sete cantos do mundo e vivemos todos em harmonia.
Mas também podemos fechar os olhos e ver uma América onde cada pessoa tem o seu Hummer, anda com 5 colares de ouro de meio kilo ao pescoço, tem sempre quatro babes dentro do Hummer e é um sucesso a cantar rap.
Ou então cada um que tem uma ideia para uma empresa e é já um sucesso em si, afinal de contas é a terra das oportunidades.
A América, por definição, é assim: é a terra prometida individual. É o nosso éden ptolomeico. O local perfeito para o desenvolvimento do "eu". Não sei como chegámos até aqui, ou talvez possa vislumbrar.
Para mim a América simboliza este crash económico (mundial, diga-se de passagem), este enorme palácio de cristal feito de uma gigantesca bola de sabão. É bonito por fora, mas se lhe tocarmos rebenta numa multiplicidade de gotículas que mais não são que uma reminiscência do nosso sonho. Por dentro restam as pessoas reais, com caras reais, corpos reais, necessidades reais, gostos reais, aspirações reais, que estavam escondidas porque eram "demasidado" reais.
A América é o símbolo do braço mais radical deste capitalismo (ah, utilizei esta palavra) balofo e toda a máquina ideológica que nos emprenha pelos cinco sentidos, sublimando-nos a este (des) ideal. Daí o meu Anti-Americanismo.
Por causa do último post da Cris, dizendo que provalvelmente o portugês médio é analfabeto, fiquei com curiosidade de saber como é a taxa de literacia na América. Para minha curiosidade os dados oficiais até agora indicam uma taxa de 99.9%. Incrível, mas não sei porquê, demasiado bom para ser verdade. Procurei um pouco mais e descobri que existem 7 milhões de iletrados (~2%), 27 milhões são incapazes de obter um emprego por serem incapazes de ler (~9%) e 30 milhões são incapazes de perceber uma frase simples (~10%). Portugal está também com cerca de 10% de iletrados, mas na realidade devem ser uns 15%. A diferença não é muita, ou melhor, é muita porque o português normal não pode bombardear outros países nem ditar a cultura média mundial.
Faz-me um pouco de impressão falar assim do português: como analfabeto. Não sou nacionalista, mas não tenho vergonha de ser português. Sou crítico de muitas coisas de Portugal, a grande maioria, transversais a todos os países capitalistas como o nosso. O escarrar para o chão do português médio não é mais feio que o do americano médio, nem que o do holandês médio (apesar de escarrar, em média, de mais alto), ou as alarvidades que vocifera o português médio não são piores que as do americano médio. Nem a Fátima Lopes é pior que a Oprah.
A diferença está na escala, na dimensão. Nós copiamos e fazemos coisas no nosso quintal, os outros transvasam fronteiras.
Agora, para mim a América é pior, no sentido em que está mais à frente no ponto de vista do estádio de desenvolvimento. A América é o nosso futuro, se nada fizermos, é o nosso sonho (ou será pesadelo?). O meu anti-Americanismo é esse, é um anti-capitalismo.
As verdadeiras taxas de probreza na América rondam os 20 e tal %. Vejam este artigo:
http://www.citymayors.com/society/usa-poverty.html
~64% dos Americanos têm peso a mais, ~30% têm mais de 13kg que o peso máximo adequado à sua estatura. Sim, existem alternativas saudáveis em alguns supermercados, em alguns vegetarianos, mas é essa a média? É isso o que se encontra se se procurar aleatoriamente? Das pessoas adultas a cerca de 50% das afro-americanas são obesas, comparando com 30% das brancas.
20% dos Americanos não têm acesso a assistência de saúde.
A América média é a América que nos obriga a ler e concordar com 120 páginas de EULA para poder ver a bela adormecida.
O Americano médio diz que o Barack Obama é terrorista porque se chama Barack:
http://bloggerinterrupted.com/2008/10/video-the-mccain-palin-mob-in-strongsville-ohio
O America média tem mais de 9 armas por casa 10 habitantes.
A América real é pior ainda que a América média: não há distribuições e homegeneizações artificiais que surgem da estatística.
O problema da América média é esse: não aparece na televisão, nem nos filmes, nem nas universidades privadas, nem nos bairros dos estudantes europeus, nem tão pouco nos restaurantes vegetarianos. A América média é a América real, iletrada, pobre, mal informada, preconceituosa, religiosa, reaccionária, feia, gorda, mal alimentada e alienada. Tal como provavelmente o Europeu médio agora, e ainda mais daqui a uns anos, se continuarmos nesta escalada de empreendedorismo capitalista.
Alternativas marginais existem em quase todo o lado. A questão e a forma de medir é ver quão fácil é encontrar essas alternativas e quão alternativas são.
http://www.time.com/time/photogallery/0,29307,1626519_1373664,00.html
http://www.time.com/time/photogallery/0,29307,1645016_1408103,00.html
-artur palha
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Yes, the vacations are definitiley over
As férias acabaram. A adaptação à América continua.
Os esquilos já não são fofinhos, são a praga de estimação.
A casa já não é nova, é fria e às vezes parece vazia.
Já estou farta de dizer "I'm not american" a estudantes pro-obama à caça do voto.
Já comi sopa congelada e gostei.
Já vivi a quinti-essencia da festa americana, quando polícias entraram numa casa privada e dispersaram o pessoal. Sem mandato, claro. Com lanterninhas e autoridade, obviamente. Sim, havia barulho e os vizinhos, coitados, queriam dormir à meia noite. But that's not the point.
Começo a perceber os intrincados processos de absorção de emigrantes, as atitudes de defesa com que as pessoas se armam num contexto alienigina.
Estar na América é fundamentalmente diferente de estar na União Europeia. Talvez este sentimento seja agudizado por nunca ter estado a viver num país estrangeiro. Mas mantenho que há diferenças de fundo. Só aqui me apercebi o quanto me sinto portuguesa e europeia (mesmo quando racionalmente sei que a expansão é um debate que põe meta-dúvidas sobre o tamanho das instituições).
Aqui há umas leizinhas especiais e complicadas para pessoas como eu, que não votam, só podem trabalhar depois de complexas burocracias, e que podem ser expulsas.
Pessoas como eu não têm história, tudo aqui é novo, e não há refúgio. Não há família, amigos de longa data. Tudo isso se cria, claro, mas é como se sem raízes ficassemos mais leves e anódinos.
Uma reacção a esta sensação de separação invísivel é comentar a estupidez dos americanos, a má comida, etecetera etecetera.
Lamento, mas não vejo americanos mais estúpidos que o português normal. A minha cabeleileira estava a escrever um livro, e as pessoas com quem falo, em geral têm hobbies e são informadas como qualquer estudante universitário. É claro que não contacto muito com o americano médio, mas também nunca contactei assim tanto com o português médio que, por falar nisso, é provavelmente analfabeto.
E a comida não é de todo pouco saudável em si. Existe sim, uma propensão para comer demais: molhos a mais, quantidade a mais, artificialidade a mais. Mas também existem os restaurantes biológicos, as hipóteses vegetarianas, sopas, saladas, variedade.
A outra reacção é agir como se estivessemos em Portugal, mas na América.
É claro que ando à procura da minha versão da terceira...
terça-feira, 7 de outubro de 2008
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Weekends outside the burgh II - New York, New York
A cidade e grande e, na parte que vi, tem avenidas largas e concorridas por pessoas coloridas e unicas. Ha muito multi-tudo em todo o lado.
