1. Exército na rua. Não sei porquê, nas ruas da Cidade do México veêm-se camiões carregados de soldados. Até vi tanques no meio do tráfico, (penso que) devido ao dia da Independência que se aproxima...
2. Cor. Apesar do caos, a Cidade do México pareceu-me insolitamente colorida, tipo manta de retalhos feita de tecidos velhos e fortes. A cor estava também nas faces das mexicanas, que se maquilham artisticamente. No Museu de Antropologia percebi que a tradição garrida vem de longe: as ruínas Aztecas são fortemente coloridas.
3. Milho. O milho está para o México como o trigo está para Portugal, que é como quem diz, o pão mexicano é a tortilha. E a palavra portuguesa sandes deve ter a traduação de quesadilha. O culto do milho vem de longe, desde os povos ameríndios.
4. Alegria. (tomem em conta o exagero de uma turista que esteve no México menos de meio mês). Parece-me que a cultura mexicana pende para a alegria como a portuguesa pende para a tristeza e seriedade. Posso não perceber as letras de músicas tradicionais, mas parece-me tudo alegre (de mariachis aos ritmos latinos mais conhecidos). No meio de um cemitério mexicano vi uma pepsi aberta perto de uma campa (é tradição celebrar a morte de um ente querido com ofertas). Foi-me um bocado difícil entender isto. Não é que não se esteja triste ou menos feliz, é como se a resposta adquirida às situações experenciadas fosse a alegria e a leveza. É um bocado esquisito, é como se se os pequenos dramas da vida não existissem e se dissipassem em risadas... (E para os grandes existe pepsi.)
5. Política no feminino. Acabaram de haver eleições municipais (?) no México, e portanto havia uma data de cartazes políticos espalhados pela cidade. Epá, e tive uma sensação estranha: havia imensas mulheres a concorrer, quase tantas como homens. Não sei como explicar esta sensação de paridade num país onde viver é difícil e mais se se fôr mulher.
6. Dança. Fui ao teatro ver danças mexicanas (não sei que nome dar a esta mezcla de flamengo com cor, alegria e cultura ameríndia, por isso chamo danças mexicanas. No México chama-se Ballet Folclórico Amália Hernandez). Parece-me que foi a experiência de dança mais intensa que tive até hoje. Adorei. As danças simbolizavam partes da história do México (desde os aztecas, até a danças de casamento e baile, passando pela revolução e uma dança simbolizando a caça de um veado). Eram feitas de vitalidade, força, e alegria. As cores e os trajes mexicanos também dançavam, e às vezes viam-se figuras de borboletas feitas de tecido no palco. Era tudo simples e forte e bonito, e a música punha-nos um sorriso nos lábios.
7. Borboletas no topo da pirâmide do Sol, em Teotihuacan (era o Amor...).
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
domingo, 16 de agosto de 2009
Viva México
Ainda leêm este blog?
Ou estará este blog já irremediavelmente perdido na imensidão da internet?
Este post agora não é sobre os US, é sobre o México.
É verdade, vim à Cidade do México. Duas vezes este Verão. Fui às pirâmides, andei na baixa, andei de metro, andei de carro pelos subúrbios, fui ao cinema, fui ao museu e à universidade (UNAM) mais prestigiada do México (assim me dizem, pelo menos). Ah, e provei a comida mexicana, gafanhotos (dois), ovos de formiga, larvas do cacto que dá tequillas, fruta selvagem de cacto (tuna) e outra fruta cor de rosa exótica cujo nome não me lembro. E claro, salsas, guacamole, quesadillas.
Nem sei por onde começar.
A comida é óptima. Adorei. Amei. A comida mexicana combina os meus ingredientes favoritos da portuguesa (alho, coentros,tomate, ervas) com uma herança exótica Azteca.
Existem vendedores ambulante de todo o tipo nas estradas. Vendem tunas, milho cozido com chili, frutas, gelados (bulubulu?), tamale. Mas, numa cidade onde a água da torneira não é potável, confesso que não me aventurei muito por este tipo de snacks.
A herança ameríndia está por todo o lado. Nos nomes das ruas, com muitos tês e éles, emigrados da língua Nahuatl. No Xamã que encontrei na praça principal da cidade do México. Mas, sobretudo, nas pessoas. A maior parte das pessoas tem fisionimia índia. Pequenos, morenos, e com maçãs do rosto salientes.
(Nota: não percebo muito bem porque é que no Brasil não se veêm tantos índios - ou pelo menos quem lá esteve disse-me que a fisionomia das pessoas está entre o caucasiano e o mulato. Não sei se isto não contradirá a "conveniente" teoria lusa que os portugueses foram muito menos agressivos que os espanhóis com os povos nativos.)
Quinhentos anos depois da "Conquista" os índios são os pobres, os brancos são os ricos. Num dos bairros mais ricos da cidade, só vi brancos. Nos subúrbios da Cidade do México só vi índios.
A cidade do México tem vinte e dois milhões de pessoas. Isso é duas vezes a população do nosso país. Não é uma cidade bonita como Paris ou ordenada. É uma cidade colorida e caótica, feita de casas encavalitadas em cima de casas. De favelas em cima de favelas. O centro da cidade tem um toque hispânico evidente, construído em cima de pirâmides aztecas, um centro financeiro feito de arranha-céus, jardins e edifícios altos. Mas, quando se olha de um prédio alto, casas e casas é tudo o que a vista alcança.
Os subúrbios são feitos de favelas. Casebres cinzentos que alastram pelas montanhas. O sistema de transporte público é limitado. Aqui usam-se as peseras para ir para fora da cidade. As peseras não têm "paragens", param onde lhe fazem sinal, complicando ainda mais o trânsito. Que sim, é tão complexo e feito de engarrafamentos como temos ideia.
Há sempre carros. O perto é distante e demora tempo. A condução é feita de pequenos gestos, com tantos carros colados uns aos outros. A vida complica-se com o tempo que se demora a chegar a qualquer sítio (horas).
Estar no México fez-me compreender o que é ser Europeia, Portuguesa. Adivinho que uma população equivalente à população do nosso país viva em favelas (que a mim me parecem decadentes e pobres). Parte da população sobrevive com trabalhos menores (pôr gasolina, lavar carros, vender coisas nas ruas).
A pobreza aqui é uma pobreza diferente. Não é que os pobres que vi aqui não se possam ver em Portugal. Mas o número de pobres institucionaliza a pobreza. Como europeia, vivo num país e num continente onde a pobreza revolta, onde o governo tem que resolver problemas humanitários considerados graves. Aqui, o número de pobres aliado a corrupção estatal tornam a pobreza num algo que simplesmente existe, à espera de algo.
Não me leiam mal. Sempre pensei e continuo a pensar que parte do nosso dever enquanto cidadãos do mundo rico é tentar contribuir para uma sociedade mais justa. O que acontece é que temos uma noção de direitos individuais que é insustentável a fora do mundo ocidental. Eu tenho um sentimento que alguém tem sempre que fazer algo pelos pobres porque não devem haver pobres. Aqui, é como se o peso da realidade esmagasse essa noção. Existem tantos pobres que a solução imediata, o curto ou médio prazo é quase impossível.
O longo prazo torna-se ainda mais difícil quando se pensa que a literacia aqui é frágil, a corrupção galopante e este país tem problemas de segurança gritantes.
Os raptos são uma realidade. A polícia pratica o suborno. No outro dia, no cinema vi um casal escoltado por seguranças.
Mais uma vez, não me leiam mal. Não quero transmitir uma sensação de pessimismo generalizado e desistência. É só que, muito sinceramente, só percebi agora o que é ser rico a nível global. O viver numa sociedade onde posso confiar minimamente em instituições, onde posso escolher o que estudar, onde se espera que a morte de um anónimo seja cuidada e investigada. O viver numa sociedade que tem uma das moedas mais fortes a nível mundial.
Num país onde a pobreza é endémica, e as instituições são falíveis, a acção individual solitária é um pixel branco num quadro negro. Faltam soluções facilmente escaláveis a milhões e mesmo essas demorarão gerações a darem frutos.
Falta um sentimento de igualdade social que permita que milhões de pessoas queiram e saibam construir uma sociedade mais justa. Mais uma vez, a pobreza não existe solitária. A desigualdade aqui é gritante. Aposto que a variância de preços entre produtos de pobres (muito mais baratos que no mundo ocidental) e produtos de ricos (com portáteis que aqui se vendem ao dobro do preço dos EUA, já para não falar de artigos de luxo) é muito maior que no nosso país. E, se existe mercado, existe procura...
E, apesar de tudo, na minha amostra enviesada de pessoas mexicanas que conheci, encontro uma leveza de espírito, uma alegria não amargurada que contrasta com um certo negrume lusitano. E as favelas têm enfeites de festa.
Ou estará este blog já irremediavelmente perdido na imensidão da internet?
Este post agora não é sobre os US, é sobre o México.
É verdade, vim à Cidade do México. Duas vezes este Verão. Fui às pirâmides, andei na baixa, andei de metro, andei de carro pelos subúrbios, fui ao cinema, fui ao museu e à universidade (UNAM) mais prestigiada do México (assim me dizem, pelo menos). Ah, e provei a comida mexicana, gafanhotos (dois), ovos de formiga, larvas do cacto que dá tequillas, fruta selvagem de cacto (tuna) e outra fruta cor de rosa exótica cujo nome não me lembro. E claro, salsas, guacamole, quesadillas.
Nem sei por onde começar.
A comida é óptima. Adorei. Amei. A comida mexicana combina os meus ingredientes favoritos da portuguesa (alho, coentros,tomate, ervas) com uma herança exótica Azteca.
Existem vendedores ambulante de todo o tipo nas estradas. Vendem tunas, milho cozido com chili, frutas, gelados (bulubulu?), tamale. Mas, numa cidade onde a água da torneira não é potável, confesso que não me aventurei muito por este tipo de snacks.
A herança ameríndia está por todo o lado. Nos nomes das ruas, com muitos tês e éles, emigrados da língua Nahuatl. No Xamã que encontrei na praça principal da cidade do México. Mas, sobretudo, nas pessoas. A maior parte das pessoas tem fisionimia índia. Pequenos, morenos, e com maçãs do rosto salientes.
(Nota: não percebo muito bem porque é que no Brasil não se veêm tantos índios - ou pelo menos quem lá esteve disse-me que a fisionomia das pessoas está entre o caucasiano e o mulato. Não sei se isto não contradirá a "conveniente" teoria lusa que os portugueses foram muito menos agressivos que os espanhóis com os povos nativos.)
Quinhentos anos depois da "Conquista" os índios são os pobres, os brancos são os ricos. Num dos bairros mais ricos da cidade, só vi brancos. Nos subúrbios da Cidade do México só vi índios.
A cidade do México tem vinte e dois milhões de pessoas. Isso é duas vezes a população do nosso país. Não é uma cidade bonita como Paris ou ordenada. É uma cidade colorida e caótica, feita de casas encavalitadas em cima de casas. De favelas em cima de favelas. O centro da cidade tem um toque hispânico evidente, construído em cima de pirâmides aztecas, um centro financeiro feito de arranha-céus, jardins e edifícios altos. Mas, quando se olha de um prédio alto, casas e casas é tudo o que a vista alcança.
Os subúrbios são feitos de favelas. Casebres cinzentos que alastram pelas montanhas. O sistema de transporte público é limitado. Aqui usam-se as peseras para ir para fora da cidade. As peseras não têm "paragens", param onde lhe fazem sinal, complicando ainda mais o trânsito. Que sim, é tão complexo e feito de engarrafamentos como temos ideia.
Há sempre carros. O perto é distante e demora tempo. A condução é feita de pequenos gestos, com tantos carros colados uns aos outros. A vida complica-se com o tempo que se demora a chegar a qualquer sítio (horas).
Estar no México fez-me compreender o que é ser Europeia, Portuguesa. Adivinho que uma população equivalente à população do nosso país viva em favelas (que a mim me parecem decadentes e pobres). Parte da população sobrevive com trabalhos menores (pôr gasolina, lavar carros, vender coisas nas ruas).
A pobreza aqui é uma pobreza diferente. Não é que os pobres que vi aqui não se possam ver em Portugal. Mas o número de pobres institucionaliza a pobreza. Como europeia, vivo num país e num continente onde a pobreza revolta, onde o governo tem que resolver problemas humanitários considerados graves. Aqui, o número de pobres aliado a corrupção estatal tornam a pobreza num algo que simplesmente existe, à espera de algo.
Não me leiam mal. Sempre pensei e continuo a pensar que parte do nosso dever enquanto cidadãos do mundo rico é tentar contribuir para uma sociedade mais justa. O que acontece é que temos uma noção de direitos individuais que é insustentável a fora do mundo ocidental. Eu tenho um sentimento que alguém tem sempre que fazer algo pelos pobres porque não devem haver pobres. Aqui, é como se o peso da realidade esmagasse essa noção. Existem tantos pobres que a solução imediata, o curto ou médio prazo é quase impossível.
O longo prazo torna-se ainda mais difícil quando se pensa que a literacia aqui é frágil, a corrupção galopante e este país tem problemas de segurança gritantes.
Os raptos são uma realidade. A polícia pratica o suborno. No outro dia, no cinema vi um casal escoltado por seguranças.
Mais uma vez, não me leiam mal. Não quero transmitir uma sensação de pessimismo generalizado e desistência. É só que, muito sinceramente, só percebi agora o que é ser rico a nível global. O viver numa sociedade onde posso confiar minimamente em instituições, onde posso escolher o que estudar, onde se espera que a morte de um anónimo seja cuidada e investigada. O viver numa sociedade que tem uma das moedas mais fortes a nível mundial.
Num país onde a pobreza é endémica, e as instituições são falíveis, a acção individual solitária é um pixel branco num quadro negro. Faltam soluções facilmente escaláveis a milhões e mesmo essas demorarão gerações a darem frutos.
Falta um sentimento de igualdade social que permita que milhões de pessoas queiram e saibam construir uma sociedade mais justa. Mais uma vez, a pobreza não existe solitária. A desigualdade aqui é gritante. Aposto que a variância de preços entre produtos de pobres (muito mais baratos que no mundo ocidental) e produtos de ricos (com portáteis que aqui se vendem ao dobro do preço dos EUA, já para não falar de artigos de luxo) é muito maior que no nosso país. E, se existe mercado, existe procura...
E, apesar de tudo, na minha amostra enviesada de pessoas mexicanas que conheci, encontro uma leveza de espírito, uma alegria não amargurada que contrasta com um certo negrume lusitano. E as favelas têm enfeites de festa.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Valkyrie
Isto não tem nada (ou pouco) a ver com a américa mas ontem vi o Valkyrie, um filme com o Tom Cruise sobre a última tentativa para assassinar Hitler.
Comecei um bocado desconfiada porque não gosto de ver montagens de Hollywood sobre histórias que se passaram fora da América. Parece-me que é uma maneira ilusória de recordar a história. Acabamos por armazenar memórias que, inconscientemente, nos dão a sensação de um passado e um globo homogéneo. Apagam a verdadeira história de diversidades, de radicais formas de viver a vida, de diferentes formas de sentir o tempo e o espaço, porque transladam para o passado e para ilhas desertas as presentes ilusões ocidentais.
Além disso, não gosto de ver filmes que já sei que acabam mal (por isso demorei anos a ver o Titanic).
Mas, depois de ter visto o filme, hollywoodesco sim, dramático sim, fiquei contente de o ter visto.
Para quem não sabe, o filme retrata a história do Coronel Stauffenberg, que pôs uma bomba na sala de reuniões de Hitler e tentou mudar o curso da história. Já tinha visto um documentário na 2 sobre esta tentativa, a minha memória confirma que isto é verídico. Em todo o caso, como sabem, Hitler não morreu (nessa altura). Staufferg sim, foi executado.
O filme testemunha um punhado de homens, que, no lado errado das coisas, conseguiu perceber o que era correcto. Na altura, foram desprezados por pessoas que seriam executadas meses depois, na sequência da derrota. Mas anos depois, um nazi tem que esconder a sua identidade e a história recorda estes traidores como heróis.
Hollywood é apenas mais um tributo.
Comecei um bocado desconfiada porque não gosto de ver montagens de Hollywood sobre histórias que se passaram fora da América. Parece-me que é uma maneira ilusória de recordar a história. Acabamos por armazenar memórias que, inconscientemente, nos dão a sensação de um passado e um globo homogéneo. Apagam a verdadeira história de diversidades, de radicais formas de viver a vida, de diferentes formas de sentir o tempo e o espaço, porque transladam para o passado e para ilhas desertas as presentes ilusões ocidentais.
Além disso, não gosto de ver filmes que já sei que acabam mal (por isso demorei anos a ver o Titanic).
Mas, depois de ter visto o filme, hollywoodesco sim, dramático sim, fiquei contente de o ter visto.
Para quem não sabe, o filme retrata a história do Coronel Stauffenberg, que pôs uma bomba na sala de reuniões de Hitler e tentou mudar o curso da história. Já tinha visto um documentário na 2 sobre esta tentativa, a minha memória confirma que isto é verídico. Em todo o caso, como sabem, Hitler não morreu (nessa altura). Staufferg sim, foi executado.
O filme testemunha um punhado de homens, que, no lado errado das coisas, conseguiu perceber o que era correcto. Na altura, foram desprezados por pessoas que seriam executadas meses depois, na sequência da derrota. Mas anos depois, um nazi tem que esconder a sua identidade e a história recorda estes traidores como heróis.
Hollywood é apenas mais um tributo.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Life for loan
Uma coisa que aprendemos desde que somos pequeninos e a gerir a guita, massa, ou carcanhol. Imitamos, interiorizamos (por muito que nos custe admitir) os modelos mais proximos, eufemismo para papas. Mas aquilo que sempre me pareceu muito racional dado que envolve numeros e, as vezes, folhas de excel, parece-me agora reflexo de uma maneira de pensar o dinheiro.
Porque o dinheiro, na america, pensa-se de maneira diferente que o dinheiro europeu.
A diferenca e o credito.
Aqui o credito conta como dinheiro.
Ha um sketch do saturday night live em que um pseudo-professor ensina um casal de americanos a gerir dinheiro. O mote e: "If you don't have money, don't buy it!". Primeiro pensei que o sketch fosse exagerado, pouco criativo, sensaborao e sem piada.
Mas depois vi uma entrevista na CNN a uma mulher que, em 3 anos, pagou 46.000 dolares de divida as companhias de credito. Ela sempre tinha sido ensidada que, desde que conseguisse pagar as televisoes e carros a prestacoes, estava ok. Bastou uma doenca para as prestacoes se atrasarem e a divida acumular. (E, presume-se, ela perceber que nao era assim tao ok ter a vida a prestacoes).
Este caso saiu na CNN porque e um caso de sucesso. Raro. Porque todos os outros, aqueles que foram ensinados como esta senhora, mas que nao conseguem ter tres trabalhos sem fins de semana (aquilo pelo qual ela passou durante 3 anos) vao parar a associacoes como esta: Devedores anonimos.
O credito aqui e uma segunda natureza. Um americano de classe media era assediado com toneladas de credit card applications, daquelas que dizem 0 juros em parragonas, mas que, em letras pequenas, mostram taxas variaveis a volta de 25-30%. Eu vi (com os meus olhos que a terra ha-de comer) estes golpes publicitarios. E eu, uma engenheira a tirar um doutoramento, nao consegui determinar qual a taxa de juro exacta que se aplicava a mim. Mesmo lendo com esforco as letras pequeninas.
E, depois de avaliar a enormidade de credit applications com que um americano era assediado, percebi finalmente que, epa, a crise economica nao e assim tao surpreendente. Apesar de nao conseguir compreender todos os detalhes da questao, aquilo que percebo e: rebentou-se a bolha de produtos financeiros feitos a partir de produtos financeiros feitos a partir de produtos financeiros de alto risco (ie, baseados em pessoas que nao conseguiam pagar) e foi um ver se te havias, uma derrocada financeira tipo domino.
Uma questao lateral e este conceito da vida a prestacoes. Pagar 100$ agora adiantado e ter que pagar entre 1/4 e 1/3 a uma companhia que financia um estilo de vida insustentavel. Uma familia de classe media estar amarrada a uma aparencia futil enquanto a riqueza real 'e pouca ou nenhuma e esvai-se como areia por entre televisoes e carros novos (porque a america esta cheia de carros novos, grandes e luzidios). E o mesmo conceito por detras de todos os sistemas de classes. O esforco de uma classe sustentou os de sangue azul, os mais nobres, e, agora, os mais espertos.
A mobilidade social nao e assim tao movel, afinal. A educacao de massas tem funcionado como equalizador social, a pouco e pouco, claro, como sao todos os processos geracionais, mas a ilusao de uma sociedade meritocratica e mantida sobretudo por umas quantas estatisticas improvaveis chamadas Bill Gates.
E aquilo que ainda e mais estranho, e como e tao natural tudo isto. Meter a vida a prestacoes para ter a casa cheia de coisas.
PS: ha pouco tempo o Obama mandou fazer um novo regulamento para companhias de credito. Segundo me disseram, o regulamento regula a fonte, o tamanho da fonte e a legibilidade de panfletos que divulgam credito. So para perceberem o quao tragi-comica era a situacao. Artigo do Wall Street Journal.
Porque o dinheiro, na america, pensa-se de maneira diferente que o dinheiro europeu.
A diferenca e o credito.
Aqui o credito conta como dinheiro.
Ha um sketch do saturday night live em que um pseudo-professor ensina um casal de americanos a gerir dinheiro. O mote e: "If you don't have money, don't buy it!". Primeiro pensei que o sketch fosse exagerado, pouco criativo, sensaborao e sem piada.
Mas depois vi uma entrevista na CNN a uma mulher que, em 3 anos, pagou 46.000 dolares de divida as companhias de credito. Ela sempre tinha sido ensidada que, desde que conseguisse pagar as televisoes e carros a prestacoes, estava ok. Bastou uma doenca para as prestacoes se atrasarem e a divida acumular. (E, presume-se, ela perceber que nao era assim tao ok ter a vida a prestacoes).
Este caso saiu na CNN porque e um caso de sucesso. Raro. Porque todos os outros, aqueles que foram ensinados como esta senhora, mas que nao conseguem ter tres trabalhos sem fins de semana (aquilo pelo qual ela passou durante 3 anos) vao parar a associacoes como esta: Devedores anonimos.
O credito aqui e uma segunda natureza. Um americano de classe media era assediado com toneladas de credit card applications, daquelas que dizem 0 juros em parragonas, mas que, em letras pequenas, mostram taxas variaveis a volta de 25-30%. Eu vi (com os meus olhos que a terra ha-de comer) estes golpes publicitarios. E eu, uma engenheira a tirar um doutoramento, nao consegui determinar qual a taxa de juro exacta que se aplicava a mim. Mesmo lendo com esforco as letras pequeninas.
E, depois de avaliar a enormidade de credit applications com que um americano era assediado, percebi finalmente que, epa, a crise economica nao e assim tao surpreendente. Apesar de nao conseguir compreender todos os detalhes da questao, aquilo que percebo e: rebentou-se a bolha de produtos financeiros feitos a partir de produtos financeiros feitos a partir de produtos financeiros de alto risco (ie, baseados em pessoas que nao conseguiam pagar) e foi um ver se te havias, uma derrocada financeira tipo domino.
Uma questao lateral e este conceito da vida a prestacoes. Pagar 100$ agora adiantado e ter que pagar entre 1/4 e 1/3 a uma companhia que financia um estilo de vida insustentavel. Uma familia de classe media estar amarrada a uma aparencia futil enquanto a riqueza real 'e pouca ou nenhuma e esvai-se como areia por entre televisoes e carros novos (porque a america esta cheia de carros novos, grandes e luzidios). E o mesmo conceito por detras de todos os sistemas de classes. O esforco de uma classe sustentou os de sangue azul, os mais nobres, e, agora, os mais espertos.
A mobilidade social nao e assim tao movel, afinal. A educacao de massas tem funcionado como equalizador social, a pouco e pouco, claro, como sao todos os processos geracionais, mas a ilusao de uma sociedade meritocratica e mantida sobretudo por umas quantas estatisticas improvaveis chamadas Bill Gates.