Nas estradas, passam taxis, muitos carros, muitos autocarros e bicicletas com atrelados que tambem sao taxis. Nao e preciso esperar pelo sinal para atravessar a estrada como em Pittsburgh, a pressa fala mais alto.
Os cheiros sao fortes e surpreendentemente agrestes e ofensivos. O metro e opressivamente abafado, e e com alivio que se entra nas carruagens com ar condicionado.
Choveu e fez sol alternadamente e com muita intensidade. Quando choveu, criaram-se pequenos rios nas bordas das estradas, tal qual como em Lisboa, e foi preciso ter cuidado com os salpicos dos carros.
Existem igrejas trabalhadas um pouco por todo o lado, mas a verdadeira historia pertence aos arranha-ceus. Sao esses os simbolos de uma cidade que vive de ambicao e vontade, a verdadeira metropole capitalista onde o caos urbano se transcende e se transforma em cidade.
Do alto do Empire State Building, a cidade nao acaba. Wall Street e uma alfama de arranha-ceus, com ruazinhas exiguas. Perto do rio Hudson, cheira a maresia e a frescura do mar invade a terra. Times-square pisca a cores e regorgita pessoas. E dificil ouvir o toque do telemovel. Em central park ouvia-se samba e faziam-se piqueniques. Os bancos tem dedicatorias pessoais.
Isto, parece-me, e tipicamente americano. Tambem na minha universidade existem dedicatorias a pessoas que morreram e os tijolos do chao tem nomes de antigos alunos inscritos. E como se as instituicoes guardassem a memoria dos individuos que as habitaram, como se vivessem feitas de seres. E diferente da sensacao que emana de uma universidade como o Tecnico, que parece um tumulo intocavel por onde passam formigas (nos).
E fui ver um musical, e uma peca de teatro, e consegui andar 3 milhas sempre a direito...
Parece-me que poderia viver aqui.
Weekends outside the burgh I - racoons and other dangerous animals
Aqui nao ha praias maritimas, apenas aguas leves e ensonsas.
Tudo isto fica a duas horas de carro da minha casa, o que e extremamente perto, ao nivel do quintal atras da casa, em termos americanos.
Aproveito para dizer que uma das coisas que espanta neste pais e a distancia. A europa sao muitos paisinhos pequenitos. Mas a america e mais um continente que um pais. Este sentimento de vastidao e dificil de apreender enquanto nao se viaja em estradas americanas, e se ve verde atras de verde, estrada atras de estrada sem sair do mesmo estado.
Adiante. O parque de campismo era de facto americano e tecnologico. Nos, os estudantes "europeus" quase rastafari, eramos os unicos a acampar com tendas. Tudo o resto incluia pelo menos uma parabolica e superficies metalizadas e higienicas.
Mas nao falei muito com os vizinhos.
Falei sim com os internacionais que viajavam comigo.
Iam 10 pessoas, e cerca de metade nao se conhecia. Mas acampar quebra o gelo. Veem-se arvores, sai-se da cidade e deixa de apetecer falar de trabalho. Fica uma atmosfera fluida feita de disponibilidade para estar, simplesmente estar. As piadas e os sorrisos sao faceis, e de vez em quando brotam conversas interessantes feitas das vidas e opinioes variadas das pessoas.
O clima era descomprometido e promissor. A noite, a volta da fogueira, melodiamos umas cancoes nao tao afinadas, viam-se estrelas e cozinhamos marshmellows.
Deixam-se os egos e preocupacoes maiores em Pittsburgh. Pela primeira ri-me ate as lagrimas com as aventuras honestas de um candidato espantado por ter sido seleccionado.
A praia tinha ondas, gaivotas e agua a perder de vista, mas nao cheirava a mar. Jogamos voleibol, e conhecemo-nos por entre sestas, lanches e passeios. Andamos de caiaque.
A volta, vinha carregada de areia e de promessas.
(E claro que vou voltar... )
(Ah, e o titulo do post vem do facto que existiam racoons perto do parque, dai termos que empacotar as coisas muito bem antes de nos deitarmos.)
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Glimpses of America (III)
"Do you realize that God loves you?"
"Do you know the Lord offers you eternal life?"
Esta mensagem foi colada por alguém num autocarro que me levou da universidade a casa. Anúncios de Deus aparecem às vezes na cidade (e talvez ele também, quem sabe). No outro dia um judeu ortodoxo deixou-me um papelucho na mão. Qualquer coisa sobre não matar, não roubar e não ter sexo. Também vêm a casa perguntar se queremos receber a palavra de Deus a cores ("Mas sabe que esta revista é inspirada na Bíblia? Tem mesmo a certeza que...?").
Mas religião organizada é outra coisa. No outro dia apanhei num canal de televisão um americano do Sul a pregar para um estádio coberto. Talvez deus tenha feito outro milagre de multiplicação dos peixes, era um sermão com ouvintes a perder de vista. Jesus devia estar contente. Epá, e o tipo era bom. Mais uma perturbaçãozita na auto-estima e este blog passava a "Cristo-mail-us".
Fiquei a ouvi-lo sem me cansar e percebi que aqui há uma grande preocupação com a saúde dos negócios (pelo contrário, em portugal, como não há tantos negócios, é só com a saúde). O profeta falava para uma população de empreendedores, certamente eleitos, mas com problemas muito comuns. Nada de falar mal da promoção do mal-jeitoso que nos passou à frente. Acredite, Deus vai recompensá-lo.
E também cheguei à conclusão que não é só Deus que é omnipresente, a Crise também o é. Este discurso sobre ter fé era complementado com advertências económicas. Supostamente, este é o momento de acreditar em Deus, porque se passarmos a ter fé Deus escolhe-nos para provar que é bom e todo poderoso.
É claro que nós fazemos parte do grupo de controlo, cuja função é ter inveja dos que ficam ricos e vão à missa. Mas como Deus nos ama, e temos a vida eterna garantida de qualquer modo, para quê preocuparmo-nos?
Glimpses of America (II)
Mas este anúncio foi tirado em Julho. Entretanto, a procura de gasolina diminui(u) nos EUA e o preço do barril desceu (vi no NYT). O que, convenhamos, não é assim tão mau. Diria mesmo, é bem bom.
O "american waste" é, de facto, muito grande. Começa logo com a comida. Na minha universidade, é tudo descartável, todos os dias. Na maior parte das localizações o almoço é servido em caixas de plástico (pronto a levar) e come-se com talheres de plástico, de deitar fora (alguns são tão bons que estou a fazer colecção para a casa nova). Agora façam as contas.
Glimpses of America (I)
Entretanto, de facto, este anúncio faz um certo sentido pittsburghiano (americano?). As regras da boa-educação saúdam-nos (e perseguem-nos) em todo o lado. Não é só as pessoas serem mais afáveis. É uma simpatia diferente da portuguesa. A amabilidade tuga é assim meio trôpega e espontânea, palita-se o dente enquanto se explicam direcções. Mas vem do fundo do coração luso, pá. Por outro lado, a polidez americana é mais delicada, própria de quem bebe chá com o mindinho direitinho. Pedem desculpa se estacionam o carro no passeio, e têm cuidado para os cães não irem ao encontro de transeuntes incautos. No autocarro, o condutor olha-nos nos olhos quando nos vamos embora e nós dizemos "bye", ao que ele responde "bye" ou (aprendam que eu não duro sempre, esta frase dá para tudo) "have a good one".
Este tipo de polidez era extremamente comentada pelos tugas emigrantes que eu conhecia. É controversa: alguns veêm-na como um sinal da superficialidade americana, outros não. Eu gosto e dou-me muito bem com ela. É bom ser bem-educado.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Speaking american
Na América da vida real fala-se americano, em diferentes versões.