E aquilo que ainda e mais estranho, e como e tao natural tudo isto. Meter a vida a prestacoes para ter a casa cheia de coisas.
PS: ha pouco tempo o Obama mandou fazer um novo regulamento para companhias de credito. Segundo me disseram, o regulamento regula a fonte, o tamanho da fonte e a legibilidade de panfletos que divulgam credito. So para perceberem o quao tragi-comica era a situacao. Artigo do Wall Street Journal.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
The fat of the land II
Uma coisa que se ve muito aqui na America sao pessoas gordas. Obesos gordissimos que - desculpem a franqueza - surpreendem o europeu incauto. Este e um pais em que - estatisticas oficiais (acreditem em mim) - 1/3 da populacao e overweight e 1/3 e obeso. Isto e, so uma em cada 3 pessoas tem o peso dito saudavel (e desses tem que se descontar os anorecticos).
Quando digo gordo dispam-se dos limites mentais que encontraram nas ruas de Lisboa. Nao estamos aqui a falar da normal variancia da bochecha do rabo humano. Trata-se antes do fenomeno volta-e-meia-nao-me-posso-sentar-no-autocarro-por-causa-d@-gord@-que-ocupa-dois-lugares. As vezes dou por mim a pensar quantas pessoas normais existiriam no espaco ocupado por um gordo.
E que, desculpem o grafismo, nao e so a gordura. E, as vezes, muitas vezes, vezes demais, se adivinharam as pregas flacidas de gordura por entre os vincos da T-shirt. Familias em que toda a gente e grande demais, flacida demais, larga demais. Interrogo-me como e viver assim, disforme, pesado e ondulante.
(Veio-me agora a cabeca o Homer Simpson. Lembram-se da largura da cintura dele ser muito maior que o resto do corpo? E essa a caracteristica fundamental dos overweight americanos - muita massa acumulada na barriga.)
Isto irrita-me. E irrita-me de varias maneiras.
Primeiro, porque era tao simples acabar com o assunto. Tao simples e claro e obvio. Numa estacao de gasolina perdida no meio duma estrada americana, a coca-cola e mais barata que agua. Nos supermercados mais acessiveis do meio da cidade, fruta e vegetais frescos sao carissimos. Duas alfaces (cada uma a 2$) dao para comprar uma refeicao no MacDonalds. Bastavam medidas relativamente simples como proibir refrigerantes e taxar fast-food para alterar o preco relativo destes bens, para eles se tornarem menos atractivos.
Aqui gordura e sinal de pobreza. Na cidade onde vivo isto e tao real que se pode estimar o estrato social de um determinado suburbio pelo numero de (muito) gordos que se ve nas ruas. Na minha universidade, claro, nao se ve ninguem obeso (ok, talvez um ou dois). E triste. Os pobres sao aqueles que comem o lixo barato.
Mas isto tambem demonstra o quao media e average e a raca humana. Desculpem a amargura. A verdade e que existem, sim, opcoes aos precos altos. Apesar do supermercado mais acessivel ser carissimo, a cidade tem um mercado caracteristico em que vegetais e frutas sao vendidos a precos muito mais baixos. Existem outras grandes superficies com precos mais competitivos. Existe o mercado ocasional bio-local. Feijao, grao, tomate enlatados sao baratos em todo o lado. Isto e, tirando o peixe (que, de facto, e dificil de encontrar - estamos a 8horas do mar alto) nao me parece que se possa argumentar que, em absoluto, aqui nao se encontra nada de jeito. Mesmo que seja um pouco mais caro, isso em nada altera o argumento. Lembrem-se que nao estamos a falar de pessoas que se comerem menos passam a fome africana.
A obesidade e evitavel.
O que acontece aqui e que, a par deste problema economico, as cadeias de fast-food estao por todo lado, nas ruas e dentro de casas, onde entram pela televisao adentro. No pais dos XXXL os anuncios louvam a quantidade de comida que pode comer por pouco dinheiro. E a fast-food e, em si, parte do american way of life. Comer, aqui, e algo que se faz rapidamente, como como quem nao quer a coisa, enquanto persigo o american dream. Comer e um pormenor. (Um colega meu americano inclusive disse-me que entre escolher perder tempo a fazer comida ou trabalhar, muitas pessoas nem sequer perdiam tempo para pensar).
E, claro, comer e facil.
E que, as vezes, este problema todo irrita-me porque me parece tambem um sinal de um tipo de cultura tecnologica que, no seu pior, transforma e deixa transformar o ser humano num objecto manipulador de maquinas, sem alma nem vontade. Um ambiente de "deixe a maquina fazer por si" que, no seu pior, se traduz nma inercia colectiva e individual em processar o ambiente em vez de comer apaticamente lixo televisado.
E claro que muito mais havia a dizer. Este e um problema cuja raiz esta afinal na organizao da nossa sociedade. Desde a revolucao industrial que a massa laboral se tem deslocado progressivamente para os servicos, enquanto sectores vitais como a agricultura foram esquecidos. A progressiva busca de lucro atraves de produtos novos, racoes que alimentam uma populacao stressada sem tempo para cuidar de si, resulta em pacotes caloricos artificiais, rapidos de preparar e ingerir, mas de diminuto valor nutricional.
Enfim...
Vamos a ver como a europa resiste as tentacoes do progresso. Entretanto, deixo-vos com duas perolas:
> um concurso chamado "the biggest loser" que e um reality show/ concurso para ver quem perde mais peso - concurso
> um artigo do new york times sobre a fraca seguranca alimentar dos US - artigo
Quando digo gordo dispam-se dos limites mentais que encontraram nas ruas de Lisboa. Nao estamos aqui a falar da normal variancia da bochecha do rabo humano. Trata-se antes do fenomeno volta-e-meia-nao-me-posso-sentar-no-autocarro-por-causa-d@-gord@-que-ocupa-dois-lugares. As vezes dou por mim a pensar quantas pessoas normais existiriam no espaco ocupado por um gordo.
E que, desculpem o grafismo, nao e so a gordura. E, as vezes, muitas vezes, vezes demais, se adivinharam as pregas flacidas de gordura por entre os vincos da T-shirt. Familias em que toda a gente e grande demais, flacida demais, larga demais. Interrogo-me como e viver assim, disforme, pesado e ondulante.
(Veio-me agora a cabeca o Homer Simpson. Lembram-se da largura da cintura dele ser muito maior que o resto do corpo? E essa a caracteristica fundamental dos overweight americanos - muita massa acumulada na barriga.)
Isto irrita-me. E irrita-me de varias maneiras.
Primeiro, porque era tao simples acabar com o assunto. Tao simples e claro e obvio. Numa estacao de gasolina perdida no meio duma estrada americana, a coca-cola e mais barata que agua. Nos supermercados mais acessiveis do meio da cidade, fruta e vegetais frescos sao carissimos. Duas alfaces (cada uma a 2$) dao para comprar uma refeicao no MacDonalds. Bastavam medidas relativamente simples como proibir refrigerantes e taxar fast-food para alterar o preco relativo destes bens, para eles se tornarem menos atractivos.
Aqui gordura e sinal de pobreza. Na cidade onde vivo isto e tao real que se pode estimar o estrato social de um determinado suburbio pelo numero de (muito) gordos que se ve nas ruas. Na minha universidade, claro, nao se ve ninguem obeso (ok, talvez um ou dois). E triste. Os pobres sao aqueles que comem o lixo barato.
Mas isto tambem demonstra o quao media e average e a raca humana. Desculpem a amargura. A verdade e que existem, sim, opcoes aos precos altos. Apesar do supermercado mais acessivel ser carissimo, a cidade tem um mercado caracteristico em que vegetais e frutas sao vendidos a precos muito mais baixos. Existem outras grandes superficies com precos mais competitivos. Existe o mercado ocasional bio-local. Feijao, grao, tomate enlatados sao baratos em todo o lado. Isto e, tirando o peixe (que, de facto, e dificil de encontrar - estamos a 8horas do mar alto) nao me parece que se possa argumentar que, em absoluto, aqui nao se encontra nada de jeito. Mesmo que seja um pouco mais caro, isso em nada altera o argumento. Lembrem-se que nao estamos a falar de pessoas que se comerem menos passam a fome africana.
A obesidade e evitavel.
O que acontece aqui e que, a par deste problema economico, as cadeias de fast-food estao por todo lado, nas ruas e dentro de casas, onde entram pela televisao adentro. No pais dos XXXL os anuncios louvam a quantidade de comida que pode comer por pouco dinheiro. E a fast-food e, em si, parte do american way of life. Comer, aqui, e algo que se faz rapidamente, como como quem nao quer a coisa, enquanto persigo o american dream. Comer e um pormenor. (Um colega meu americano inclusive disse-me que entre escolher perder tempo a fazer comida ou trabalhar, muitas pessoas nem sequer perdiam tempo para pensar).
E, claro, comer e facil.
E que, as vezes, este problema todo irrita-me porque me parece tambem um sinal de um tipo de cultura tecnologica que, no seu pior, transforma e deixa transformar o ser humano num objecto manipulador de maquinas, sem alma nem vontade. Um ambiente de "deixe a maquina fazer por si" que, no seu pior, se traduz nma inercia colectiva e individual em processar o ambiente em vez de comer apaticamente lixo televisado.
E claro que muito mais havia a dizer. Este e um problema cuja raiz esta afinal na organizao da nossa sociedade. Desde a revolucao industrial que a massa laboral se tem deslocado progressivamente para os servicos, enquanto sectores vitais como a agricultura foram esquecidos. A progressiva busca de lucro atraves de produtos novos, racoes que alimentam uma populacao stressada sem tempo para cuidar de si, resulta em pacotes caloricos artificiais, rapidos de preparar e ingerir, mas de diminuto valor nutricional.
Enfim...
Vamos a ver como a europa resiste as tentacoes do progresso. Entretanto, deixo-vos com duas perolas:
> um concurso chamado "the biggest loser" que e um reality show/ concurso para ver quem perde mais peso - concurso
> um artigo do new york times sobre a fraca seguranca alimentar dos US - artigo
quarta-feira, 6 de maio de 2009
América, américa
Uma das coisas que gosto aqui da américa, é que não há só um pouco de tudo, cada pouco berra à sua maneira no espaço público, onde tudo é possível. É assim um individualismo cacofónico e colorido, tolerante e racista, com as suas armadilhas para loosers e prémios para winners, onde o mercado é rei e a pessoa "the ultimate entrepreneur".
Existem muitos heróis. Existem muitos psicopatas.
Ricos, muito ricos, pobres, e intocáveis.
E budistas reconvertidos enamorados com a New Age, accept you as you are, convivem com brutos matadores de bebés.
Não sei se isto será um resultado da lei dos grandes números. Afinal a América é mais um continente que um país.
E, entre tantos aviões, um tem que aterrar na água, fazendo do seu capitão um herói. Da mesma forma, cada geração tem o seu provável número de psicopatas. Num mercado de milhões, uns têm que enriquecer de uma maneira estatísticamente improvável, ao mesmo tempo que outros empobrevem.
Muitas destas improbabilidades estão na origem de grandes empreendimentos americanos. No século XIX Edison e Bell fundaram empresas que se tornariam na General Electric, onde Langmuir trabalhou e receberia o Nobel nos anos 20, e a AT&T, onde o transístor seria inventado nos anos 50 (o mesmo transístor que deu origem à indústria dos semi-condutores, Sillicon Valley, e ao PC, por onde a internet circula). A indústria automóvel americana, agora em declínio, começou com um punhado de empresas, de onde todos os outros fundadores de companhias de sucesso descenderiam.
(Uma breve nota: uma das melhores coisas em trabalhar em organização industrial em geral, e com o meu advisor em particular, é traçar as histórias de indústrias e eteceteras a alguns génios improváveis).
Por outro lado, esta cacofonia individualista pode ser explicada através dos mitos fundadores da américa. Com a boston tea party e tipos a fugir aos impostos, tentando fundar algo não supervisionado por um governo central, mas regulado pela vontade e esforço de cada um (sobretudo os mais ricos?).
Não sei, mas é interessante. Cada dia há escândalos sui-generis, com adeptos fervorosos dos dois lados. O último envolve uma miss e um juiz gay. O juiz perguntou à miss se concordava com o casamento de homossexuais, e ela disse que, desculpem, mas não senhora. Enquanto o juiz começou a colocar no blog que a miss era uma praia (em americano), liberais e conservadores muito ponderam sobre a miss, que agora está a pensar seguir uma carreira em política (no kidding). É claro que isto tem como pano de fundo a ongoing discussion sobre o casamento gay, passagem e despassagem de proposições e votações, e etcs que tais, mas é sobretudo o resultado de media histéricos com vontade de coisas grandes.
E a televisão americana é ainda melhor. Volta e meia descubro pérolas televisivas. No outro dia, entre canais, descobri um padre que protestava contra a feminização da igreja, em formato talk-show e com pessoas a aplaudir. Dizia ele que os casamentos não funcionavam porque as mulheres esperavam que os homens dessem porque sim ("o que é uma coisa feminina, porque as mulheres são dadoras natas") mas isto resultava, claro está, mal, porque os homens não dão porque sim, dão porque querem alguma coisa em troca. Inclusive Deus, nunca pediu aos homens para darem sem esperar nada em troca. Infelizmente, é claro que esta argumentação caótica não sobrevive ao debate (havia um "debate" e eu esperei para ver) e o padre limitou-se a repetir a argumentação vezes sem conta.
(O padre era casado - com uma mulher que compreendia as leis da doação/retribuição masculina - por isso calculo que não fosse católico).
E agora esta última. Não sei porquê, mas no país das armas, as pessoas preocupam-se muito com casamentos. Muitos dos meus colegas de doutoramento são casados. E parece-me que o síndrome da mulher solteira é americano. Isto é, existe aqui uma classe de mulheres (mulheres, não homens, é a percepção) que quer casar, que não encontra o João Ratão, e para quem isto é muito problemático. Que algures entre o dating e o long-term relationship nunca encontrou "um homem que quisesse casar com ela" (sim, eu já ouvi esta expressão. Sad, but true.)
Não é só a questão de estar "sozinha", é, acima de tudo, um problema de identidade e validade enquanto ser humanos porque estas mulheres não se imaginam completas e dignas sem um casamento ou um homem a querer casar com elas.
Random thoughts...
E desculpem o meu português, que, não sei porquê, já me soa a esquisito.
Existem muitos heróis. Existem muitos psicopatas.
Ricos, muito ricos, pobres, e intocáveis.
E budistas reconvertidos enamorados com a New Age, accept you as you are, convivem com brutos matadores de bebés.
Não sei se isto será um resultado da lei dos grandes números. Afinal a América é mais um continente que um país.
E, entre tantos aviões, um tem que aterrar na água, fazendo do seu capitão um herói. Da mesma forma, cada geração tem o seu provável número de psicopatas. Num mercado de milhões, uns têm que enriquecer de uma maneira estatísticamente improvável, ao mesmo tempo que outros empobrevem.
Muitas destas improbabilidades estão na origem de grandes empreendimentos americanos. No século XIX Edison e Bell fundaram empresas que se tornariam na General Electric, onde Langmuir trabalhou e receberia o Nobel nos anos 20, e a AT&T, onde o transístor seria inventado nos anos 50 (o mesmo transístor que deu origem à indústria dos semi-condutores, Sillicon Valley, e ao PC, por onde a internet circula). A indústria automóvel americana, agora em declínio, começou com um punhado de empresas, de onde todos os outros fundadores de companhias de sucesso descenderiam.
(Uma breve nota: uma das melhores coisas em trabalhar em organização industrial em geral, e com o meu advisor em particular, é traçar as histórias de indústrias e eteceteras a alguns génios improváveis).
Por outro lado, esta cacofonia individualista pode ser explicada através dos mitos fundadores da américa. Com a boston tea party e tipos a fugir aos impostos, tentando fundar algo não supervisionado por um governo central, mas regulado pela vontade e esforço de cada um (sobretudo os mais ricos?).
Não sei, mas é interessante. Cada dia há escândalos sui-generis, com adeptos fervorosos dos dois lados. O último envolve uma miss e um juiz gay. O juiz perguntou à miss se concordava com o casamento de homossexuais, e ela disse que, desculpem, mas não senhora. Enquanto o juiz começou a colocar no blog que a miss era uma praia (em americano), liberais e conservadores muito ponderam sobre a miss, que agora está a pensar seguir uma carreira em política (no kidding). É claro que isto tem como pano de fundo a ongoing discussion sobre o casamento gay, passagem e despassagem de proposições e votações, e etcs que tais, mas é sobretudo o resultado de media histéricos com vontade de coisas grandes.
E a televisão americana é ainda melhor. Volta e meia descubro pérolas televisivas. No outro dia, entre canais, descobri um padre que protestava contra a feminização da igreja, em formato talk-show e com pessoas a aplaudir. Dizia ele que os casamentos não funcionavam porque as mulheres esperavam que os homens dessem porque sim ("o que é uma coisa feminina, porque as mulheres são dadoras natas") mas isto resultava, claro está, mal, porque os homens não dão porque sim, dão porque querem alguma coisa em troca. Inclusive Deus, nunca pediu aos homens para darem sem esperar nada em troca. Infelizmente, é claro que esta argumentação caótica não sobrevive ao debate (havia um "debate" e eu esperei para ver) e o padre limitou-se a repetir a argumentação vezes sem conta.
(O padre era casado - com uma mulher que compreendia as leis da doação/retribuição masculina - por isso calculo que não fosse católico).
E agora esta última. Não sei porquê, mas no país das armas, as pessoas preocupam-se muito com casamentos. Muitos dos meus colegas de doutoramento são casados. E parece-me que o síndrome da mulher solteira é americano. Isto é, existe aqui uma classe de mulheres (mulheres, não homens, é a percepção) que quer casar, que não encontra o João Ratão, e para quem isto é muito problemático. Que algures entre o dating e o long-term relationship nunca encontrou "um homem que quisesse casar com ela" (sim, eu já ouvi esta expressão. Sad, but true.)
Não é só a questão de estar "sozinha", é, acima de tudo, um problema de identidade e validade enquanto ser humanos porque estas mulheres não se imaginam completas e dignas sem um casamento ou um homem a querer casar com elas.
Random thoughts...
E desculpem o meu português, que, não sei porquê, já me soa a esquisito.
terça-feira, 28 de abril de 2009
The fat of the land
Ontem uma amiga do Dout. disse-me que viu uns chineses com máscara a vir para a escola. No Departamento de Engineering and Public Policy li um aviso que advertia constipados e tussidores de cuspo infectado a ficar em casa até passar a crise viral. Fizeram-me fwd de um e-mail oficial da CMU que dizia que ainda não havia casos na Pensylvannia mas que era preciso cuidado (e, já agora, informação útil, que o período de transmissão era um dia antes do infectado ficar doente e até sete dias depois).
No México morrem pessoas e os EUA os infectados continuam a crescer (agora já são cerca de 50, parece-me).
Dito isto, que a coisa parece séria, devo dizer que este clima caotico de sci-fi me irrita um bocado.
O mundo ocidental descobriu uma realidade assustadora: de repente, podemos morrer de doença, incontrolavelmente, irracionalmente, sem vacina. Nós, os inventores da ciência moderna, fomos despromovidos ao lugar que o resto do mundo ocupa. Uma criança morre de malária a cada 30 segundos (http://www.who.int/features/factfiles/malaria/en/index.html) e onde estão os seus retratos? Eles não existem. Uma multidão de bebés é menos real que a Maddie, porque a Maddie viveu numa casa como nós, era loira e adorada pelos pais. Por muitos filmes que vejamos, não conseguimos imaginar viver numa cabana, comer arroz, e ir fazer xixi ao lago. Não ter água diariamente. Não ter internet, ou facebook, ou messenger.
Uma colega minha aqui das social sciences estudou isto. A caridade e a empatia aumentam quando o espectador consegue identificar e relacionar (pelo menos emocionalmente) com a vítima. Estamos programados para pequenas calamidades, para o bebé perdido, o homem com a doença incurável, a pessoa que conhecemos ou imaginamos conhecer, mas a tragédia ilude-nos porque é abstracta e longe demais.
A não ser quando nos imaginamos como vítimas, acrescento eu (quantos oubreaks de cólera, tuberculose, maríola, não ignorámos já nós?).
Enfim, é claro que isto é um desabafo inútil (e cínico, afinal). A morte dos pobres não justifica indiferença perante a possível morte de muitos ricos, ou mesmo a morte de alguns. Mas a verdade é que a vida de ricos nos faz esquecer a morte dos pobres, todos os dias.
No México morrem pessoas e os EUA os infectados continuam a crescer (agora já são cerca de 50, parece-me).
Dito isto, que a coisa parece séria, devo dizer que este clima caotico de sci-fi me irrita um bocado.
O mundo ocidental descobriu uma realidade assustadora: de repente, podemos morrer de doença, incontrolavelmente, irracionalmente, sem vacina. Nós, os inventores da ciência moderna, fomos despromovidos ao lugar que o resto do mundo ocupa. Uma criança morre de malária a cada 30 segundos (http://www.who.int/features/factfiles/malaria/en/index.html) e onde estão os seus retratos? Eles não existem. Uma multidão de bebés é menos real que a Maddie, porque a Maddie viveu numa casa como nós, era loira e adorada pelos pais. Por muitos filmes que vejamos, não conseguimos imaginar viver numa cabana, comer arroz, e ir fazer xixi ao lago. Não ter água diariamente. Não ter internet, ou facebook, ou messenger.
Uma colega minha aqui das social sciences estudou isto. A caridade e a empatia aumentam quando o espectador consegue identificar e relacionar (pelo menos emocionalmente) com a vítima. Estamos programados para pequenas calamidades, para o bebé perdido, o homem com a doença incurável, a pessoa que conhecemos ou imaginamos conhecer, mas a tragédia ilude-nos porque é abstracta e longe demais.
A não ser quando nos imaginamos como vítimas, acrescento eu (quantos oubreaks de cólera, tuberculose, maríola, não ignorámos já nós?).
Enfim, é claro que isto é um desabafo inútil (e cínico, afinal). A morte dos pobres não justifica indiferença perante a possível morte de muitos ricos, ou mesmo a morte de alguns. Mas a verdade é que a vida de ricos nos faz esquecer a morte dos pobres, todos os dias.
sábado, 18 de abril de 2009
I want my human rights (and palm trees)
Quando se abre a porta do aeroporto em Miami, a primeira coisa que se nota é o bafo quente e húmido do exterior. O aeroporto é grande e deve ter aparecido em tantos filmes que me parece um tanto ou quanto familiar. Espero pela mini-van (uma versão de táxi partilhado, mais barato que os táxis normais) e vou para o hotel. Só vai mais uma pessoa no carro. O condutor é indiano e no lugar do morto vai uma afro-americana a falar num dialecto que não consigo entender.
A seguir são as palmeiras. Há palmeiras por todo o lado.
Miami está mesmo na pontinha dos Estados Unidos. Rodeada de mar e oceano, dentro de muralhas constituídas por hoteis nas dunas, é uma cidade de prédios altos e carros caros.
Mas se de Miami vi pouco, o mar vi todos os dias. Já estava com saudades de praia, mesmo que aqui a praia não seja o monumento natural que, em Portugal, ameaça desaparecer, mas um apêndice de hoteis cinco estrelas. O hotel, por aqui, é o monumento.
(Pequena nota: com tantos hoteis não percebi como o mar podia parecer tão limpo.)
A separação de classes é evidente. Uma maioria de clientes brancos, servida por uma maioria de empregados hispânicos ou afro-americanos.
Na cidade, ouve-se falar espanhol e inglês, e por esta ordem. Fui a um aquário com vários peixinhos, tartarugas, alligators, e uns animais parecidos com focas de que não me lembro o nome. O aquário tem o ar deprimente e antiquado dos anos 70. O show de golfinhos era parecido com aquele que vi aos 10anos do zoo, mas em versão rock. (Em parte, o aquário serve de berço para algumas criaturas que tropeçam em redes e artefactos humanos e depois são libertadas. Menos mal.)