Europeus a falar inglês constituem o nível mais fácil: falam todos em sotaques assumidamente diferentes e há a mesma tolerância aos erros e trocas de sujeito e predicado. Engraçado como a música de cada língua transpira mesmo quando falamos numa língua que não é a nossa: espanhois, italianos, ingleses, franceses e alemães ficam sem máscara assim que abrem a boca. Sinto-me muito à vontade nesta língua: é como se eu e o outro habitássemos a mesma casa.
Por outro lado, falar com um americano é falar com uma pessoa que já conhece os cantos todos da casa. Só o facto em si deixa-me nervosa, e mais consciente do advérbio de modo atrás da vírgula.
De nível mais avançado são as estaladas verbais que condutores de autocarro e atendedores de caixa nos pregam quando menos esperamos. Curtas, rápidas e referentes a outras regras culturais, estas pequenas frases faziam-me repetir "what?" como um papagaio. Felizmente, é só preciso perceber uma vez que às vezes se mostra o passe quando se sai do autocarro (e não quando se entra) e que se tiver um "advantage card" do supermercado pago menos.
Americano no seu nível mais avançado encontra-se sobretudo em festas. Aqui existe de tudo, desde chineses sorridentes e mudos a americanos inteligentes que falam rápido. Ainda se está no meio da digestão de uma ideia, já está o americano a começar com outra. Chato. Mais difícil só se o americano inteligente estiver bebedo e misturar piadas ou ideias falsas no diálogo.
É claro que é preciso persistência, dedicação e talvez uns copos para chegar a este nível de compreensão. Em todo o caso, não pretendo ficar por aqui... para falar americano a sério é preciso vencer todos estes testes e mais um: falar com sopinhas de massa americanos. Isso sim, é difícil.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Se o jantar da Ana fosse em Pittsburgh
Não poderíamos ir a um restaurante testósteronico. Aqui, os restaurantes são tão fashion e assépticos que fazem as migalhas sentir-se fora do esquema de decoração.
Também não teríamos direito a pão alentejano e queijos rançosos antes do bacalhau com natas e do caldo verde. Em vez disso, trar-nos-iam bebidas frescas e, na falta de azeitonas, poderíamos chupar as pedras de gelo que, por omissão, vêm sempre dentro do copo.
Não haveria coisas simples e boas, como azeite ou salada a saber a alface. Seria muito difícil encontrar peixe a cheirar a rio e mar. Mas teríamos imensos molhos à discrição e também poderíamos arriscar uns bolos de caranguejo.
Não precisaríamos de esbracejar caso quiséssemos um palito ou a conta. O nosso desejo seria antecipado pelo empregado. Mas ele não nos ofereceria leite creme ou cheese cake, na esperança que nos fôssemos embora mais cedo. Assim, poderá atender mais doadores de gorjetas.
Em vez de ir ao Bairro, poderíamos ficar a divagar sobre a justiça da gorjeta. Poderíamos também discutir sobre a taxa em particular que gostaríamos de aplicar à nossa refeição (entre 15 a 20%) e qual o impacto disso na vida do ToZé que cirandou à nossa volta.
Ninguém poderia beber bica. Aqui só há bicas em locais escondidos da cidade.
O Guimas poderia discutir em voz alta vários cenários envolvendo os nossos vizinhos em cuecas, que todos eles sorririam para nós.
A Ana seria a pessoa mais originalmente bonita do restaurante, da área e, provavelmente, da cidade.
terça-feira, 15 de julho de 2008
Experiences with american waters
A água aqui não sabe a rocha. Sabe a torneiras lavadinhas e a canos esterilizados. Não tem alma, mas deve ser mais higiénica.
Também não há água de nascente nos super-mercados. A mão invisível capitalista parece pouco incomodada com esta ausência. Até agora, só encontrei água a sério num café quase-alternativo. De resto, existe, sim, água engarrafada à venda, mas nasce em fábricas, não em rios a sério. Sabe ao mesmo que a caseira, mas está dentro de plástico.
Passado o choque inicial (feito sobretudo de desdém para com costumes de nações inferiores) resta saber qual é o valor real da água de nascente. Afinal, na falta de Caramulo, morre-se de sede?
O gosto por um sabor adquire-se (nota: perguntar a americanos se gostam mais de águas lusas). Não parece portanto chegar para argumento. Talvez a resposta esteja para além do prático... Será que a água para nós é mais do que um remédio para a sede? Se calhar ainda é um líquido encantado que cura fraquezas desde os romanos, e o nosso gosto pelos sais minerais ainda vem da esperança subreptícia que nos curem o reumático... Ou talvez seja só inércia, e sobre de um passado recente sem águas canalizadas (só nos anos 70 se procedeu a canalizações massivas). Em todo o caso, isso não explica porque é que no resto da Europa civilizada a água de nascente abunda.
Águas rápidas
Ora bem, fui fazer rafting (ie, FUI FAZER RAFTING, PESSOAL!!!!).
Tinha piquenicado perto de um rio e pensado "epá, até que era bom andar num rio destes". A associação de PhD's cá do sítio deve ter pensado o mesmo e pouco tempo depois recebi um e-mail sobre rafting organizado. Inscrevi-me logo.
No domingo acordei, vesti o biquini, pus espuma no cabelo, cheguei ao parque natural e disseram-me que tinha de remar. Isso e que tinha que pôr um capacete e um colete, que podia ser salva-vidas mas cheirava mal. No mesmo barco estavam cerca de 90 PhD's. Destes, 4 russos, uma russa, um tuga e uma francesa foram para o mesmo raft que eu.
E lá nos metemos ao rio, sem experiência mas cheios de vontade (de não morrer).
...
Suspiro. A Pocahontas era de certeza feliz. Mas feliz a sério, sem segundas intenções nem sorrisos amarelos.
Foram cerca de três horas vividas na ponta dos minutos, a agarrar-me ao bote para não cair se as águas assustavam, e a apreciar a beleza das encostas que desaguavam no rio quando a corrente acalmava. Três horas em que a vontade de viver foi pura e simples.
Também houve tempo para pescar chineses do rio e para assistir ao drama masculino que se desenrolava no raft. Confirmo que o Darwin está correcto e que a Pocahontas vem do chimpazé (e que os chineses são bons a matemática mas nabos a remar).
Cada raft tinha que ter um capitão, para que se pudesse trabalhar em equipa (e não morrer). Escolheu-se para macho alfa o tipo com experiência.... Coitado. Quase que foi violado por machos beta. E coitadas e coitados de todos nós, a arraia miúda. Infelizmente, os acessos maiores de macheza (omega) e consequente discussão coincidiam com os acessos de emoção: ou seja, quando estávamos prestes a embater em rochas ou em águas particularmente rápidas... Acalmado o rio, as fêmeas sossegavam então os ânimos masculinos (tal como no caso dos chimpazés).
Fiquei tão galvanizada por esta experiência que estou a pensar seriamente em comprar uma tenda (há uma promessa de acampamento em breve - espera-se que com entrada vedada a machos alfa). E talvez vá fazer hiking no Domingo.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
These were a few of my favorite things
Smiles on faces and hope in the air
Jews that fart and green organic spinach
Buses that look like the StarStrek spaceship
These were a few of my favorite things.
Luxurious forests and the vastitude of the plain
Miss Marple talking about anal sex late in the night
Learning things when I least expected it
These were a few of my favorite things.