Fui a Little Havana, onde existem lojas com o sinal "se habla inglés". As casas são pequeninas e rasteiras, e as ruas largas. Parece os subúrbios de qualquer coisa. Comi no melhor restaurante de comida cubana (segundo dizem). O estilo não é surpreendente. Parece assim chique anos-50. Comprei mamey e goiaba num mercado que parecia a praça antes das remodelações. Mamey é um fruto com caroço de pêssego, que se come como uma meloa cor de rosa.
Ouvi falar de Little Haiti, onde a polícia não entra.
E que as línguas oficiais de Miami são o inglês, espanhol e, surpreendemente, o criolo do Haiti.
Gostei da praia, mas, semanas depois do ocorrido (pele caída dos escaldões e tudo), reflicto que não gostaria muito de morar aqui. Parece quente demais, húmido demais, com carros brilhantes demais, muitos hotéis e pouca maresia.
Lembram-se do Al Pacino como Tony Montana ("Scarface")? Cubano, à entrada de Miami, "he wants his human rights" (com violência, o filme vai mostrando até que ponto isto é sarcasmo). http://www.youtube.com/watch?v=ciF2CYn36gA
A seguir são as palmeiras. Há palmeiras por todo o lado.
Miami está mesmo na pontinha dos Estados Unidos. Rodeada de mar e oceano, dentro de muralhas constituídas por hoteis nas dunas, é uma cidade de prédios altos e carros caros.
Mas se de Miami vi pouco, o mar vi todos os dias. Já estava com saudades de praia, mesmo que aqui a praia não seja o monumento natural que, em Portugal, ameaça desaparecer, mas um apêndice de hoteis cinco estrelas. O hotel, por aqui, é o monumento.
(Pequena nota: com tantos hoteis não percebi como o mar podia parecer tão limpo.)
A separação de classes é evidente. Uma maioria de clientes brancos, servida por uma maioria de empregados hispânicos ou afro-americanos.
Na cidade, ouve-se falar espanhol e inglês, e por esta ordem. Fui a um aquário com vários peixinhos, tartarugas, alligators, e uns animais parecidos com focas de que não me lembro o nome. O aquário tem o ar deprimente e antiquado dos anos 70. O show de golfinhos era parecido com aquele que vi aos 10anos do zoo, mas em versão rock. (Em parte, o aquário serve de berço para algumas criaturas que tropeçam em redes e artefactos humanos e depois são libertadas. Menos mal.)
Fui a Little Havana, onde existem lojas com o sinal "se habla inglés". As casas são pequeninas e rasteiras, e as ruas largas. Parece os subúrbios de qualquer coisa. Comi no melhor restaurante de comida cubana (segundo dizem). O estilo não é surpreendente. Parece assim chique anos-50. Comprei mamey e goiaba num mercado que parecia a praça antes das remodelações. Mamey é um fruto com caroço de pêssego, que se come como uma meloa cor de rosa.
Ouvi falar de Little Haiti, onde a polícia não entra.
E que as línguas oficiais de Miami são o inglês, espanhol e, surpreendemente, o criolo do Haiti.
Gostei da praia, mas, semanas depois do ocorrido (pele caída dos escaldões e tudo), reflicto que não gostaria muito de morar aqui. Parece quente demais, húmido demais, com carros brilhantes demais, muitos hotéis e pouca maresia.
Lembram-se do Al Pacino como Tony Montana ("Scarface")? Cubano, à entrada de Miami, "he wants his human rights" (com violência, o filme vai mostrando até que ponto isto é sarcasmo). http://www.youtube.com/watch?v=ciF2CYn36gA
segunda-feira, 30 de março de 2009
Europe in America
Uma das coisas que estar na América me fez é ver a Europa com outros olhos. Ou compreender que os americanos vêm a Europa com olhos americanos e não com olhos europeus.
Europa aqui é uma palavra que parece transpirar classe, antiguidade e socialismo.
Quando procurei um cabeleireiro no Verão dei por mim a ler anúncios na internet de "cabeleireiros estilo europeu". Ao que parece, são cabeleireiros com classe e cadeiras requintadas (infelizmente, esta Europa não deve ter chegado ao meu cabeleireiro do vale de santarém)...
Nas eleições, e no discurso político, a Europa é mais tratada como um pormenor do que como uma norma. Esqueçam a UN. A UN, desarmada, ainda é um pormenor mais pequenino (citação do David la chappelle a imitar o Bush, sobre a guerra do Iraque: "you know, UN, sanction me... sanction me with your army. Ooooh, you don't have an army! Then shut the f##k up! Shut the f##k up!"). Num dos debates presidenciais, um ouvinte perguntou se os EUA atacariam o Irão, se o Irão atacasse Israel, independentemente da UN. Parece-me que esta pergunta seria impensável no nosso país, ou mesmo na GB.
Mas afinal, talvez historicamente faça algum sentido... Precisamos da UN mais do que os USA precisam. A segunda GG devastou o nosso continente, não o continente americano. E talvez a alergia a ditaduras fascistas nos tenha inclinado mais para a esquerda do que os estados unidos.
Ou talvez seja o peso da história. Quase todos os países europeus tiveram o seu período dourado e a consequente decadência. Impregnado no nosso espírito (e escrito no meu espírito de tuga) está um certo odor a fado. Um certo desdém por esforços individuais, quando o destino é, por vezes, inescapável e ninguém sobrevive às voltas e desvoltas da história.
Os EUA têm um certo optimismo ingénuo, de quem quer e pode vencer todas as guerras porque até agora não perderam (quase) nenhuma. E, de facto, fazem-no e vão manter essa postura "nr.1 cops in search for profit" até serem esmagados por outra potência.
Vir aqui para os EUA também significou perceber que, apesar dos nossos trajes de hoje serem mais modernos, giros e pseudo, as nações lutam por sobrevivência e supremacia, quais tribos tecnológicas da Idade da Pedra. As armas é que mudaram. Antes era o fogo, agora são as bombas atómicas.
Entretanto, o povinho passa a vida a trabalhar e a perseguir objectivozinhos cujo valor ninguém consegue estimar.
Mas também não sei se vale muito a pena pensar nisto, porque no final, no final, o que conta é o amor e ser feliz. (Pelo menos é isso que dizem ao povinho...)
Europa aqui é uma palavra que parece transpirar classe, antiguidade e socialismo.
Quando procurei um cabeleireiro no Verão dei por mim a ler anúncios na internet de "cabeleireiros estilo europeu". Ao que parece, são cabeleireiros com classe e cadeiras requintadas (infelizmente, esta Europa não deve ter chegado ao meu cabeleireiro do vale de santarém)...
Nas eleições, e no discurso político, a Europa é mais tratada como um pormenor do que como uma norma. Esqueçam a UN. A UN, desarmada, ainda é um pormenor mais pequenino (citação do David la chappelle a imitar o Bush, sobre a guerra do Iraque: "you know, UN, sanction me... sanction me with your army. Ooooh, you don't have an army! Then shut the f##k up! Shut the f##k up!"). Num dos debates presidenciais, um ouvinte perguntou se os EUA atacariam o Irão, se o Irão atacasse Israel, independentemente da UN. Parece-me que esta pergunta seria impensável no nosso país, ou mesmo na GB.
Mas afinal, talvez historicamente faça algum sentido... Precisamos da UN mais do que os USA precisam. A segunda GG devastou o nosso continente, não o continente americano. E talvez a alergia a ditaduras fascistas nos tenha inclinado mais para a esquerda do que os estados unidos.
Ou talvez seja o peso da história. Quase todos os países europeus tiveram o seu período dourado e a consequente decadência. Impregnado no nosso espírito (e escrito no meu espírito de tuga) está um certo odor a fado. Um certo desdém por esforços individuais, quando o destino é, por vezes, inescapável e ninguém sobrevive às voltas e desvoltas da história.
Os EUA têm um certo optimismo ingénuo, de quem quer e pode vencer todas as guerras porque até agora não perderam (quase) nenhuma. E, de facto, fazem-no e vão manter essa postura "nr.1 cops in search for profit" até serem esmagados por outra potência.
Vir aqui para os EUA também significou perceber que, apesar dos nossos trajes de hoje serem mais modernos, giros e pseudo, as nações lutam por sobrevivência e supremacia, quais tribos tecnológicas da Idade da Pedra. As armas é que mudaram. Antes era o fogo, agora são as bombas atómicas.
Entretanto, o povinho passa a vida a trabalhar e a perseguir objectivozinhos cujo valor ninguém consegue estimar.
Mas também não sei se vale muito a pena pensar nisto, porque no final, no final, o que conta é o amor e ser feliz. (Pelo menos é isso que dizem ao povinho...)
Emigrant tales
... ou os efeitos psicológicos da distância.
No ano passado, em Novembro, ouvi dizer que um colega espanhol (um rapaz que acampou comigo no Verão) estava dolorosamente acometido de dores gravíssimas. Suspeitou-se de apendicite, pedras nos rins e outras doenças que tais. Análises clínicas não acusaram nada nem ninguém. Ele suspeitou que anos recheados de aventuras alcoolicas fossem os responsáveis por tal doença anónima... Misterioso.
Há pouco tempo, soube que, voltado a Espanha e tendo ido ao médico espanhol, ele, mais uma vez, não obteve solução para o seu problema. O médico disse-lhe que era nada. De volta aos EUA, as dores não voltaram. Não é lógico, é psicológico (perdoem o clichet), segundo a pessoa que me contou isto.
Outras histórias se conhecem de emigrantes que desenvolveram alergias e problemas de pele, sentados nas cadeiras dos seus escritórios usianos. Pode ser que o ar americano seja mais propenso a isso, quem sabe... Ou talvez a ansiedade mental possa saltar para a pele.
A distância é esquisita. Não sei bem ao que sabe. Sinto-me como se os meus pais estivessem ali ao lado, e eu fosse a casa nos fins de semanas. Quando vou a casa, demoro tempo a habituar-me ao normal que já não é normal.
E o que é ainda mais estranho, é eu sentir-me estranha, numa casa que também é minha. É o ser alienígena a este país. É o estado americano me pôr em segundo lugar. Posso pensar em ficar cá, mas nada é adquirido. Tenho que arranjar permissões para tudo, e as permissões são limitadas. E dou por mim a andar pelos grandes supermercados americanos e a dar-me conta que estou na américa, estou no estrangeiro, e que ser emigrante deve ser isto: um misto de familiaridade adquirida que se entranha e se estranha ao mesmo tempo.
No ano passado, em Novembro, ouvi dizer que um colega espanhol (um rapaz que acampou comigo no Verão) estava dolorosamente acometido de dores gravíssimas. Suspeitou-se de apendicite, pedras nos rins e outras doenças que tais. Análises clínicas não acusaram nada nem ninguém. Ele suspeitou que anos recheados de aventuras alcoolicas fossem os responsáveis por tal doença anónima... Misterioso.
Há pouco tempo, soube que, voltado a Espanha e tendo ido ao médico espanhol, ele, mais uma vez, não obteve solução para o seu problema. O médico disse-lhe que era nada. De volta aos EUA, as dores não voltaram. Não é lógico, é psicológico (perdoem o clichet), segundo a pessoa que me contou isto.
Outras histórias se conhecem de emigrantes que desenvolveram alergias e problemas de pele, sentados nas cadeiras dos seus escritórios usianos. Pode ser que o ar americano seja mais propenso a isso, quem sabe... Ou talvez a ansiedade mental possa saltar para a pele.
A distância é esquisita. Não sei bem ao que sabe. Sinto-me como se os meus pais estivessem ali ao lado, e eu fosse a casa nos fins de semanas. Quando vou a casa, demoro tempo a habituar-me ao normal que já não é normal.
E o que é ainda mais estranho, é eu sentir-me estranha, numa casa que também é minha. É o ser alienígena a este país. É o estado americano me pôr em segundo lugar. Posso pensar em ficar cá, mas nada é adquirido. Tenho que arranjar permissões para tudo, e as permissões são limitadas. E dou por mim a andar pelos grandes supermercados americanos e a dar-me conta que estou na américa, estou no estrangeiro, e que ser emigrante deve ser isto: um misto de familiaridade adquirida que se entranha e se estranha ao mesmo tempo.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Baramérica
Não sei se aí na Europa chega a onda de admiração pelos Obamas.
Aqui na América são a nova paixão do povo. Apaixonados, belos, charmosos, pais de família e líderes do "free-world" têm o mundo a seus pés.