When I can't find juices made of fruit
When I don't know whether to form a queue or not
When I'm feeling sad,
I simply remember my favourite things,
And then I don't feel, so bad.
http://www.youtube.com/watch?v=LUno0WNot5U
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Às vezes estranhos sorriem-me só porque os nossos olhos por acaso se cruzaram na rua. Este insólito acontecimento já foi relatado por outros portugueses. E parece-me que existe aqui uma maior propensão à delicadeza formal, com mais "excuse me" e "sorry" por diálogo. Acrescentei o "hope in the air" porque a américa é a rainha do optimismo e das (pequenas e grandes) respostas construtivas. Acredita-se em soluções rápidas. Em todo o caso, isto contribui para uma certa atmosfera acolhedora e promissora.
Acolhedora também é a minha vizinhança. Estou agora a viver no bairro judeu da cidade. Veêm-se muitos rapazes com barbas messiânicas e chapeuzinhos pretos no cucuruto da cabeça. Tudo muito ortodoxo, portanto. Mas todos os humanos têm intestino, mesmo aqueles que não têm estômago para hóstias... Uma manhãzinha, ao sair de casa, sou surpreendida por um judeu a lançar foguetes à Dia da Independência, daqueles que silenciam a passarada. Somos todos irmãos depois de uma boa feijoada.
Também eu tive um momento Star Trek no outro dia. O captain Kirk cá do sítio foi um motorista anónimo da Carris Pittsburghiana. Para deixar entrar um deficiente em cadeira de rodas, carregou num botãozinho e logo uma plataforma elevatória emergiu do autocarro, transformando o transporte "público" num transporte mesmo público.
Mas a comida é cara e os mais pobres são os mais gordos (facto). Apesar disso, há mais opções para os mais ricos (entre os quais estão actualmente todos os EUROpeus). O meu Pingo Doce tem uma marca branca Bio que inclui desde vegetais (incluindo espinafres crus tenrinhos) a massas, passando por leite e ovos. Agora compro tudo Bio, sobretudo porque tenho a impressão que, no país dos transgénicos e das patentes, o que não é Bio é letal a médio prazo.
Por outro lado, o clima tropical propicia uma vastidão luxuriante e verde que faz Sintra parecer-se com as traseiras de um quintal. Não há incêndios, mas sim bambis à discrição.
Os media também oferecem surpresas. No outro dia, às 3 da manhã, à espera que o computador se despachasse com os cálculos, pus-me a ver televisão. Por entre cerca de 50 canais, alguns com messias cristãos a tentarem-me convencer que um milagre me poderia acontecer (logo a mim), encontrei uma Miss Marple a dar conselhos sobre sexo anal às espectadoras interessadas. A Miss estava muito à vontade, e acompanhava as advertências com gestos auto-explicativos sobre o que devia entrar onde e de que maneira.
Mas, passado um mês, ainda não consegui perceber onde e quando e se deverei mesmo fazer fila para os autocarros. De facto, só há pouco tempo é que percebi que a ordem que eu via no amontoado de gente era invísivel para os meus companheiros de paragem. Agora estou presa entre culturas.
E, para meu desgosto, existem mil sumos à base de concentrado e apenas sumos de laranja amargos feitos com fruta a sério.
Mas isso não é suficiente para me deixar sad.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Believe in the beauty of your dreams (Eleanor Roosevelt)
Apeteceu-me fazê-lo acompanhada, o que, numa cidade estranha onde não conheço assim tantas pessoas, é menos linear do que em Lisboa (em que se manda um e-mail aos suspeitos do costume, vai-se ao Pingo Doce comprar uns comes e bebes e acaba-se a tarde a dar corda ao cérebro com as deambulações habituais sobre a possibilidade eventual dos números primos serem racionais).
Em primeiro lugar há que escolher o sítio: original, barato, aonde se possa chegar sem carro e sair sem ser de boleia. Not easy. Andei às voltas com o guia de Pittsburgh, surfei na net e encontrei - pensei eu - o lugar ideal.
Agora é a parte de tentar mandar um e-mail engraçado, nem demasiado seco nem demasiado tolo, inteligente q.b., alegre q.b. numa língua que não é a minha. Ok.
E depois é a escolha de pessoas. Como se escolhem as pessoas num sítio aonde a intimidade ainda não é uma realidade? Aonde não posso dizer que me sinto identificada com a maior parte das pessoas que encontrei?
É estranho sermos cuspidos assim num mundo alienígena, e de repente só conhecermos duas ou três pessoas numa cidade. De repente, essas duas ou três pessoas são a nossa ponte com o mundo dos humanos. E tornam-se mais vitais. Mas adaptarmo-nos não é a mesma coisa que sentir aquele clique misterioso que por vezes acontece entre pessoas e que nos faz sentir em casa. É mais engolir em seco, sorrirmos, e sentirmo-nos menos sozinhos por entre palavras que não nos dizem assim tanto. Esperar. A polidez às vezes quebra-se, assim meio de surpresa, e vislumbres da humanidade genuína do outro aparecem. Outras vezes não, e ficamo-nos pelos cartoons de estudantes PhDs inteligentes e sabidos... É assim: os outros não se prevêm, acontecem.
Mas foi num ambiente de espera optimista que reuni um grupo de portugueses e um americano para ir para o Dowe's. O guia tinha prometido live jazz, e comida e bebida a preços moderados. Descobrimos um edifício vazio onde o menu á porta fora substituido por uma nota de despejo. À turista, tinhamos sido enganados por um guia desactualizado! Sentindo o peso da antiguidade no burgo, o americano movido a net no telemóvel logo divisou outro plano. Atravessámos uma ponte, passeámos pela margem do rio e fomos para outro bar. Muito melhor.
E foram estes os meus anos. O título do post vem de um marcador com luas e estrelas que a A., uma matemática que faz ballet, me ofereceu.
A minha cidade, ao entardecer...
O passeio, o rio, e patos
E haviam 7 pessoas à mesa...
Parabéns Dalí para aqui
Today
Parabéns Cris!
P.S: Tiradas pelo Henrique (tb tirei algumas) com a sua belíssima máquina, no convívio após a despedida do Jorge Martíns.
A nossa crisálida...
domingo, 6 de julho de 2008
Happy Birthday!
sábado, 5 de julho de 2008
Random conversations about phone conversations
Aparentemente inocente, a conversa telefónica americana pode tornar-se espinhosa, ansiogénica e, em casos extremos, fazer uma emigrante inteligente parecer... digamos, parva mesmo [claro que isto não se aplica a mim*]:
As razões são várias:
1. Os expatriados têm sotaques que não se aprendem na escola.
Falar pelo telefone em inglês implica falar com emigrantes. Implica contactar com toda uma variedade de sub-sentidos, sub-sons e sub-piadas que, se consigo apreender [ou fingir que consigo] numa conversa presencial, não me deixam outra hipótese senão responder com um "Uh... Say that again?" meio tonto no meio de uma conversa telefónica.
2. As regras de conversação são diferentes.
Uma vez a Clélia riu-se dos portugueses dizerem "com licença" quando desligam o telefone. Nunca me ri porque, como boa tuga, sempre me pareceu normal dizer "com licença" antes de cortar as vazas à voz de alguém. Agora, mais do que normal, tenho a certeza que é útil. Já não é a primeira vez que fico a dialogar com ninguém, no meio (afinal era o fim) de qualquer coisa. Aqui não se avisa que se vai desligar. Adeus, bye, ok, e trás, cai a comunicação.