Nas revistas do supermercado, os Obamas suplantaram tudo e todos. Coitada da Paris e da Britney. Ninguém fala já de canções e escandaleiras. Agora, o que toda a gente quer saber é o que os Obama comem e quantos beijinhos dão antes de deitar. Muito mais importante do que isso, quando é que vem o novo puppy para a Casa Branca. Simultaneamente, a Michelle está a tornar-se um novo fashion icon e apareceu na Vogue com um vestido rosa.
Por outro lado, a emulação dos líderes traz novos paradigmas para o espaço público. Antes do Obama, via zero negros a fazerem publicidade. Agora eles estão em tudo o que é champô. Yes, black is the new white.
Parte não é responsabilidade deles. Neste momento, está toda a gente excitada com política aqui pela américa. Ele é o budget, ele é a vontade do obama de fazer amigos com os republicanos, ele é fechar Guantánamo (e deportar os pobres coitados para a europa), ele é os problemas com impostos dos secretários (ministros), eu sei lá, tudo é notícia. O que o povo quer é a crise atrás das costas, e saber o que fazem os líderes nestes tempos de aflição. Mais do que isso, os Obama vendem porque, apaixonados, belos e novos, são a imagem de uma mensagem de esperança e nova vitalidade. No espaço da incerteza e da falência de bancos, toda a gente quer acreditar que tudo é possível.
Mas também nem tudo é rosas. Já vi muitos editoriais liberais surpreendidos com a liderança Obama. Um era do NYT sobre a manutenção do segredo de estado nalguns presos de Guantanamo. Muitos estão no WSJ, onde o Karl Rove escreve.
A ver no que isto dá.
Yes, we can.
Aqui na América são a nova paixão do povo. Apaixonados, belos, charmosos, pais de família e líderes do "free-world" têm o mundo a seus pés.
Nas revistas do supermercado, os Obamas suplantaram tudo e todos. Coitada da Paris e da Britney. Ninguém fala já de canções e escandaleiras. Agora, o que toda a gente quer saber é o que os Obama comem e quantos beijinhos dão antes de deitar. Muito mais importante do que isso, quando é que vem o novo puppy para a Casa Branca. Simultaneamente, a Michelle está a tornar-se um novo fashion icon e apareceu na Vogue com um vestido rosa.
Por outro lado, a emulação dos líderes traz novos paradigmas para o espaço público. Antes do Obama, via zero negros a fazerem publicidade. Agora eles estão em tudo o que é champô. Yes, black is the new white.
Parte não é responsabilidade deles. Neste momento, está toda a gente excitada com política aqui pela américa. Ele é o budget, ele é a vontade do obama de fazer amigos com os republicanos, ele é fechar Guantánamo (e deportar os pobres coitados para a europa), ele é os problemas com impostos dos secretários (ministros), eu sei lá, tudo é notícia. O que o povo quer é a crise atrás das costas, e saber o que fazem os líderes nestes tempos de aflição. Mais do que isso, os Obama vendem porque, apaixonados, belos e novos, são a imagem de uma mensagem de esperança e nova vitalidade. No espaço da incerteza e da falência de bancos, toda a gente quer acreditar que tudo é possível.
Mas também nem tudo é rosas. Já vi muitos editoriais liberais surpreendidos com a liderança Obama. Um era do NYT sobre a manutenção do segredo de estado nalguns presos de Guantanamo. Muitos estão no WSJ, onde o Karl Rove escreve.
A ver no que isto dá.
Yes, we can.
Procastination II
Adoro a CNN. A sério. Adoro a CNN.
É tipo a TVI cá do sítio, mas com muito mais horror e sangue, dado que estamos nos Estados Unidos e as armas vendem como pãezinhos quentes. Além disso, no país da eficiência, cada notícia escabrosa vem acompanhada de pequenos bullets que resumem a tragédia a um rodapé da vida diária "* Pai discutiu com mãe; *Mãe matou dois filhos; * Pai levou a família para o hospital".
A CNN tem sempre um link que nos distrai, uma pessoa a quem aconteceu uma coisa mais horrível que a nós. Que conforto.
No outro dia, vi que no meu estado um pai de família foi alvejado num cinema por fazer barulho (Acho bem, o cinema é para se estar calado). E um puto de 11 anos matou a futura madrasta que, por acaso, estava grávida. É assim, dia sim, dia não, há uns quantos maluquitos, alguns precoces que pegam na arma e matam alguém. É claro que isso faz sempre notícia.
Mas a CNN tem classe. A CNN não é só sangue. A CNN também fala de política. É claro que é preciso escolher as notícias. Ontem, por exemplo, havia uma muito boa sobre a Michelle Obama. A nova Primeira Dama é a mais cool de sempre, um fashion icon, uma role model, a Mãe primordial, eu sei lá. E agora a nova moda é andar de braços destapados no Inverno como a Primeira Dama, porque ela escolhe uns vestidinhos sem mangas todos giros para o Congresso.
As notícias também apanham os desgraçadinhos de sempre. Agora, por causa da crise, há sempre um link para um coitado que perdeu tudo "De Beverly Hills para a quinta a apanhar esterco"; "De 100 mil por ano a engraxar sapatos". Giro. Hoje havia uma notícia sobre um pai desesperado, antigo cidadão modelo, que tentou assaltar um banco. Surpresa, surpresa, foi apanhado.
Mas é claro que se não tivesse que trabalhar não lia a CNN.
É tipo a TVI cá do sítio, mas com muito mais horror e sangue, dado que estamos nos Estados Unidos e as armas vendem como pãezinhos quentes. Além disso, no país da eficiência, cada notícia escabrosa vem acompanhada de pequenos bullets que resumem a tragédia a um rodapé da vida diária "* Pai discutiu com mãe; *Mãe matou dois filhos; * Pai levou a família para o hospital".
A CNN tem sempre um link que nos distrai, uma pessoa a quem aconteceu uma coisa mais horrível que a nós. Que conforto.
No outro dia, vi que no meu estado um pai de família foi alvejado num cinema por fazer barulho (Acho bem, o cinema é para se estar calado). E um puto de 11 anos matou a futura madrasta que, por acaso, estava grávida. É assim, dia sim, dia não, há uns quantos maluquitos, alguns precoces que pegam na arma e matam alguém. É claro que isso faz sempre notícia.
Mas a CNN tem classe. A CNN não é só sangue. A CNN também fala de política. É claro que é preciso escolher as notícias. Ontem, por exemplo, havia uma muito boa sobre a Michelle Obama. A nova Primeira Dama é a mais cool de sempre, um fashion icon, uma role model, a Mãe primordial, eu sei lá. E agora a nova moda é andar de braços destapados no Inverno como a Primeira Dama, porque ela escolhe uns vestidinhos sem mangas todos giros para o Congresso.
As notícias também apanham os desgraçadinhos de sempre. Agora, por causa da crise, há sempre um link para um coitado que perdeu tudo "De Beverly Hills para a quinta a apanhar esterco"; "De 100 mil por ano a engraxar sapatos". Giro. Hoje havia uma notícia sobre um pai desesperado, antigo cidadão modelo, que tentou assaltar um banco. Surpresa, surpresa, foi apanhado.
Mas é claro que se não tivesse que trabalhar não lia a CNN.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Go, Steelers, go!
Lembram-se da polémica sobre o mamilo da Janet Jackson a aparecer na televisão, há uns anos atrás? Pois bem, esse mamilo apareceu no intervalo de um dos clímaxes anuais da televisão americana: a Super Bowl.
A SuperBowl é nada mais, nada menos, que uma SuperTaça - o jogo que decide quem é a melhor, melhoríssima e mais bestial equipa de futebol americano dos EUA, mundo e arredores.
A minha cidade, Pittsburgh, é mãe dos Steelers, uma das melhores equipas de football dos States. Calculo que o nome tenha a ver com Steel (esta é a cidade de Andrew Carnegie, after all). Em todo o caso, os tipos são bons.
Foram tão bons que chegaram à final, disputada no Domingo passado. Pelo meio, deixaram a cidade de alvoroço e obrigaram-me a aprender as regras de futebol americano. (É difícil, meus amigos, é difícil.)
Há duas semanas que a cidade sabia que podia ganhar a SuperTaça. Na minha universidade (ainda) há logos dos Steelers um pouco por toda a parte e os autocarros, além do destino habitual, diziam, até ao Domingo passado, "Go, Steelers, Go!". Sendo o jogo num Domingo, na 2ª as escolas públicas abriram 2h mais tarde, para dar tempo para festejar.
É claro que fui ver o jogo para um bar, equipada com a minha Terrible Towel. A Terrible Towel é um pedaço oficial de pano amarelo que diz Terrible Towel (sim, isso mesmo). É um objecto tradicional de apoio e de claque. Quando acontece alguma coisa boa, a Steeler Nation agita a Terrible Towel (a minha era special edition, ainda por cima).
Pois bem, comecei assim meio desapaixonada a ver um jogo muito competitivo. Acabei aos urros a puxar pelos Pittsburghianos. Sim, soltei a Steeler que há em mim.
Resultou. Os Steelers ganharam.
Mas a SuperBowl é muito mais do que um jogo. A SuperBowl é a quintessência do espetáculo americano, dos anúncios ao show do intervalo, passando pelo jogo. Com milhões a assistirem, cada pedaço de 30'' de anúncios custou milhões de dólares. Os anúncios em si constitutem o clímax da arte de publicitar e são quase tão badalados como o jogo em si. (Verdade. Um dia depois do jogo a CNN tinha tantos links para o jogo como links para os melhores e piores anúncios). Fazer xixi, só depois do jogo, portanto.
Outro pormenor é o show do intervalo. Desta vez foi o Boss a agitar as massas. Pior que os anúncios.
Entretanto, depois do jogo, foi tempo para brincar às buzinas e para soltar o hooligan que há em todos nós. Em Oakland, a parte da cidade dominada por estudantes universitários (undergrads), a alegria era muita e esfuziava de várias maneiras. Havia muita gente contente aos abraços, a assistir a uns quantos que partiam montras ou faziam fogueiras com material avulso como barreiras da polícia e arbustos públicos. Uma paragem de autocarro foi destruída e um carro virado. Quatro helicópteros (alguns de televisão) observavam a multidão do alto e havia polícias a cavalo e de carro.
Não gostei. Não me senti segura ou feliz. O chão escorregava e as pessoas eram brutas. Não havia música como vi em Lisboa durante o Euro mas sim foguetes lançados para o ar. Cheirava a álcool e a plástico queimado, a histeria sem razão. (E só me lembrei que nestas terras qualquer um traz uma pistola para um sítio destes e começa a disparar. Sad, but true.)
Depois, fui para casa dormir.
A SuperBowl é nada mais, nada menos, que uma SuperTaça - o jogo que decide quem é a melhor, melhoríssima e mais bestial equipa de futebol americano dos EUA, mundo e arredores.
A minha cidade, Pittsburgh, é mãe dos Steelers, uma das melhores equipas de football dos States. Calculo que o nome tenha a ver com Steel (esta é a cidade de Andrew Carnegie, after all). Em todo o caso, os tipos são bons.
Foram tão bons que chegaram à final, disputada no Domingo passado. Pelo meio, deixaram a cidade de alvoroço e obrigaram-me a aprender as regras de futebol americano. (É difícil, meus amigos, é difícil.)
Há duas semanas que a cidade sabia que podia ganhar a SuperTaça. Na minha universidade (ainda) há logos dos Steelers um pouco por toda a parte e os autocarros, além do destino habitual, diziam, até ao Domingo passado, "Go, Steelers, Go!". Sendo o jogo num Domingo, na 2ª as escolas públicas abriram 2h mais tarde, para dar tempo para festejar.
É claro que fui ver o jogo para um bar, equipada com a minha Terrible Towel. A Terrible Towel é um pedaço oficial de pano amarelo que diz Terrible Towel (sim, isso mesmo). É um objecto tradicional de apoio e de claque. Quando acontece alguma coisa boa, a Steeler Nation agita a Terrible Towel (a minha era special edition, ainda por cima).
Pois bem, comecei assim meio desapaixonada a ver um jogo muito competitivo. Acabei aos urros a puxar pelos Pittsburghianos. Sim, soltei a Steeler que há em mim.