3. O telefone também fala, e é numa língua diferente.
O ruído de fundo da conversa não soa ao mesmo. Assim, é mais difícil perceber quando o outro desligou. Associado a 2, isto potencia os já referidos diálogos feitos de palavras que, afinal, nunca disse.
Por outro lado, o ruído de espera - "o Triiiiiiiiiiiim Triiiiiiiiiiiim" que nos diz que ainda não é agora que somos ouvidos - é diferente. O volume é mais baixo, e a frequência mais grave. Quando telefono para Portugal "o Triiiiiiiiiiiim Triiiiiiiiiiiim" volta ao mesmo, a indicar-me que já estou em território nacional.
4. As regras do mercado são diferentes.
Paga-se por receber e fazer chamadas. E não encontrei cartõezinhos recarregáveis, mas sim pacotes de minutos. É tudo gratuito ao fim de semana e às noites.
Ainda não estou há tempo suficiente para saber se isto tem um impacto significativo nas relações. Mas é claro que poderemos fazer várias conjecturas... Será que o facto de ser igualmente caro receber e fazer chamadas facilita a resposta a todas os telefonemas, dificultando a percepção do significado emocional da chamada perdida? Será que na Europa os constrangimentos da rede fazem com que o europeu normal tente só retornar as chamadas de pessoas com muito significado emocional? Será que o facto de o pacote de minutos ter de ser gasto no próprio mês aliado a uma mentalidade "eu quero tudo a que tenho direito" aumenta o número de chamadas a pessoas a quem, de outra forma, nunca ligaríamos? Se sim, será que isto nos confronta com a surpresa do outro e alarga o nosso círculo de relações satisfatórias, contribuindo para a felicidade em geral, ou será que enche o tele-ciber-espaço de lixo e boatos que nos fazem perder a fé na espécie humana?
* se por não ser inteligente, se por nunca poder ser confundida por parva fica a cargo de vocês decidir.
PS: entretanto, este post foi interrompido comigo a rir com o Rodrigo (meu companheiro de casa) até às lágrimas devido a este vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=HRhWXu93WFw
sexta-feira, 4 de julho de 2008
My 4th of July
Claro que desisti e fui à festa dos estudantes graduados, digo, grad students. Já lá estavam os outros tugas. Além disso, era perto da minha casa e portanto fui a pé, por avenidas suburbanas atipicamente bonitas. Estava um nevoeiro miudinho, e havia pirilampos a piscar no ar.
A festa em si foi breve. Conheci umas quantas pessoas, queimei umas faíscas e dei-me por satisfeita, vim para casa, já tinha espairecido o suficiente.
E foi isto o meu feriado. Não, não vou fazer grandes considerações sobre a maneira de viver o feriado à americana. De facto, não falei com ninguém sobre isso (e só agora me lembro que podia ter dado um bom tema de conversa).
terça-feira, 1 de julho de 2008
domingo, 29 de junho de 2008
Things I've learned this week: living in America (II)
É estranho mas aqui é Mesmo proibido beber álcool na rua, ou num parque ou num pique-nique, assim só porque apetece. No espaço público não há álcool (God dixit?). A Jenny disse-me que na prática isto resulta em termos inocentes a serem usados como garrafas de vinho. Vem-me neste momento à memória um concerto de rua que tinha um sinal a dizer "no drinking beyond this space" (pareceu-me tão estranho que só agora me faz sentido).
Não há vinho nem cerveja em super-mercados. Temos que nos deslocar a umas lojas especiais e mostrar ID (no meu caso, passaporte) pelo menos teoricamente. Dado que quando vou a festas tenho levado (além de bebidas boas, como sumos) garrafas de vinho para a malta já entrei nestas lojas duas vezes. Têm todas tantas garrafas que a escolha se torna num processo agonizante. Especialmente para quem o vinho é todo igual e sabe a remédio. Em todo o caso, numa não quiseram saber se tinha menos de 18 anos (quiçá o vendedor estaria bêbedo?).
Também em bares se tem que mostrar identificação para beber. Esquisito. Estamos descontraídos a conversar, o tempo passa, o humor fácil surge, a descontracção aumenta, pede-se qualquer coisa e é como se a polícia chegasse à mesa. Mesmo eu, que não bebo, tenho que andar de passaporte no bolso.
2. Relações
Conhecer novas pessoas é fácil, estabelecer connections é simples, e a cortesia é a medida comum pela qual se pautam. Mas a intimidade continua difícil. Segundo alguns portugueses, é mesmo mais díficil do que noutros ambientes. Se não tivesse falado com a Jenny atribuiria este paradoxo ao clima estudantil, ao mesmo tempo individualista e descontraído, e à rotatividade de pessoas no Burgo. Mas não, ela sublinha: "This is America."
A distinção entre amigo e conhecido é mais subtil. Consequentemente, nós [europeus], habituados a relações com símbolos de intimidade bastante diferenciados para pessoas em diferentes locais da hierarquia emocional, podemos ficar confusos.
Devem haver mais gradações também nas relações amorosas. Tive hoje um debate (foi mais uma digressão) sobre se o conceito de "dating" equivale a estar numa relação ou não. Aparentemente, não há resposta simples. Pode ser e pode não ser.
3. Tolerância
Tenho que dizer (sem muita vontade, confesso), que encontro muito mais boa-vontade nas ruas desta cidade do que em Lisboa. Pelo menos, aparentemente.
Vêem-se mais pessoas com "necessidades especiais" nas ruas. Deficientes, pessoas em cadeirinhas de roda tecnológicas, whatever. Mais, é normal ver pessoas a tagarelarem com deficientes em autocarros, repito: a não ignorarem estas pessoas. É a américa novamente: o chit-chat com o vizinho do autocarro é normal.
Isto reflecte-se nos serviços, que aqui são mais para todos. A minha universidade tem acessos visíveis para estas pessoas. Na biblioteca principal, a porta maior e central é para pessoas em cadeiras de rodas. No Pingo Doce aqui da zona, um deficiente mental embalou-me as compras (o Alex diz que neste supermercado são todos deficientes, mas isso já são outras conversas). No aeroporto, existem cadeiras e auxiliares para pessoas que não se consigam deslocar facilmente. E não são só brancos gordos que andam de cadeirinha. Vi um puto preto sozinho a beneficiar deste serviço.
E vêem-se muitos casais mistos nas ruas. Mais do que em Lisboa até, parece-me. E a universidade está cheia de pessoas de todos os credos.
4. A eficiência
Tenho que dizer que estou um bocado desiludida. Apercebi-me que agarrada à ideia dos States serem (toda a gente diz) mais desenvolvidos que Portugal vinha a presumpção que aqui tudo era como eu conhecia, mas melhor.
Mentira, aqui tudo é diferente.
Isto é, a menina do banco é, sem dúvida, muito mais simpática e prestável que as meninas portuguesas. Trata-me com muito mais atenção (como se eu tivesse mesmo dinheiro). As coisas aqui são, indubitavelmente, mais rápidas, menos burocráticas, mais... eficientes. Mas, e depois? Para levantar dinheiro em qualquer ATM que não pertença ao meu banco pago uma taxa. Só posso fazer 6 transferência pela internet por mês (state law). E se alguém apanhar o meu cartão de débito americano pode usá-lo como cartão de crédito.
E nem falemos de saúde e dos seguros. Mais vale rezar para que nada aconteça.
My joyful little house
sexta-feira, 27 de junho de 2008
American afternoon com sabor português
Juntei gráficos, revi mentalmente os factos importantes, respondi a perguntas imaginárias, sofri com as que não tinham resposta clara.