Resultou. Os Steelers ganharam.
Mas a SuperBowl é muito mais do que um jogo. A SuperBowl é a quintessência do espetáculo americano, dos anúncios ao show do intervalo, passando pelo jogo. Com milhões a assistirem, cada pedaço de 30'' de anúncios custou milhões de dólares. Os anúncios em si constitutem o clímax da arte de publicitar e são quase tão badalados como o jogo em si. (Verdade. Um dia depois do jogo a CNN tinha tantos links para o jogo como links para os melhores e piores anúncios). Fazer xixi, só depois do jogo, portanto.
Outro pormenor é o show do intervalo. Desta vez foi o Boss a agitar as massas. Pior que os anúncios.
Entretanto, depois do jogo, foi tempo para brincar às buzinas e para soltar o hooligan que há em todos nós. Em Oakland, a parte da cidade dominada por estudantes universitários (undergrads), a alegria era muita e esfuziava de várias maneiras. Havia muita gente contente aos abraços, a assistir a uns quantos que partiam montras ou faziam fogueiras com material avulso como barreiras da polícia e arbustos públicos. Uma paragem de autocarro foi destruída e um carro virado. Quatro helicópteros (alguns de televisão) observavam a multidão do alto e havia polícias a cavalo e de carro.
Não gostei. Não me senti segura ou feliz. O chão escorregava e as pessoas eram brutas. Não havia música como vi em Lisboa durante o Euro mas sim foguetes lançados para o ar. Cheirava a álcool e a plástico queimado, a histeria sem razão. (E só me lembrei que nestas terras qualquer um traz uma pistola para um sítio destes e começa a disparar. Sad, but true.)
Depois, fui para casa dormir.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
My name is Winter, Cold Winter.
Amigos, por aqui faz frio. Muito frio.
Estão cerca de -15º Celsius, e com os factores de ajustamento devido ao vento, os peritos metereológicos dizem que isso equivale a -25ºC. Duas dezenas atrás do Zero. Epá. É muito. É demais.
Este frio infiltra-se no corpo e no espírito. A cara arde quando se anda na rua. O nariz doi. Mesmo com luvas, os dedos parece que se vão partir. As pontas ficam queimadas e doem no dia seguinte.
A percepção do tempo agudiza-se. Pequenos momentos parecem tormentos intermináveis e noutros pequenos instantes é o paraíso que desceu à terra.
Encontrar a chave de casa e abrir a porta do prédio é um pequeno e diário tormento de Tântalo. À beira do paraíso, o frio parece mais frio.
Entrar em casa e sentir o calor a entrar no corpo é um precioso milagre da civilização moderna.
Qualquer minuto na rua é um minuto a mais.
Como compreendo agora a tradicional reserva sueca, norueguesa e finlandesa. Quando está muito frio, só muito poucas e muito boas razões nos fazem sair de casa. Não é qualquer meio-conhecido que nos arrasta para o Bairro. Com tanto frio, só a certeza do reencontro com bons e velhos amigos nos faz suportar a geada. E abraços e outros gestos de afeição tornam-se mais difícieis por cima de várias camadas de roupa. Além de difíceis, são desconfortáveis, porque esticar o corpo com abraços e deixar a pele a descoberto é um convite ao arrepio.
A casa tem outro significado. Solidão aconchegada é o que sabe melhor quando faz frio.
Nunca pensei pensar assim. No Verão, às vezes tinha conversas com os meus amigos pittsburghianos sobre o Inverno. O que se fazia, o quê, como e onde. Espantados, diziam-me "Está frio! A única coisa que apetece é ficar em casa.". Pensei que toda a gente fosse assim menos eu.
Enganei-me.
A única coisa bonita é a neve. Ainda não me cansei. Por aqui neva muito, e de várias maneiras. Às vezes neva chuva congelada e percebe-se que os flocos são pesados. Outras vezes neva suavemente, e cristais brancos invadem as ruas e tornam o ambiente mais natalíceo e mágico. Depois de pairarem no ar, param no pelo das luvas e consegue-se perceber a sua preciosa estrutura de pequenas estrelas. Outras vezes nevam flocos grandes e leves, torrencialmente. Tapam tudo de branco. Vêm-me à memória as Páscoas que passava com os meus pais na Serra da Estrela e sinto-me bem e em casa.
É assim que está a ser o meu primeiro Inverno americano. Branco, e difícil.
Estão cerca de -15º Celsius, e com os factores de ajustamento devido ao vento, os peritos metereológicos dizem que isso equivale a -25ºC. Duas dezenas atrás do Zero. Epá. É muito. É demais.
Este frio infiltra-se no corpo e no espírito. A cara arde quando se anda na rua. O nariz doi. Mesmo com luvas, os dedos parece que se vão partir. As pontas ficam queimadas e doem no dia seguinte.
A percepção do tempo agudiza-se. Pequenos momentos parecem tormentos intermináveis e noutros pequenos instantes é o paraíso que desceu à terra.
Encontrar a chave de casa e abrir a porta do prédio é um pequeno e diário tormento de Tântalo. À beira do paraíso, o frio parece mais frio.
Entrar em casa e sentir o calor a entrar no corpo é um precioso milagre da civilização moderna.
Qualquer minuto na rua é um minuto a mais.
Como compreendo agora a tradicional reserva sueca, norueguesa e finlandesa. Quando está muito frio, só muito poucas e muito boas razões nos fazem sair de casa. Não é qualquer meio-conhecido que nos arrasta para o Bairro. Com tanto frio, só a certeza do reencontro com bons e velhos amigos nos faz suportar a geada. E abraços e outros gestos de afeição tornam-se mais difícieis por cima de várias camadas de roupa. Além de difíceis, são desconfortáveis, porque esticar o corpo com abraços e deixar a pele a descoberto é um convite ao arrepio.
A casa tem outro significado. Solidão aconchegada é o que sabe melhor quando faz frio.
Nunca pensei pensar assim. No Verão, às vezes tinha conversas com os meus amigos pittsburghianos sobre o Inverno. O que se fazia, o quê, como e onde. Espantados, diziam-me "Está frio! A única coisa que apetece é ficar em casa.". Pensei que toda a gente fosse assim menos eu.
Enganei-me.
A única coisa bonita é a neve. Ainda não me cansei. Por aqui neva muito, e de várias maneiras. Às vezes neva chuva congelada e percebe-se que os flocos são pesados. Outras vezes neva suavemente, e cristais brancos invadem as ruas e tornam o ambiente mais natalíceo e mágico. Depois de pairarem no ar, param no pelo das luvas e consegue-se perceber a sua preciosa estrutura de pequenas estrelas. Outras vezes nevam flocos grandes e leves, torrencialmente. Tapam tudo de branco. Vêm-me à memória as Páscoas que passava com os meus pais na Serra da Estrela e sinto-me bem e em casa.
É assim que está a ser o meu primeiro Inverno americano. Branco, e difícil.
domingo, 11 de janeiro de 2009
Qualifiers and ski
Na semana passada tive que fazer, como qualquer aluno num doutoramento americano, os qualifiers. Os qualifiers qualificam o aspirante a doutor a permanecer no doutoramento. Para mim, consistiram em 1 exame por dia numa semana (tirando um dia de intervalo), testando os meus conhecimentos das matérias (todas) que aprendi durante um ano e meio. No seu melhor, foram feitos de perguntas inteligentes e justas que até é interessante responder. No seu pior, tinham rasteiras mazinhas e mesquinhas que me tiraram a concentração, de tal forma me senti injustiçada pela pergunta.
Em todo o caso, os qualifiers rodeiam-se sempre de angústia e nervosismo. É difícil não pensar nas consequências destes exames. Ao contrário de outros testes, nos qualifiers não se tem nota. Ou passas ou chumbas, e se chumbares tudo o que fizeste no doutoramento é irrelevante. Vais para casa e arranjas um trabalho. Morreste na praia. Adeus e não há próxima.
É claro que exagero. Isto é só o que se pensa no início dos exames. A sequência de exames é tal que, mais ou menos a meio da semana, é difícil manter a lucidez. O estado de espírito passa de um nervosismo produtivo a um "Fuck it" doentio. A cada dia que passa é mais difícil estudar.
Enfim, depois desta semana tive a boa ideia de ir esquiar para celebrar. Boa ideia porque percebi que há uma coisa ainda pior que os qualifiers: andar de ski. Mil vezes outra semana de exames do que descer uma colina de skis. Mil vezes.
Só andar com as botas de ski é um pesadelo. São como armaduras de gesso que não deixam a perna mover bem. Botas de ski e skis, pior um bocadinho. Mas o pior, pior é mesmo botas de ski em skis em cima da neve. Não percebo.
O meu jeito típico para desportos veio mais uma vez ao de cima. A minha coordenação motora, exímia em cima de terra firme, mais exímia ficou em cima de gelo escorregadio. Em três incursões na neve, consegui chocar: i) contra o meu namorado; ii) contra uma fila de pessoas; iii) contra o meu namorado outra vez.
Fiquei exasperada. Comecei a antagonizar a neve. Nervosa, ansiava por terra firme. Ainda pensei, à Obi Wan, "Tu e a neve são um, insere-te no movimento". Qual quê. A neve era uma, eu outra, e via-se quem era mais inteligente. A neve ria-se às gargalhadas enquanto eu andava atormentada com visões de skis a enfiarem-se por tudo quanto é orgão sensível, com joelhos e pernas torcidas.
A boa notícia é que comprei umas luvas hiper-super-cromas. E que se tiver que fazer qualifiers outra vez, pensarei: "pelo menos não é ski".
Em todo o caso, os qualifiers rodeiam-se sempre de angústia e nervosismo. É difícil não pensar nas consequências destes exames. Ao contrário de outros testes, nos qualifiers não se tem nota. Ou passas ou chumbas, e se chumbares tudo o que fizeste no doutoramento é irrelevante. Vais para casa e arranjas um trabalho. Morreste na praia. Adeus e não há próxima.
É claro que exagero. Isto é só o que se pensa no início dos exames. A sequência de exames é tal que, mais ou menos a meio da semana, é difícil manter a lucidez. O estado de espírito passa de um nervosismo produtivo a um "Fuck it" doentio. A cada dia que passa é mais difícil estudar.
Enfim, depois desta semana tive a boa ideia de ir esquiar para celebrar. Boa ideia porque percebi que há uma coisa ainda pior que os qualifiers: andar de ski. Mil vezes outra semana de exames do que descer uma colina de skis. Mil vezes.
Só andar com as botas de ski é um pesadelo. São como armaduras de gesso que não deixam a perna mover bem. Botas de ski e skis, pior um bocadinho. Mas o pior, pior é mesmo botas de ski em skis em cima da neve. Não percebo.
O meu jeito típico para desportos veio mais uma vez ao de cima. A minha coordenação motora, exímia em cima de terra firme, mais exímia ficou em cima de gelo escorregadio. Em três incursões na neve, consegui chocar: i) contra o meu namorado; ii) contra uma fila de pessoas; iii) contra o meu namorado outra vez.
Fiquei exasperada. Comecei a antagonizar a neve. Nervosa, ansiava por terra firme. Ainda pensei, à Obi Wan, "Tu e a neve são um, insere-te no movimento". Qual quê. A neve era uma, eu outra, e via-se quem era mais inteligente. A neve ria-se às gargalhadas enquanto eu andava atormentada com visões de skis a enfiarem-se por tudo quanto é orgão sensível, com joelhos e pernas torcidas.
A boa notícia é que comprei umas luvas hiper-super-cromas. E que se tiver que fazer qualifiers outra vez, pensarei: "pelo menos não é ski".
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
American spirit
Posso resmungar porque a comida é esquisita, suspirar de saudades porque poucas pessoas aqui fazem parte da minha família, posso ansiar por ar a saber a maresia, mas a verdade é que gosto mesmo de estar aqui.
Das coisas que é mais fascinante na América, sobretudo para uma portuguesa habituada a burocracias lusas, é a eficiência americana.
Isso não quer dizer que não sejam feitos erros. Mas quer dizer que as instituições transpiram um ar de competência que ampara o recém-chegado. Não se perde tempo à procura de gabinetes, as pessoas saudam-nos de chaves nas mãos.