Tentei esboçar quadros teóricos que explicassem os factos.
Às cinco quase que roí as unhas.
Mas respirei fundo, desci as escadas e bati à porta.
Ninguém!
Ele hoje não esteve na CMU.
É claro que depois de tal anti-clímax, arrumei as coisas e fui para casa.
Mas sem me apetecer arrumar-me no sofá ou na sala ou em qualquer recanto, resolvi dar uma volta. Comi um gelado super-size (tive que o deitar a fora a 70% - impossível de acabar!) e fui para este sítio, que já elegi como o meu sítio favorito da cidade, pela proximidade com os rios:
Neste sítio, mesmo na downtown, o Monongahela e o Allegheny juntam-se para formar o Ohio. Os americanos transformaram este vértice de água num parque sem arranha-céus onde se pode passear e andar de bicicleta. E as pinguinhas do repuxo servem para imaginar a que cheira o delta do Tejo.
Fiquei aqui até quase o sol se pôr e depois, ia eu muito bem para casa... ouvi um barulho. Era mais um batuque, assim como... uma festa! É claro que fiz um desvio, apenas para encontrar um montão de gente num concerto de rua a sambar ao ritmo de uns tipos de Brooklyn. Só me apercebi que era mesmo samba quando a apresentadora falou em português "Ôi, minhá gentxe, à fésta não acabou aqui não!".
É verdade que a língua é uma nação. Comprei o CD (que estou agora a ouvir) e como é bom ouvir português, ou melhor português musicado ao som do brasil! As letras são em inglês e em brazuca e os títulos mais lindos são: Onde tem cerveja tem mulher e A cowboy in Brasil. E os ritmos são uma mistura de country com samba e, provavelmente, com outras coisas (a Jenny diz que soa meio a música irlandesa, mas ela confessou-me que está meio bebeda)...
Até breve, gêntxe!
quarta-feira, 25 de junho de 2008
How many times can you eat veggie burger with pasta with organic tomato sauce and lettuce (without getting totally fed up)?
Já voltei aos cereais para o jantar.
Entretanto, pormenor americano do dia: ora ia eu no autocarro, cheio de malta cool em festa na cauda do autocarro, quando, de súbito ouço uma voz microfónica "rrm ... no swearing!". E imaginem lá qual foi a resposta: "sorry boss".
terça-feira, 24 de junho de 2008
I found (II)
a Espiral cá do sítio!
Só quem é europeu, talvez mesmo só quem é tuga, pode compreender o desespero de tentar encontrar boa comida (daquela que nos deixa a fome, a gula e a consciência tranquilas) nas ruas desta cidade. É parecido com o desespero de tentar encontrar boa comida no Colombo ou Vasco da Gama.
Mas eu encontrei! Um restaurante vegetariano biológico que serve um mix de diferentes pratos, à la Espiral, quente! Hum, que alívio (já estava a ficar mais magra e tudo).
2.
Entretanto, encontrei (enviaram-me por mail) ainda um artigo sobre a maneira como a filosofia da escola de Chicago se pode infiltrar nas políticas do Obama. O jornal é o jornal da esquerda cá do sítio (eu não sabia) e o artigo foi escrito pela Naomi:
http://www.thenation.com/doc/20080630/klein
(nota: a escola de Chicago é uma das que defende acerrimamente a não intervenção do Estado e a auto-regulação do mercado).
Mais uma vez, não me parece que isto seja representativo dos media americanos.
E agora, trabalho!
domingo, 22 de junho de 2008
And the week (and vacations) eventually end...
As lições americanas da semana:
(as portuguesas são outras)
1. As trovoadas magníficas - em que todo o céu se ilumina e range - são triviais.
2. Everybody's nice tirando @s empregad@s da "mercearia" cá do sítio ("Giant Eagle" - Águia Gigante).
3. O conceito "comer bem" deve ser diferente. Há bolor em alguns produtos vegetais do super-mercado. Outros parecem velhos. São todos caros. Esqueçam verificar a data em que foram embalados.
(parte da razão deve-se ao facto da Águia Gigante - aberta 24h/7d - ter comido os pintainhos e ser um monopólio nesta zona da cidade).
4.Pensar que se é rico é outra coisa. Pode-se comer tanto até ficar se uma bolinha; comprar pequenos camiões para ir ao cinema; gastar energia em arrefecimento inútil, só porque sim.
5. Ser muito muito rico então, é mesmo outra coisa. Enquanto uns não têm água em casa, outros lavam os pés em cascatas naturais (literalmente).
(fui ver esta casa na 6ª, desenhada pelo Frank Lloyd Wright nos anos trinta para uns magnatas cá do Burgh: http://www.paconserve.org/index-fw1.asp)
6. O King é fixe e recomenda-se, tanto a sala de cima como a sala de baixo. Ontem fui ver uma performance sobre a situação do afro-americano cá do sítio. A artista estava descontroladamente poética e foi impressionante.
7. Provavelmente, o New York Times não é representativo dos media americanos. Coisas que aprendi ontem enquanto fazia zapping:
- há um professor no Ohio que brandiu a cruz nos braços de alunos, entre outras atrocidades católicas de que não me lembro. (Geraldo)
- há uma esquadra numa cidade perto de mim onde existem fantasmas. (Geraldo)
- alguns tipos afectados pelas cheias estão #$%idos porque não tinham seguro contra cheias. A responsabilidade por esse azar é deles mas felizmente foi aprovado um fundo para que ainda possam fazer um seguro. (CNN)
- a Michelle Obama é fixe porque apareceu com um vestido de apenas 99$ na TV (Geraldo/Vários).
- houve um pacto de estudantes adolescentes para ficarem grávidas algures no Massachussetts. O médico dessa escola demitiu-se porque, ao contrário do permitido, entregou contraceptivos aos jovens (acho que não me enganei). Havia um senhor negro na TV indignado com isto (com o pacto, mas pelo ar também ficaria indignado se ouvisse falar de distribuição gratuita de preservativos). (CNN/o senhor negro era do canal local)
- a irmã da Britney Spears teve uma filha; o Tiger Woods ganhou o torneio com uma perna partida e uma pessoa relacionada com o Hulk Hogan atropelou um inocente porque estava bêbado (sortido).
8. O jantar foi bom, mas teria sido ainda melhor se não tivesse sido fuinha e comprasse sumo de frutas.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
I found...
Na quarta fui ver este filme:
http://www.imdb.com/title/tt0896866/synopsis
"Standard Operating Procedure" sobre a história por trás das fotografias de Abu Grahib.
A sala passa filmes europeus e (calculo) do cinema mais independente americano.
Tinha ar de quem o fazia com poucos fundos. Mas haviam pipocas (muito independentes, tiradas por uma máquina sem marca e um indiano com ar de aficionado) e uma data de folhetos sobre as últimas (fixes) de Pittsburgh.
(lapso cultural: as pipocas aqui são salgadas. Tuga que sou, confundi o saleiro com o açucareiro e encharquei as minhas pipocas de sal e canela - não admira que o indiano tenha mostrado alguns sinais de confusão.)
A sala estava quase vazia: cerca de 10 pessoas (sobretudo em pares de gajas, não percebi bem porquê) a ver o filme.
E o filme em si? Curioso claro, na maneira como conta algumas das histórias por trás das fotografias. E interessante como documenta uma reinterpretação das fotografias à luz da sensibilidade militar (sem o justificar). Enfim.