Tive um recente exemplo disso ainda hoje. A FCT atrasou-se a fazer o pagamento da propina. Quando pagaram já as multas iam altas. No meu departamento trataram de tratar das multas. Fiz então uma transferência em Dezembro que ainda não chegou (porque, descobri hoje, houve um engano com o meu nome). Isto é mais tarde que tarde, para prazos americanos. Comecei a receber e-mails do meu departamento por causa da transferência de que não havia notícia (só na minha conta, onde tinha sido debitada).
Tive pesadelos. Na minha cabeça toda a gente sussurrava sobre o meu incumprimento mentiroso. O meu orientador perguntava-me "show me the money" com ar severo.
Hoje, tudo se resolveu ao mesmo tempo. Vou ao serviço de pagamento da minha universidade onde, após confronto com o recibo da transferência, se apercebem que fizeram um erro na atribuição do nome. Com algum pesar, dizem-me que vão fazer o tudo por tudo para ter tudo pronto amanhã, mas que, se calhar, só para a semana me posso registar. O próprio senhor que me atende diz que vai tratar do meu problema. Acredito. Sem saber disto, no meu departamento, as secretárias tinham tratado de meter uma bolsa para mim, para eu me poder registar. Hoje, com orgulho, disseram-me que tinham tratado do meu problema (sem eu lhes pedir).
Tinha confundido preocupação com castigo. A minha alma tuga tinha interpretado os e-mails como perseguição. Não. Elas podiam não estar preocupadas comigo, mas cada um aqui está fundamentalmente preocupado em fazer o seu trabalho. É, de facto, algo que senti quando cheguei aqui.
Existe um optimismo no ar. A senhora que encomenda os tinteiros da impressora está profundamente ciente da importância do seu trabalho. Que é fundamental para o resto do departamento funcionar. Toda a gente se trata por tu. Quando um problema existe, é atacado por todos. Os prazos para acabar qualquer coisa são dias, e dois dias é muito. Cada um se orgulha de fazer o seu trabalho o melhor possível. E do meu orientador (a estrela do departamento) para baixo toda a gente se justifica quando isso não acontece.
A secretária que meteu uma bolsa para mim estava de facto contente com o ter-me ajudado. Nunca suspeitou da minha palavra ou honestidade. E, no fundo, ficou orgulhosa de ter resolvido um problema que também era o dela.
Isto tudo contrasta com aquilo que conheci no técnico, enquanto aluna e trabalhadora. Quando existe um problema, ou encontras um simpático que o resolve ou são semanas (indeterminadas) até o assunto se encerrar. Os senhores da secretaria são antipáticos. Um problema é sempre de ninguém.
Aqui o sistema de recompensas é diferente.
Mas não é só isso. Parece-me que a relação dos americanos com o fracasso é fundamentalmente diferente da conturbada relação lusa. Quando existe um problema, ele aponta vergonhosamente para a nossa culpa de incompetentes. Envergonhados, ocultamos o problema e fazemos de conta que não é nosso. Algo que não funciona diz-nos que somos maus e feios. O problema é nosso.
Os americanos não se identificam com o fracasso. O paradigma americano é outro. Na terra cornucopiamente rica da América, existe suficiente de tudo para todos. Como tal, existe uma crença fundamental na meritocracia e competição. No seu melhor, isso diz que cada um é capaz de qualquer coisa porque existe suficiente para todos. O fracasso é natural para aqueles que tentam. E isso é bom. Quando se falha também se aprende. Os americanos identificam-se com a capacidade de solucionar.
Isto é patente nestas pequenas coisas (cada um, do senhor da secretaria às secretárias do meu departamento, se responsabilizam por resolver o meu caso particular) e noutras coisas mais gerais também.
Como sabem, estudo empreendedores. E uma das coisas que se verifica é que o estigma do fracasso varia com o país do Looser. Portugal é dos países onde o estigma é mais exacerbado. A América é o contrário.
E eu noto que reajo de maneira diferente dos meus colegas americanos. Numa leitura sobre diferenças culturais aquando da integração de uma empresa america com outra alemã referia-se que os alemães tiveram que adoptar a prática america de declarar experiências falhadas. E que isso foi feito com muito desconforto. Eu, lusa com super-ego católico, compreendi muito bem os alemães, coitados. Mas, na aula, uma colega americana referiu o contrário "o quão estúpido que é não declarar os falhanços! Como é que alguém pode não deixar de o fazer".
É claro que também existem os mal-educadinhos. Mas em menor quantidade. Aqui, reza o mito, ser bom naquilo que se faz é ser tudo.
Das coisas que é mais fascinante na América, sobretudo para uma portuguesa habituada a burocracias lusas, é a eficiência americana.
Isso não quer dizer que não sejam feitos erros. Mas quer dizer que as instituições transpiram um ar de competência que ampara o recém-chegado. Não se perde tempo à procura de gabinetes, as pessoas saudam-nos de chaves nas mãos.
Tive um recente exemplo disso ainda hoje. A FCT atrasou-se a fazer o pagamento da propina. Quando pagaram já as multas iam altas. No meu departamento trataram de tratar das multas. Fiz então uma transferência em Dezembro que ainda não chegou (porque, descobri hoje, houve um engano com o meu nome). Isto é mais tarde que tarde, para prazos americanos. Comecei a receber e-mails do meu departamento por causa da transferência de que não havia notícia (só na minha conta, onde tinha sido debitada).
Tive pesadelos. Na minha cabeça toda a gente sussurrava sobre o meu incumprimento mentiroso. O meu orientador perguntava-me "show me the money" com ar severo.
Hoje, tudo se resolveu ao mesmo tempo. Vou ao serviço de pagamento da minha universidade onde, após confronto com o recibo da transferência, se apercebem que fizeram um erro na atribuição do nome. Com algum pesar, dizem-me que vão fazer o tudo por tudo para ter tudo pronto amanhã, mas que, se calhar, só para a semana me posso registar. O próprio senhor que me atende diz que vai tratar do meu problema. Acredito. Sem saber disto, no meu departamento, as secretárias tinham tratado de meter uma bolsa para mim, para eu me poder registar. Hoje, com orgulho, disseram-me que tinham tratado do meu problema (sem eu lhes pedir).
Tinha confundido preocupação com castigo. A minha alma tuga tinha interpretado os e-mails como perseguição. Não. Elas podiam não estar preocupadas comigo, mas cada um aqui está fundamentalmente preocupado em fazer o seu trabalho. É, de facto, algo que senti quando cheguei aqui.
Existe um optimismo no ar. A senhora que encomenda os tinteiros da impressora está profundamente ciente da importância do seu trabalho. Que é fundamental para o resto do departamento funcionar. Toda a gente se trata por tu. Quando um problema existe, é atacado por todos. Os prazos para acabar qualquer coisa são dias, e dois dias é muito. Cada um se orgulha de fazer o seu trabalho o melhor possível. E do meu orientador (a estrela do departamento) para baixo toda a gente se justifica quando isso não acontece.
A secretária que meteu uma bolsa para mim estava de facto contente com o ter-me ajudado. Nunca suspeitou da minha palavra ou honestidade. E, no fundo, ficou orgulhosa de ter resolvido um problema que também era o dela.
Isto tudo contrasta com aquilo que conheci no técnico, enquanto aluna e trabalhadora. Quando existe um problema, ou encontras um simpático que o resolve ou são semanas (indeterminadas) até o assunto se encerrar. Os senhores da secretaria são antipáticos. Um problema é sempre de ninguém.
Aqui o sistema de recompensas é diferente.
Mas não é só isso. Parece-me que a relação dos americanos com o fracasso é fundamentalmente diferente da conturbada relação lusa. Quando existe um problema, ele aponta vergonhosamente para a nossa culpa de incompetentes. Envergonhados, ocultamos o problema e fazemos de conta que não é nosso. Algo que não funciona diz-nos que somos maus e feios. O problema é nosso.
Os americanos não se identificam com o fracasso. O paradigma americano é outro. Na terra cornucopiamente rica da América, existe suficiente de tudo para todos. Como tal, existe uma crença fundamental na meritocracia e competição. No seu melhor, isso diz que cada um é capaz de qualquer coisa porque existe suficiente para todos. O fracasso é natural para aqueles que tentam. E isso é bom. Quando se falha também se aprende. Os americanos identificam-se com a capacidade de solucionar.
Isto é patente nestas pequenas coisas (cada um, do senhor da secretaria às secretárias do meu departamento, se responsabilizam por resolver o meu caso particular) e noutras coisas mais gerais também.
Como sabem, estudo empreendedores. E uma das coisas que se verifica é que o estigma do fracasso varia com o país do Looser. Portugal é dos países onde o estigma é mais exacerbado. A América é o contrário.
E eu noto que reajo de maneira diferente dos meus colegas americanos. Numa leitura sobre diferenças culturais aquando da integração de uma empresa america com outra alemã referia-se que os alemães tiveram que adoptar a prática america de declarar experiências falhadas. E que isso foi feito com muito desconforto. Eu, lusa com super-ego católico, compreendi muito bem os alemães, coitados. Mas, na aula, uma colega americana referiu o contrário "o quão estúpido que é não declarar os falhanços! Como é que alguém pode não deixar de o fazer".
É claro que também existem os mal-educadinhos. Mas em menor quantidade. Aqui, reza o mito, ser bom naquilo que se faz é ser tudo.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
2009
Adiar paga-se caro.
Não que não tenha gostado de passar a passagem de ano num táxi, a caminho de casa, com o Jossan, jordanês emigrado nos states, é só que... hum, podia ter sido algo mais.
O meu companheiro de viagem estava farto dos alegres clientes que pediam boleia na downtown de pittsburgh e por isso resolveu vir pescar pessoas no aeroporto.
Apanhou-me a mim.
Depois de um voo de 15 horas, que implicou (tentar) estar acordada durante cerca de um dia e 3 conecções de aviões, formei a seguinte resolução de Ano Novo: marcar viagens de avião com dois meses de antecedência. No mínimo.
Fui de Lisboa para Nova Yorque, e de NYC para Houston para ir para Pittsburgh. Que é como quem diz, vim de Nova Yorque para o Porto, para ir para Copenhaga para voltar a Lisboa. É a vida dos atrasados despachadinhos.
O primeiro avião foi fácil.
O segundo avião foi agonizantemente lento.
No terceiro avião acordei estremunhada sem saber se ia ou voltava de Lisboa.
E depois cheguei e tive que carregar a mala.
Que era pequenina mas gordinha, tinha comido todos os livros possíveis. Com a pressa e a angústia de perder os aviões nas escalas, fiz uma mala maneirinha que não tinha que ir para o porão. Não era preciso. Ao passar pela imigração vazia de Nova Yorque pensei "Bolas, tanta rapidez, bem que podia ter trazido o bacalhau". Fica para a próxima.
E o vosso ano novo, como foi?
Não que não tenha gostado de passar a passagem de ano num táxi, a caminho de casa, com o Jossan, jordanês emigrado nos states, é só que... hum, podia ter sido algo mais.
O meu companheiro de viagem estava farto dos alegres clientes que pediam boleia na downtown de pittsburgh e por isso resolveu vir pescar pessoas no aeroporto.
Apanhou-me a mim.
Depois de um voo de 15 horas, que implicou (tentar) estar acordada durante cerca de um dia e 3 conecções de aviões, formei a seguinte resolução de Ano Novo: marcar viagens de avião com dois meses de antecedência. No mínimo.
Fui de Lisboa para Nova Yorque, e de NYC para Houston para ir para Pittsburgh. Que é como quem diz, vim de Nova Yorque para o Porto, para ir para Copenhaga para voltar a Lisboa. É a vida dos atrasados despachadinhos.
O primeiro avião foi fácil.
O segundo avião foi agonizantemente lento.
No terceiro avião acordei estremunhada sem saber se ia ou voltava de Lisboa.
E depois cheguei e tive que carregar a mala.
Que era pequenina mas gordinha, tinha comido todos os livros possíveis. Com a pressa e a angústia de perder os aviões nas escalas, fiz uma mala maneirinha que não tinha que ir para o porão. Não era preciso. Ao passar pela imigração vazia de Nova Yorque pensei "Bolas, tanta rapidez, bem que podia ter trazido o bacalhau". Fica para a próxima.
E o vosso ano novo, como foi?
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