(Este livro - do tipo que preparou a Stanford Prison Experiment - está bastante relacionado com o filme: http://www.lucifereffect.org)
segunda-feira, 16 de junho de 2008
No artificial anything
Bem, passou uma semana. Já fui a uma festa, ajudei a montar uma casa e tenho saído com a malta tuga. Passeei pela downtown e já tenho mapas.
Mas continuo a sentir-me com pressa. Com pressa de ter uma vida normal. De ter referências. Coisas básicas que só notamos que se foram embora quando já não as temos...
Saber quais são os transportes para onde, e mais ou menos quanto tempo se tem de esperar. Quando é que fecham as coisas (aqui, 10 da noite é tarde para jantar). Estereótipos que simplifiquem a vida. Quais é que são as zonas perigosas que se devem evitar. Quem é perigoso.
Onde é que se vai quando se quer ir a qualquer coisa. Sei lá. Saber quem são os teus amigos.
Também começo a interiorizar que a cultura, sei lá, o contexto é pura e simplesmente diferente. Isto é, muitas das coisas que valorizo enquanto europeia (e que enunciaria como fundamentais para considerar um país desenvolvido) aqui não são assim tão importantes.
Para ter mobilidade é preciso carro. (E não existem carros pequenos à nossa escala.) A rede de transportes públicos não chega aos calcanhares do metro, nem tem a cobertura da Carris.
Comer bem aqui, sai relativamente caro e mais caro que no nosso país. Isto é, mac'donalds é mais barato que fruta (e para perceber o que leva o pão é necessário um curso - tanta m#, meu Deus!)
O aquecimento das casas é extraordinário de ineficiente. O ar condicionado gela no Verão (literalmente) e no Inverno pode-se andar de t-shirt nos edíficios (enquanto neva no exterior).
Por outro lado, há coisas que admiro. Parece que tudo aqui funciona. E as pessoas são simpáticas porque sim. Sorriem e são prestáveis, não porque sejam tuas amigas ou porque gostem de ti, mas porque sim. Na generalidade das interacções que tenho observado impera a cortesia. Mesmo inesperada.
Hoje, no supermercado, houve um problema qualquer com o pagamento dos dois tipos à minha frente. Estes tipos tinham ar de quem pertencia aos gangs dos filmes, além de terem mais dois palmos do que eu. Eram Grandes. Mas nem levantaram a voz à cashier, nem a baixaram. Pareciam estar a tentar encontrar uma solução.
É claro que parte deve ser devido ao facto de isto ser uma small-town (cerca de 300 mil pessoas, de acordo com Wiki) mas não deve ser só isso.
Enfim, fiquei com sono. Boa noite.
sábado, 14 de junho de 2008
My first adventure
Foi assim: ontem eu e o Alex (é mais o Alex e eu, dado que o Alex é que ia a conduzir) fomos buscar Rodrigo&Sónia ao aeroporto. (O Rodrigo vai ficar aqui em casa durante os próximos tempos. A Sónia só vai ficar durante a próxima semana a acompanhar o seu querido.)
(Parêntesis: no caminho para o aeroporto - meia hora por uma autoestrada que à noite é negra, tal parece perdida no meio de nenhures - apanhámos uma trovoada magnífica. Tão magnífica, tão magnífica que eu estive o mais perto possível de me borrar de medo devido a trovões. Ainda por cima o Alex aproveitou para gozar e contar imensas histórias horrorosas de pessoas com destinos infelizes em situações semelhantes. Adiante.)
Voltávamos muito bem para Pittsburgh (1 da manhã), Sónia e Rodrigo mortos de cansaço no banco de trás, quando ouvimos a sirene da polícia atrás de nós, junto com as luzes azuis e vermelhas. Sim, era mesmo para nós. O Alex parou na beira da estrada e pôs os braços em cima do volante. (Felizmente, ele sabia que não se pode sair do carro naquelas circunstâncias. Depois disse-nos que isso podia dar direito a tiroteio policial. Acho que ele não estava a gozar, embora provavelmente isso tenha acontecido em apenas alguns casos.)
Enfim, depois de nos intimidarem com uma lanterninha apontada às janelas do carro, tipo turistas no zoo a ver os morcegos, perguntarem se tínhamos armas no automóvel (!), cirandarem em volta do carro (num total de 3 polícias ao mesmo tempo), disseram que a matrícula/regiato/ coisa burocrática do carro do Alex tinha expirado há duas semanas. E que era melhor ele tratar disso ou então passavam-lhe uma multa.
E pronto, adios, bye, bye, end of adventure, fomos embora jantar.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
First meeting with The boss
Estive o dia de ontem todo a pensar em argumentos arrasadores que demonstrariam o quão bom vai ser o meu trabalho de investigação.
Inutilmente.
A nossa reunião consistiu em:
- Já estás a receber?
- Já tens seguro de Saúde?
- (Sarah [secretária] trata disso!)
- Já tens casa?
- Aqui tens o meu número de casa e da minha mulher, caso haja algum problema.
É claro que estive tanto tempo a pensar que lhe tive que dizer algumas coisas sobre R&D. Com a sensação que mais valia ter estado calada.
Entretanto, olhem só o que eu descobri:
http://www.selfdiscoveryportal.com/
http://www.selfdiscoveryportal.com/psindex.htm
Está-me a apetecer ir espreitar o encontro deles na próxima 2ª. Se calhar, vão-me dizer para me suicidar ao terceiro dia conforme as escrituras, mas como o encontro é numa biblioteca deve dar tempo para fugir... Espero não me deparar com um agente undercover do FBI.
Entretanto, vou tirar férias, por causa do jet lag... Pittsburgh here I go!
quarta-feira, 11 de junho de 2008
This is the way things are done around here...
Arranjar Student ID, escritório e conta bancária foi muito fácil.
Para os quatro pares de sapatos foi necessário planeamento dado que não tenho carro como um americano normal. Comprei-os no centro comercial cá do sítio, com a ajuda da boleia de um tuga (muito difícil ir a qualquer sítio de autocarro) que conhece o Marcos e a Xana e o Rui Neto (do teatro) e a FLIST (!). Estranho como a casa às vezes não está tão longe assim.
O tuga chama-se Alex, é amigo (ex) da Inês, minha roommate agora ausente. É claro que lhe emprestei o CD do Marcos, com uma vaga sensação de irrealidade - demasiadas referências em comum para Pittsburgh.
Entretanto, feita emigra desconsolada vi o jogo do Euro, a vitória estrondosa frente aos checos. O Pedro, namorado da Carla, minha colega de doutoramento, arrastou-a (e, por consequência, arrastou-me mim) para um almoço frente a uma TV que passasse bola. Deixei-me ir porque gosto de estar com eles e até tinha um misto de curiosidade patriótica. Ou melhor, até sabe bem sentir-me portuguesa (identificada, talvez) no meio deste mundo estranho. Assim, dado que senti a selecção como um símbolo crucial de diferenciação social e não como um dispêndio algo desnecessário de atenção, desta vez até quis saber dos golos.
O plano era irmos para um bar mas entretanto cruzámo-nos com outro tuga (que o Pedro conhecia) que nos levou ao estádio cá do sítio, uma sala de alunos de robótica onde se ouvia falar português e se jogou matrecos no intervalo. Foi um achado.
E também um investimento precioso, parece-me. Aqui na minha sala de alunos graduados - que quase parece a P10, produtividade americana o tanas, estes tipos estão sempre a falar alto - já ouvi comentar que Portugal tem uma equipa muito boa. Portanto, se quiser ter conversas superficiais com desbloqueadores de conversas fáceis (ou bocas para encher os intervalos das conversas hiper profundas sobre o sentido da vida) convém saber que Bosingwa não é nome de indiano e que Quaresma não é só na Páscoa.
Por outro lado, percebe-se porque precisamos de circo. Pelo Público/Expresso parece que Portugal está no caos, sem gasolina, sem comida por não poder ser transportada e com os bombeiros a dizer que agora não há ambulâncias para ninguém por causa da falta de gasosa. Espero que esta mensagem vos encontre bem, portanto.
Devo estar ainda meio jet-lagada e por isso estou um b o c a d o l e n t a.
Daí talvez este tom um bocado branco e neutro.
Enfim, até breve, que o post já vai longo.
"Female scholar in Pittsburgh"
I like my toast made with whole wheat
And you can hear it in my accent when I speak
I'm a female scholar in Pittsburgh
See me walking down the central street
A stack of books here at my side
Seeing fat people everywhere I turn
I'm a female scholar in Pittsburgh
I'm an alien I'm a legal alien
I'm a female scholar in Pittsburgh
I'm an alien I'm a legal alien
I'm a female scholar in Pittsburgh
If, "Hardwork maketh Doctor", someone said
Then he's the hero of the day
If US-natives ask for ignorance and smile
Be yourself no matter what they say
I'm an alien I'm a legal alien
I'm a female scholar in Pittsburgh
I'm an alien I'm a legal alien
I'm a female scholar in Pittsburgh
Modesty, propriety can lead to notoriety
You could end up as the only one
Gentleness, sobriety are rare in this society
At night a candle's brighter than the sun
Takes more than Fructis hair to make a woman
Takes more than ice cream to be fat
Confront your enemies, avoid them when you can
A scholar lectures, but she will never run
If, "Hardwork maketh Doctor" as someone said
Then he's the hero of the day
If US-natives ask for ignorance and smile
Be yourself no matter what they say
I'm an alien I'm a legal alien
I'm a female scholar in Pittsburgh
I'm an alien I'm a legal alien
I'm a female scholar in Pittsburgh
terça-feira, 10 de junho de 2008
Tales from a skinny city
- "Viver com anemia é possível!"
- "A pão e água!"
- "Magreza é beleza"
- "Tales from the skinny side"
- 'bilhete postal' (já que vai ser a forma de comunicação dela além-mar)
- 'remember u.s.' ou 'us mail' (duplo sentido 'nós'-'EUA')
- 'cris overseas' (só porque rima)
Eu só tive oportunidade de as ler depois de tudo escolhido (tava com outro emigrado - o Avec), mas tenho a dizer que curto bué a "Tales from the skinny side"!
Tudo isto pra dizer que a ideia do blog é um veículo de comunicação, mas à tua medida, por isso tens todo o espaço para o editares!!
Bibitos grandes, stipouff
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Carias, Dasilvacarias
O primeiro sentimento é a estranheza de estar num país onde não pertenço. Onde tudo me diz que eu não sou daqui...
Preenchemos declarações no avião que são inspeccionadas à entrada; somos interrogados quando chegamos por um membro da autoridade que nos olha com suspeição; posso estudar, mas não trabalhar... e se isso acontecer a federal law vem atrás de mim. De todo, sou estranha, sou alienígena. Enquanto tal, um conjunto de leis delimita claramente o meu espaço de acção enquanto (não) cidadã e isso traz um peso diferente às acções.
Fico sempre nervosa perante estas desconfianças. Como se estivesse a um acesso de loucura - fazer um comentário sobre bombas, por a cruzinha no sítio que diz que tenho intenções criminosas no formulário do avião - de ir parar a Guantanamo.
Mas Pittsburgh é bonito, ou o dia assim o pintou. Não há mar nos arredores, mas verde a perder de vista. O ar é quente e húmido, denso sem maresia.
E os meus colegas de casa prepararam jantar de boas vindas.
Agora estou a viver com a Inês e com a Jenny. Mas a Inês vai amanhã para fora e a Jenny passa a vida em casa do namorado, pelo que na próxima semana vou ficar sozinha a ambientar-me.
Já suspeito onde posso comprar os produtos da Frutis que encaracolam os cabelos, portanto está tudo bem.
(Ah, e amanhã vou à universidade trabalhar).
A nova vida começou!
sexta-feira, 6 de junho de 2008
A neve também queima a pele...
If I could offer you only one tip for the future, sunscreen would be
it. The long term benefits of sunscreen have been proved by
scientists whereas the rest of my advice has no basis more reliable
than my own meandering experience…I will dispense this advice now.
Enjoy the power and beauty of your youth; oh nevermind; you will not
understand the power and beauty of your youth until they have faded.
But trust me, in 20 years you’ll look back at photos of yourself and
recall in a way you can’t grasp now how much possibility lay before
you and how fabulous you really looked….You’re not as fat as you
imagine.
Don’t worry about the future; or worry, but know that worrying is as
effective as trying to solve an algebra equation by chewing
bubblegum. The real troubles in your life are apt to be things that
never crossed your worried mind; the kind that blindside you at 4pm
on some idle Tuesday.
Do one thing everyday that scares you
Sing
Don’t be reckless with other people’s hearts, don’t put up with
people who are reckless with yours.
Floss
Don’t waste your time on jealousy; sometimes you’re ahead, sometimes
you’re behind…the race is long, and in the end, it’s only with
yourself.
Remember the compliments you receive, forget the insults; if you
succeed in doing this, tell me how.
Keep your old love letters, throw away your old bank statements.
Stretch
Don’t feel guilty if you don’t know what you want to do with your
life…the most interesting people I know didn’t know at 22 what they
wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year
olds I know still don’t.
Get plenty of calcium.
Be kind to your knees, you’ll miss them when they’re gone.
Maybe you’ll marry, maybe you won’t, maybe you’ll have children,maybe
you won’t, maybe you’ll divorce at 40, maybe you’ll dance the funky
chicken on your 75th wedding anniversary…what ever you do, don’t
congratulate yourself too much or berate yourself either – your
choices are half chance, so are everybody else’s. Enjoy your body,
use it every way you can…don’t be afraid of it, or what other people
think of it, it’s the greatest instrument you’ll ever
own..
Dance…even if you have nowhere to do it but in your own living room.
Read the directions, even if you don’t follow them.
Do NOT read beauty magazines, they will only make you feel ugly.
Get to know your parents, you never know when they’ll be gone for
good.
Be nice to your siblings; they are the best link to your past and the
people most likely to stick with you in the future.
Understand that friends come and go,but for the precious few you
should hold on. Work hard to bridge the gaps in geography and
lifestyle because the older you get, the more you need the people you
knew when you were young.
Live in New York City once, but leave before it makes you hard; live
in Northern California once, but leave before it makes you soft.
Travel.
Accept certain inalienable truths, prices will rise, politicians will
philander, you too will get old, and when you do you’ll fantasize
that when you were young prices were reasonable, politicians were
noble and children respected their elders.
Respect your elders.
Don’t expect anyone else to support you. Maybe you have a trust fund,
maybe you have a wealthy spouse; but you never know when either one
might run out.
Don’t mess too much with your hair, or by the time you're 40, it will
look 85.
Be careful whose advice you buy, but, be patient with those who
supply it. Advice is a form of nostalgia, dispensing it is a way of
fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the
ugly parts and recycling it for more than
it’s worth.
But trust me on the sunscreen…"
Ou a versão musicada:
(Tão anos 90!)
http://www.youtube.com/watch?v=xfq_A8nXMsQ&feature=related
(Stipouff - orgulhosamente sem gmail)